Texto 3 - Reformas religiosas - Contextualização Histórica por Prof. Gilberto Salomão

Causas e contexto histórico

Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação - UOL educação
Reprodução
O filósofo humanista Erasmo de Roterdã fez severas críticas ao comportamento da Igreja
O século 16 teve como uma de suas manifestações mais profundas o processo de reformas religiosas, responsável por quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa e pelo advento de uma série de novas religiões que, embora cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder imposto por Roma, as chamadas religiões protestantes. 


Mais do que apenas um movimento religioso, as reformas protestantes inseriram-se no contexto mais amplo que marcou a Europa a partir da Baixa Idade Média, expressando a superação da estrutura feudal tanto em termos da fé como também em seus aspectos sociais e políticos.



Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas como um processo que se iniciou no século 16. Ao contrário, elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha se manifestando na Europa desde o início da Baixa Idade Média, fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo declínio do mundo feudal, pelo crescimento do comércio e da vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos reis e pelo advento de uma nova camada social, a burguesia. 



Também não se pode deixar de lado a influência do Renascimento Cultural, no sentido de romper com o monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O Renascimento teve o efeito de possibilitar a aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles impostos pela Igreja Católica, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja exercia na Idade Média. 



Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são filhas do Renascimento, e representaram, como este, uma adequação de valores e de concepções espirituais às transformações pelas quais a Europa passava - nos campos econômico, social e cultural.


Humanismo e desvirtuamento da Igreja


As contestações ao poder e aos dogmas da Igreja não eram um fenômeno desconhecido na Europa do século 16. O próprio crescimento do pensamento humanista, absorvido pela Igreja através das universidades, e uma nova visão teológica, representada pelo tomismo, podem ser vistos como uma abertura da Igreja ao racionalismo e a uma visão de mundo mais humanística, se comparada ao forte teocentrismo que prevalecera até ali. As universidades foram canais por onde pôde penetrar a influência do pensamento racional, ao mesmo tempo em que o tomismo fundia a fé com elementos do racionalismo greco-romano.



Ao mesmo tempo, há que se levar em conta o desvirtuamento da Igreja e sua incapacidade de dar resposta aos anseios espirituais dos fiéis. Essa questão tem origem no papel que a Igreja passou a ocupar a partir da Idade Média. O fato de ser ela a principal possuidora de terras na Europa, bem como a instituição mais poderosa politicamente, colocava-a ao lado da nobreza como uma instituição beneficiária da estrutura feudal e, também, responsável por sua manutenção. 



Na verdade, o vínculo orgânico entre a Igreja e a nobreza criava, necessariamente, distorções. A tendência é que as nomeações para cargos na alta hierarquia da Igreja (o termo correto para essas nomeações é investidura) obedecessem a critérios que passavam muito longe da vocação ou formação religiosa do postulante. Essas investiduras eram feitas levando-se em consideração o grau de riqueza, de poder e as benesses que a aliança com esta ou aquela família pudesse trazer para a Igreja.



A prática das chamadas investiduras leigas acabou acarretando graves problemas para a Igreja medieval. Em primeiro lugar, os problemas políticos, decorrentes da constante disputa com os poderes temporais para a ocupação de cargos e terras. 



Mais grave que isso, entretanto, foi o fato de gerar um clero inadequado às suas funções religiosas, incapaz de dar resposta às necessidades espirituais dos fiéis. O desregramento do clero evidenciava-se numa atitude conhecida usualmente como nicolaísmo, termo usado para designar o desregramento que passara a marcar o comportamento do clero.



Mais que isso, a constante busca por um aumento da renda que sustentava o imenso luxo em que vivia o clero, levou a Igreja a intensificar, durante a Idade Média, práticas como a venda de relíquias sagradas ou de cargos eclesiásticos (práticas conhecidas como simonia) e a venda de indulgências (absolvição dos pecados cometidos).



Assim, cresciam manifestações intelectuais de críticas ao comportamento da Igreja. Nomes como Erasmo de Roterdã ou Thomas Morus propunham uma reforma interna da Igreja, com um retorno à pureza original do cristianismo. Por trás dessas propostas havia, por certo, uma crítica ao excessivo apego da Igreja aos bens materiais e ao poder.


