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- Notas de aula:

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ANOTAÇÕES DE AULA – HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA – 2º SEMESTRE / 2014

§ Historicidade: O século XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. É particularmente com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos.

§ Otimismo progressita científico: O otimismo positivista toma conta da humanidade no final do século XIV, no Brasil a bandeira republicana chega a ser alterada para conter a ideia de Augusto Comte de “ordem, ‘amor’ e progresso”. Os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram com o passar do tempo, acumulam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro será melhor e superior, se comparado ao presente.

i. Saber para prever e prever para prover: As ciências permitiriam aos seres humanos “saber para prever, prever para prover”, de modo que o desenvolvimento social se faria por aumento do conhecimento científico e do controle científico da sociedade.

§ Guerras e depressão humana - Crítica à historicidade: No século XX, a Filosofia passou a desconfiar do otimismo científico-tecnológico do século anterior em virtude de vários acontecimentos: a crise financeira de 1929, as duas guerras mundiais, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, as guerras da Coréia, do Vietnã, do Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria e da Tchecoslováquia, as ditaduras sangrentas da América Latina, a devastação de mares, florestas e terras, os perigos cancerígenos de alimentos e remédios, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, etc. A mesma afirmação da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade levou à idéia de que a História é descontínua e não progressiva, cada sociedade tendo sua História própria em vez de ser apenas uma etapa numa História universal das civilizações. A idéia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar colonialismos e imperialismos (os mais “adiantados” teriam o direito de dominar os mais “atrasados”). Passa a ser criticada também a idéia de progresso das ciências e das técnicas, mostrando-se que, em cada época histórica e para cada sociedade, os conhecimentos e as práticas possuem sentido e valor próprios, e que tal sentido e tal valor desaparecem numa época seguinte ou são diferentes numa outra sociedade, não havendo, portanto, transformação contínua, acumulativa e progressiva. O passado foi o passado, o presente é o presente e o futuro será o futuro.

§ Utopias revolucionárias: anarquismo, socialismo,comunismo: Criadas graças à ação política consciente dos explorados e oprimidos, uma sociedade nova, justa e feliz. No entanto, no século XX, com o surgimento das chamadas sociedades totalitárias -fascismo, nazismo, stalinismo - e com o aumento do poder das sociedades autoritárias ou ditatoriais, a Filosofia também passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e a indagar se os seres humanos, os explorados e dominados serão capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz. O crescimento das chamadas burocracias - que dominam as organizações estatais, empresariais, político-partidárias, escolares, hospitalares - levou a Filosofia a indagar como os seres humanos poderiam derrubar esse imenso poderio que os governa secretamente, que eles desconhecem e que determina suas vidas cotidianas, desde o nascimento até a morte.

§ Teoria crítica – A Escola de Frankfurt: A Escola de Frankfurt, elaborou uma concepção conhecida como Teoria Crítica, na qual distingue duas formas da razão: a razão instrumental e a razão crítica. A razão instrumental é a razão técnico-científica, que faz das ciências e das técnicas não um meio de liberação dos seres humanos, mas um meio de intimidação, medo, terror e desespero. Ao contrário, a razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental e afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente se tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e domínio técnico-científico sobre a Natureza, a sociedade e a cultura.

§ Fim da Filosofia: No século XIX, o otimismo positivista ou cientificista levou a Filosofia a supor que, no futuro, só haveria ciências, e que todos os conhecimentos e todas as explicações seriam dados por elas. Assim, a própria Filosofia poderia desaparecer, não tendo motivo para existir. No entanto, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários, e que, freqüentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir e quando está entrando no campo de investigação de uma outra.

§ Existencialismo (perda de importância ou do sentido da vida em Deus): O século XIX prosseguiu uma tradição filosófica que veio desde a Antigüidade e que foi muito alimentada pelo pensamento cristão. Nessa tradição, o mais importante sempre foi a idéia do infinito, isto é, da Natureza eterna (dos gregos), do Deus eterno (dos cristãos), do desenvolvimento pleno e total da História ou do tempo como totalização de todos os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia a idéia de todo ou de totalidade, da qual os humanos fazem parte e na qual os humanos participam. No entanto, a Filosofia do século XX tendeu a dar maior importância ao finito, isto é, ao que surge e desaparece, ao que tem fronteiras e limites. Esse interesse pelo finito aparece, por exemplo, numa corrente filosófica (entre os anos 30 e 50) chamada existencialismo e que definiu o humano ou o homem como “um ser para a morte”, isto é, um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência. Para a maioria dos existencialistas, dois eram os modos privilegiados de o homem aceitar e enfrentar sua finitude: através das artes e através da ação político-revolucionária. Nessas formas excepcionais da atividade, os humanos seriam capazes de dar sentido à brevidade e finitude de suas vidas.

· Divulgação de texto a ser lido para a próxima aula – Ler capítulos 1 e 2 do Reale – Volume 5 (edição de 1997);








· Contexto histórico pós-iluminista:
o Ambiente intelectual de grande rebeldia;
o Queda de regimes políticos despóticos e ascensão dos sistemas políticos liberais;
o Inconformismo e rompimento com as regras, principalmente no campo artístico;

·

Romantismo (Movimento Romântico): Inicia-se no século XIX, principalmente na Alemanha (1790 – 1830), Inglaterra (1790 – 1832) e França (1825 – 1850). Movimento intelectual que se desenvolveu em vários campos, principalmente poesia, filosofia, artes figurativas e na música;

o Romantismo alemão: O mais importante, teve início logo após a Revolução Francesa, com o Sturm Und Drang (tempestade e ímpeto/paixão), com a filosofia de Schelling e Fichte e com escolas místicas, principalmente a de Boheme. As invasões de Napoleão Bonaparte, a fundação da Universidade de Berlim, e a agitação social serviram para criar uma atmosfera propícia para o surgimento do romantismo no país;

o Gênese da palavra romântico: Como primeiro sentido, seria um adjetivo indicando algo fabuloso, extravagante, fantástico e o irreal. Gradualmente, o termo "romântico" passou a indicar o renascer do instinto e da emoção, sufocados pelo racionalismo prevalente no seculo XVII.

o Principais características do movimento romântico:

§ Sehnsucht ("anseio"): Desejo irrealizável porque aquilo que se anseia é o infinito, que é o sentido e a raiz do finito. Sentimentos de preocupação e inquietação que se comprazem de si e se exaurem em si mesmos. Um desejo que jamais pode alcançar sua própria meta, porque não a conhece e não quer ou não pode conhecê-la. Um desejo de desejar, um desejo que é sentido como inextinguível e que justamente por isso encontra em si a própria satisfação.

i. Sobre este ponto tanto a filosofia como a poesia estão absolutamente de acordo: a filosofia deve captar e mostrar a ligação do infinito com o finito, enquanto a arte deve realizá-lo: a obra de arte e o infinito que se manifesta no finito.

§ Crítica ao iluminismo: Contrário ao racionalismo e ao iluminismo;

§ Individualismo: Visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o século XVIII foi marcado pela objetividade, pelo Iluminismo e pela razão, o início do século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo eu.

§ Tendência idealista ou poética carentes de sentido objetivo: O Romantismo é a arte do sonho e fantasia. Valoriza as forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Opõe-se à arte equilibrada dos clássicos e baseia-se na inspiração fugaz dos momentos fortes da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na saudade, no sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.

§ Busca a um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa, principalmente a Alemanha;

§ Subjetivismo: Assuntos tratados de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um individuo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.

§ Natureza como grande organismo: Sai da concepção mecanicista-iluminista e é interpretada como "jogo móvel de forças que gera todos os fenômenos, compreendendo o homem e, portanto, esta força e a própria força do divino". "A natureza, subtraída inteiramente da concepção mecanicista-iluminista, entende-se como vida que cria eternamente, como grande organismo do todo afim ao organismo humano: a natureza é jogo móvel de forças que gera todos os fenômenos, compreendendo o homem e, portanto, esta força e a própria força do divino".

§ Senso de pânico: O senso de pertencer ao uno-todo, o sentir que se é um momento orgânico da totalidade.

§ Revalorização da Religião: Principalmente na relação do homem com o infinito e com o eterno, e é assim posta bem acima do plano ao qual o Iluminismo a reduzira. E a religião por excelência seria a cristã, embora compreendida de vários modos.

§ Revalorização expressiva do informal: Prevalência do conteúdo sobre a forma.

§ Medievalismo e Indianismo: Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel à pátria um ótimo modo de retratar as culturas de seu país. Esses poemas se passam em eras medievais e retratavam grandes guerras e batalhas. No Brasil, como os brasileiros não tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau) (segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade européia).




§ Resumo de L. Mittner: "Entendido como fato psicológico, o sentimento romântico não é sentimento que se afirma acima da razão ou sentimento de imediatidade, intensidade ou violência particulares, como também não é o chamado sentimental, isto é, o sentimento melancólico-contemplativo; é muito mais um dado de sensibilidade, precisamente o fato puro e simples da sensibilidade, quando ela se traduz em estado de excessiva ou até permanente impressionabilidade, irritabilidade e reatividade. Na sensibilidade romântica predomina o amor pela irresolução pelas ambivalências, a inquietude e irritabilidade que se comprazem em si mesmas e se exaurem em si mesmas".

o Romantismo Filosófico: Consiste no destaque que alguns sistemas filosóficos dão a intuição e a fantasia, em contraste com os sistemas que parecem não conhecer outro órgão do verdadeiro além da fria razão. Todo o idealismo é considerado filosofia romântica.