Nacionalismo, heresias e política


Tais críticas já haviam atingido níveis mais preocupantes para Roma desde o final do século 14. Na Inglaterra, John Wycliff pregava o confisco dos bens da Igreja, o voto de pobreza por parte dos membros do clero e uma retomada das Sagradas Escrituras como única fonte da fé. 



No reino da Boêmia, então pertencente ao Sacro Império, John Huss, tendo por base as idéias de Wycliff, viu suas pregações constituírem-se na base do sentimento nacionalista da região contra o domínio do Império e da Igreja de Roma. A prisão, seguida da condenação e execução de Huss, não conseguiu apagar a chama nacionalista, o que mostrava um lado intenso da crise vivida pela Igreja, qual seja, o seu domínio sendo alvo de reações nacionalistas.



Há outra forma de reação a esse desvirtuamento do papel da Igreja e ela fica evidente ao observarmos o crescimento das heresias. O termo era empregado para designar todas as manifestações de pensamento religioso discordante dos dogmas impostos pela Igreja Católica. Durante a Baixa Idade Média, e particularmente no século 13 (considerado o grande século das heresias), cresceram de modo significativo o número de seitas heréticas e o número de adeptos a essas seitas.



Ao contrário de uma primeira impressão, as heresias constituem-se numa prova de fé e não de falta de fé. Evidenciam a existência de uma população imbuída de uma profunda religiosidade não contemplada pelos dogmas e pelo materialismo da Igreja. Esta, por sua vez, jamais foi capaz de compreender o real significado das heresias. Ao contrário, a Igreja apenas viu nelas o que representavam em termos de ameaça ao seu poder baseado na unidade da fé. Assim, a reação da Igreja Católica às heresias concentrou-se na repressão. Não foi outra a função da criação do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição, justamente no século 13.



Há outros elementos decisivos nesse processo. A questão política passa a ganhar um peso significativo a partir do início do processo de centralização do poder. Naturalmente, os reis, ao buscarem se fortalecer politicamente, vão entrar em choque com o poder da Igreja. Em muitos casos (e o exemplo da Inglaterra, como veremos a seguir, é apenas o mais evidente), romper com a Igreja Católica e criar uma nova Igreja sob seu comando foi a forma encontrada pelos reis para se libertar do poder político do papado.



Além disso, num quadro de crescimento do comércio, os dogmas da Igreja, de condenação à usura e ao lucro excessivo, representavam um forte obstáculo para a burguesia. Assim, também essa nova camada ascendente vai ter interesse em romper com os entraves impostos pelo catolicismo e adotar uma nova religião, para a qual suas práticas não se constituíssem em pecados e fossem consideradas como dignificantes do homem.
A reforma luterana
Gilberto Salomão*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
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O alemão Martinho Lutero estabeleceu os princípios de uma doutrina cristã reformada
O que hoje chamamos de Alemanha era, desde a Idade Média, parte do Sacro Império Romano Germânico. Criado no século 11 como uma extensão temporal do poder do papado, houve momentos em que o poder imperial entrou em choque com o papa, como na questão envolvendo as investiduras de bispos, no século 16. A vitória do papado nessa que ficou conhecida como a Querela das Investiduras aprofundou o poder político da Igreja na região.


Por outro lado, o poder enorme exercido pela Igreja tornava-a o local ideal para a venda de relíquias e indulgências. Empenhado na construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão 10º (1513-1521) encarregou o dominicano John Tetzel de realizar uma maciça venda de indulgências por toda a Alemanha.



Foi contra isso que se voltou o duque Frederico da Saxônia, impedindo a entrada de Tetzel em seu território. A alegação para a proibição foi o fato de a Igreja ter feito um acordo com a família de banqueiros alemães, os Függer, no qual os banqueiros emprestavam à Igreja o dinheiro necessário em troca da garantia de metade da renda obtida com a venda de indulgências.

Martinho Lutero


Nesse conflito envolveu-se Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano e professor de teologia na Universidade de Wittenberg, com o apoio de Frederico. Na verdade, as críticas de Lutero à prática da Igreja já eram antigas, encontrando nesse contexto o espaço certo para sua disseminação.