o Romantismo nas artes: Tinha como objetivo principal a subjetivação do mundo exterior. As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram quando Francisco Goya passou a pintar depois de começar a perder a audição. Um quadro de temática neoclássica como Saturno devorando seus filhos, por exemplo, apresenta uma série de emoções para o espectador que o fazem se sentir inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra, linhas de composição diagonais e pinceladas "grosseiras" de forma a acentuar a situação dramática representada. Apesar de Goya ter sido um acadêmico, o Romantismo somente chegaria à Academia mais tarde. O francês Eugène Delacroix é considerado um pintor romântico por excelência. Sua tela A Liberdade guiando o povo reúne o vigor e o ideal românticos em uma obra que estrutura-se em um turbilhão de formas. O tema são os revolucionários de 1830 guiados pelo espírito da Liberdade (retratados aqui por uma mulher carregando a bandeira da França). O artista coloca-se metaforicamente como um revolucionário ao se retratar em um personagem da turba, apesar de olhar com uma certa reserva para os acontecimentos (refletindo a influência burguesa no romantismo). Esta é provavelmente a obra romântica mais conhecida.

o Romantismo na literatura: Tendo o liberalismo como referência ideológica, o Romantismo renega as formas rígidas da literatura, como versos de métrica exata. O romance se torna o gênero narrativo preferencial, em oposição à epopéia. É a superação da retórica, tão valorizada pelos clássicos. Os aspectos fundamentais da temática romântica são o historicismo e o individualismo.O Romantismo surge na literatura quando os escritores trocam o mecenato aristocrático pelo editor, precisando assim cativar um público leitor. Esse público estará entre os pequenos burgueses, que não estavam ligados aos valores literários clássicos e, por isso, apreciariam mais a emoção do que a sutileza das formas do período anterior. A história do Romantismo literário é bastante controversa. Em primeiro lugar, as manifestações em poesia e prosa popular na Inglaterra são os primeiros antecedentes, embora sejam consideradas "pré-românticas" em sentido lato. Os autores ingleses mais conhecidos desse pré-Romantismo "extra-oficial" são William Blake (cujo misticismo latente em The Marriage of Heaven and Hell - O Casamento do Céu e Inferno, 1793 atravessará o Romantismo até o Simbolismo) e Edward Young (cujos Night Thoughts - Pensamentos Noturnos, 1742, re-editados por Blake em 1795, influenciarão o Ultra-Romantismo), ao lado de James Thomson, William Cowper e Robert Burns. O Romantismo "oficial" é reconhecido nas figuras de Coleridge e Wordsworth (Lyrical Ballads - Baladas Líricas, 1798), fundadores; Byron (Childe Harold's Pilgrimage, Peregrinação de Childe Harold, 1818), Shelley (Hymn to Intellectual Beauty - Hino à Beleza Intelectual, 1817) e Keats (Endymion, 1817), após o Romantismo de Jena. Em segundo lugar, os alemães procuraram renovar sua literatura através do retorno à natureza e à essência humana, com assídua recorrência ao "pré-Romantismo extra-oficial" da Inglaterra. Esses escritores alemães formaram o movimento Sturm und Drang (tempestade e ímpeto), donde surge então, mergulhado no sentimentalismo, o pré-Romantismo "oficial", isto é, conforme as convenções historiográficas. Goethe (Die Leiden des Jungen Werther - O Sofrimento do Jovem Werther, 1774), Schiller (An die Freude - Ode à Alegria, 1785) e Herder (Auszug aus einem Briefwechsel über Ossian und die Lieder alter Völker - Extrato da correspondência sobre Ossian e as canções dos povos antigos, 1773) formam a Tríade. Alguns jovens alemães, como Schegel e Novalis, com novos ideais artísticos, afirmam que a literatura, enquanto arte literária, precisa expressar não só o sentimento como também o pensamento, fundidos na ironia e na auto-reflexão. Era o Romantismo de Jena, o único Romantismo autêntico em nível internacional. Em terceiro lugar, a difusão européia do Romantismo tomou como românticas as formas pré-românticas da Inglaterra e da Alemanha, privilegiando, portanto, apenas o sentimentalismo em detrimento da complicada reflexão do Romantismo de Jena. Por isso, mundialmente, o Romantismo é uma extensão do pré-Romantismo. Assim, na França, destacam-se Stendhal, Hugo e Musset; na Itália Leopardi e Manzoni; em Portugal Garrett e Herculano; na Espanha Espronceda e Zorilla.