Em 1517, Lutero fixou na porta da catedral de sua cidade um documento intitulado "95 Teses Contra as Indulgências". Nele, não apenas Lutero criticava violentamente a prática da Igreja, denunciando que o dinheiro das indulgências era usado para financiar o luxo do clero e atacando seu desregramento, como também se opunha a dogmas da Igreja. Ao afirmar que as indulgências eram incorretas, pois o fiel se salva não pelos atos que pratica, mas pela fé, Lutero incorria numa negação à doutrina da Igreja, uma heresia do ponto de vista da Igreja Católica, expondo-se assim à ação da Inquisição.



Excomungado como herege em 1520 pelo papa, Lutero recusou-se também a se retratar na Dieta de Worms, convocada pelo imperador Carlos 5º (Carlos de Habsburgo) e composta por todos os nobres laicos e eclesiásticos do Sacro Império. Estes, por sua vez, tinham interesse em apoiar Lutero, interessados em livrar-se da autoridade papal e em limitar o poder do imperador, defensor do catolicismo. Foram os príncipes alemães e a alta nobreza que ocultaram Lutero num castelo da Saxônia, impedindo sua execução.

Guerras e revoltas


Durante os três anos em que ficou oculto, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, numa forma de tornar seu conhecimento mais difundido entre a população, de modo a provar o quanto a Igreja havia se afastado dos propósitos cristãos. Em sua maioria, os príncipes alemães declararam-se adeptos da nova religião proposta por Lutero. Vendo nisso uma clara ameaça a seu poder, o imperador Carlos 5º impôs o catolicismo como religião oficial do império. Os príncipes protestaram contra essa imposição (daí advindo o termo "protestante"), dando início a um longo processo de guerras de religião na Alemanha.



Por outro lado, além do apoio da nobreza, por razões políticas, as idéias de Lutero despertaram o apoio dos camponeses, vendo nos ataques à Igreja uma oportunidade de reduzirem o grau de profunda desigualdade e exploração a que estavam submetidos. Várias revoltas camponesas eclodiram na Alemanha, entre elas a principal, liderada por Thomas Müntzer.



Lutero voltou-se violentamente contra esses movimentos, posto que, dependente do apoio dos nobres, ele jamais poderia colocar-se ao lado de revoltas camponesas. Assim, Lutero defendeu a postura mais agressiva possível contra eles ("[...] É preciso estrangulá-los; é preciso matar o cão raivoso que se lança contra ti ou ele te matará."). A repressão aristocrática aos camponeses durou de 1524 a 1536 e produziu mais de cem mil mortos.

Mudanças


Já em 1527, Lutero, juntamente com Melanchton, elaborou a Confissão de Augsburgo, que estabelecia os princípios de sua doutrina. Por ela estabelecia-se: que as Escrituras Sagradas eram o único dogma da nova religião; a fé era vista como a única fonte da salvação; a livre interpretação da Bíblia passava a ser permitida; negava-se a transubstanciação (transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo, presente na fé católica) e a crença de que a presença de Cristo na Eucaristia era espiritual; adotava-se o alemão, e não mais do latim, como idioma nos cultos religiosos; a Igreja passava a ficar submetida ao Estado; e, finalmente, permaneciam apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia.



Em 1555, a Dieta de Augsburgo permitiu que cada príncipe escolhesse a sua religião, que passaria a ser também a de seus súditos ("cujus regio ejus religio"- tal príncipe, sua religião). O luteranismo triunfara na Alemanha. Foi adotado também na Suécia, em 1527, e na Dinamarca e Noruega, em 1536, como forma de afirmação dos poderes reais contra a interferência de Roma.
A reforma calvinista
Gilberto Salomão*
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Fugindo da perseguição na França, Calvino estabeleceu-se em Genebra, na Suíça
Desde 1499, a Suíça havia obtido a independência em relação ao Sacro Império, estando dividida, politicamente, em cantões autônomos. Região rica, palco da ação de uma crescente burguesia, a Suíça, e particularmente a cidade de Genebra, acompanhou a penetração das idéias luteranas no país, trazidas por Ulrich Zwinglio, que receberam forte acolhida junto à burguesia local.


As idéias de Zwinglio já haviam gerado um violento conflito entre reformistas e católicos entre 1529 e 1531. Essa guerra civil fora encerrada com a Paz de Kappel, que dava autonomia religiosa aos vários cantões suíços.


João Calvino


Essa situação atraiu para as cidades suíças vários líderes reformistas perseguidos na Europa inteira. Entre eles, João Calvino (1509-1564), que, fugindo da perseguição aos protestantes na França, refugiou-se na cidade de Genebra. Já em 1536, Calvino publicou sua obraInstituição da Religião Cristã, na qual ele apresentava uma ruptura bem mais sensível com os dogmas católicos do que as idéias de Lutero e de Zwinglio. 



Segundo a visão de Calvino, a salvação só se alcança através da fé, mas ela é concedida por Deus a alguns eleitos (predestinação), sendo que o homem é pecador por natureza. O culto foi ainda mais simplificado, resumindo-se a comentários bíblicos feitos por sacerdotes sem paramentos, em igrejas simples e despojadas de imagens. A exemplo do luteranismo, apenas o batismo e a eucaristia foram conservados, nesta última também se abandonando a idéia de transubstanciação.



Não apenas as concepções religiosas de Calvino iam diretamente ao encontro das aspirações da sociedade de Genebra, mas também a ética por ele preconizada. Podem ser citadas, nesse sentido, inúmeras passagens do próprio Calvino, como por exemplo: "Deus chama a cada um para uma vocação particular cujo objetivo é a glorificação dele mesmo. O comerciante que busca o lucro, pelas qualidades que o sucesso econômico exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem, responde também o chamado de Deus, santificando de seu lado o mundo pelo esforço e sua ação é santa".


Huguenotes, puritanos e presbiterianos


Calvino foi amplamente aceito pela elite local. Guindado à condição de um líder religioso e político, Calvino, através das Ordenações Eclesiásticas, implantou leis rígidas, que davam à sua Igreja o controle total sobre a vida religiosa, moral e política dos cidadãos. A nova Igreja dividiu-se em fiéis, pastores e um conselho, o Consistório, que possuía amplos poderes.



Composto por três pastores e doze representantes da sociedade local, eleitos por um conselho municipal, o Consistório tinha poderes para regular cada aspecto do comportamento do cidadão, incluindo sua indumentária e as práticas sociais.



As idéias de Calvino difundiram-se rapidamente, muito mais do que as idéias luteranas, o que é outra mostra de sua consonância com a sociedade urbana em formação. Na França, os calvinistas foram chamados de huguenotes. Na Inglaterra, pelo tipo de comportamento preconizado pelos calvinistas, marcado pela seriedade, pela austeridade inclusive no vestir, pela dedicação fundamental ao trabalho, eles foram chamados de puritanos. Na Escócia, onde as idéias calvinistas foram introduzidas por John Knox, a Igreja calvinista foi organizada a partir de conselhos de pastores, os presbíteros, daí a designação de presbiterianos.
A reforma anglicana
Gilberto Salomão*
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O rei Henrique 8o promoveu a Reforna na Inglaterra
O aspecto político das reformas teve, na Inglaterra, sua manifestação mais evidente. O próprio fato de a reforma religiosa ter sido conduzida diretamente pelos reis ingleses serve como comprovador dessa visão.


A dinastia Tudor nasceu num quadro de fortalecimento do poder real na Inglaterra, após o esmagamento dos setores dissidentes da nobreza na Guerra das Duas Rosas. O primeiro rei Tudor, Henrique 7º, procurou consolidar esse poder, esbarrando, entretanto, no forte poder político e econômico exercido pela Igreja Católica no país.



Foi o seu filho, Henrique 8º, quem vislumbrou a oportunidade de se voltar contra esse poder. Em meio à crise provocada na Alemanha pelo movimento luterano, Henrique 8º aproveitou-se do momento favorável para estabelecer um confronto com o papado.

Uma questão política e dinástica


A razão ostensiva para esse confronto liga-se a uma questão política e dinástica. Casado com a nobre espanhola, Catarina de Aragão, Henrique 8º tivera com ela uma filha, Mary. Impossibilitada de ter outros filhos, Catarina criava uma situação potencialmente perigosa para a monarquia inglesa. Sem filhos homens (o trono inglês jamais fora ocupado até então por uma mulher), Henrique 8º alegava o risco de morrer sem um herdeiro, o que tornava o rei da Espanha e Imperador do Sacro Império, Carlos 5º, sobrinho de Catarina, um dos pretendentes ao trono inglês.



Alegando a imperiosa necessidade de um herdeiro, Henrique solicita ao papa a anulação de seu casamento com Catarina. Tratava-se de uma manobra obviamente destinada a criar um confronto. Henrique tinha plena consciência de que o papa jamais iria se indispor contra Carlos 5º, seu principal aliado na luta contra Lutero.



Ante a recusa papal, Henrique 8º anulou por conta própria seu casamento, desposando, em seguida, Ana Bolena. Excomungado pelo papa, Henrique 8º reagiu, em 1534, com o Ato de Supremacia, por meio do qual ele criou uma Igreja nacional chamada Igreja Anglicana ou Igreja da Inglaterra, da qual era o chefe. Confiscou ainda os bens do clero católico na Inglaterra, distribuindo-os especialmente entre a gentry, a camada de pequenos e médios proprietários rurais, o que lhe assegurou uma ampla base de apoio.



Henrique não fez mudanças no culto. Elas foram obra de seu filho, Eduardo 4º, que, em 1549, impôs o Livro de Orações Comuns, em inglês, e em 1553 suprimiu a missa e o celibato clerical.



A Reforma anglicana completou-se no reinado de Elizabeth I (1558-1603) com a Lei dos 39 Artigos (1563). Adotou-se o calvinismo como conteúdo doutrinário, mas manteve-se a forma católica, preservando-se a hierarquia episcopal e parte da liturgia.
A Reforma católica e a Contra-Reforma
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Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, a ordem dos soldados de Cristo
A contínua expansão do protestantismo por toda Europa colocou a Igreja Católica em uma situação crítica. Impunha-se uma reforma para moralizar o clero e, ao mesmo tempo, desencadear o combate às novas religiões, classificadas como heresias.



O surgimento da Companhia de Jesus, em 1534, por obra de Ignácio de Loyola, revelou-se fundamental para a realização da Reforma católica. Os jesuítas, chamados de "soldados de Cristo", devotando uma cega obediência ao papa, encarregaram-se de organizar um concílio.


Inquisição


Enquanto aguardava a instalação do concílio, o papa Paulo 3º (1534-1549) tomou medidas para combater o protestantismo. Em 1542, a Inquisição (ou Tribunal do Santo Ofício) foi reativada. Dominada pelos dominicanos, ela conseguiu, utilizando de métodos violentíssimos, deter o avanço protestante na Itália, na Espanha e em Portugal. Nos países ibéricos, o apoio real foi fundamental para a derrota do protestantismo. E em 1543 foi elaborado o Index Librorum Prohibitorum, ou simplesmente Index, um catálogo que arrolava obras de leitura proibida aos católicos.


Concílio de Trento


O Concílio de Trento reuniu-se, finalmente, em 1545, durando até 1563. Foi ecumênico, ou seja, reuniu representantes de toda Igreja. Ele produziu uma Igreja reformada, embora os dogmas católicos não sofressem alteração: o princípio da salvação pelas boas obras foi confirmado; o culto à Virgem e aos santos foi reafirmado; a infalibilidade papal, o celibato clerical e a indissolubilidade do casamento foram mantidos. 



Graças às pressões dos jesuítas, a autoridade papal foi reforçada. A disciplina do clero restabelecida: fixaram-se condições e idades mínimas para o exercício das funções eclesiásticas; o acúmulo de bispados e paróquias foi proibido, bem como a venda de indulgências. Criaram-se seminários para a formação dos eclesiásticos e foram elaborados um Catecismo e um Missal.



Com a Igreja revigorada, os católicos dedicaram-se à Contra-Reforma, com o sistemático combate às religiões protestantes. Internamente, a Inquisição encarregou-se de manter o controle sobre as populações católicas, perseguindo os heréticos e contendo a difusão das doutrinas protestantes.



Externamente, procurou-se reconquistar, por meio da educação, as áreas perdidas para o protestantismo. Pelo empenho dos jesuítas, vários colégios encarregados do ensino primário foram fundados na Europa. O resultado foi modesto. Após duas gerações, parte da Renânia, o sul dos Países Baixos e a Polônia haviam sido reconquistados.



O maior êxito da Contra-Reforma deu-se pela difusão do catolicismo entre os povos pagãos, por meio da catequese. Graças ao controle ibérico sobre a maioria da América, as massas indígenas foram convertidas, e os esforços, especialmente dos jesuítas, alcançaram na Ásia, a China e o Japão, embora com resultados modestos e passageiros.



*Gilberto Salomão, formado em história pela USP, é professor do Curso Intergraus e autor dos livros de história do Sistema de Ensino Poliedro.

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