· Romantismo (continuação):

o Principais filósofos românticos:

§ F. Schlegel(1772-1829): Destaca a concepção do infinito. Tanto a filosofia como a arte tem dificuldade de estabelecer conexões com o infinito através do finito;

i. Conceito importante - "ironia": Indica a atitude espiritual que tende a superar e a dissolver progressivamente a inadequação em relação a infinitude de todo ato ou fato do espírito humano, e nela tem um papel decisivo o elemento "espirituoso" ou "brincalhão" do humor.

ii. Na arte, ao contrário, é apanágio do gênio criador operar uma síntese de finito e infinito: o verdadeiro artista anula-se como finito para poder ser veículo do infinito, e neste sentido a arte assume também um altíssimo significado religioso, porque religião é toda relação do homem com o infinito.

§ Novalis (1772-1801):

i. Idealismo mágico (Tudo é fábula): A verdade reside no substrato mágico do real, ou seja, na fábula, no sonho e na poesia (divisa a verdadeira magia na atividade inconsciente produtora do eu que gera o não-eu). "A poesia é o real, o real verdadeiramente absoluto. Esse é o núcleo da minha filosofia".No

ii. Revalorização radical da Idade Média católica. "A única que sabe explicar o sentido da morte". Aqui ele vê realizada a feliz unidade destruída por Lutero, considerado em certo sentido como precursor do intelectualismo iluminista. Apenas a mensagem cristã sabe explicar o sentido da morte, e assim também a altíssima mensagem grega de serenidade e harmonia acena ao cristianismo.

§ Schleiermacher (1768-1834):

i. Interpretação romântica da religião:

o Religião como a relação do homem com a totalidade.

o Intuição e sentimento do infinito. ("(...) a sua essência (da religião) não está no pensamento nem na ação, mas sim na intuição e no sentimento. Ela aspira a intuir o Universo (...) a religião tende a ver no homem, não menos que em todas as outras coisas particulares e finitas, o infinito: a imagem, a marca, a expressão do Infinito").

o Sentimento de "total dependência" do homem (finito) em relação à Totalidade (infinita).

ii. Tradutor de Platão para a língua alemã. "Que tinha como objetivo desenvolver a função de mediação entre as velhas e as novas concepções da filosofia" - Lembrar da questão da tradução da Bíblia para a língua alemã.

iii. Precursor da "hermenêutica filosófica". (é preciso compreender o todo para compreender a parte, e em geral e preciso que objeto interpretado e sujeito que interpreta pertençam a um mesmo horizonte "circular").

§ Schiller (1759-1805):

i. Poeta e dramaturgo, tinha amor à liberdade em todas as suas formas essenciais (polítia, social e moral)

o Beleza: Mais alta escola da liberdade. "Só se chega à liberdade através da beleza". "Alma bela, isto é, a alma dotada daquela graça que harmoniza instinto e lei moral".


Poesia Ingênua

Poesia Sentimental


* Antiga;

* Homem agindo com unidade harmônica e natural;

* Sentir naturalmente.

* Moderna;

* Homem não é a natureza, mas a sente;

* Reflexão sobre esse "sentir"


"O poeta sentimental, portanto, está sempre diante de duas representações e sentimento em luta, tendo a realidade por limites e a sua ideia por infinito. E o sentimento misto que ele suscita refletirá sempre essa dupla face".




§ Goethe (1749-1832):

i. Considerado o maior poeta alemão. Não dedicou obras específica à filosofia, mas expôs inúmeras ideias filosóficas em suas obras. Diferentemente de Schiller, fez questão de manter certa distância em relação aos filósofos de profissão, foi também crítico do movimento romântico.

ii. Natureza: Organicismo levado às últimas consequências.

o Toda viva, até nos mínimos particulares;

o A totalidade dos fenômenos é produção orgânica da "forma interior";

o As diversas formações naturais derivam de uma polaridade de forças (contração e expansão), seguindo um progressivo crescimento e elevação.

iii. Tinha uma concepção panteísta de Deus.

o Dissolução do Iluminismo e prelúdio do idealismo:




§ Hamann (1730-1788): Considerado o mais áspero e genial critico do Iluminismo, e o mais ardoroso defensor da religiosidade cristã (que o Iluminismo havia minado nas raízes).

i. Linguagem: "Razão que se torna sensível", contra o dualismo kantiano de "sensibilidade" e "razão", assim como o Logos divino e o tornar-se carne de Deus.

ii. Revelação: Ação divina de revelar conceitos universais a criatura através da criatura e "artigos secretos que Deus quis revelar ao homem por meio do homem".

iii. Fé: Elemento central, em que tudo gira a seu redor;




§ Jacobi (1743-1819): Um dos principais críticos ao spinozismo e ao intelectualismo.

i. Crítica ao spinozismo:

o Toda forma de racionalismo, coerentemente desenvolvido, acaba por ser uma forma de spinozismo;

o O spinozismo é uma forma de ateísmo, porque identifica Deus e natureza, e de fatalismo, porque não deixa espaço para a liberdade.

ii. Antiintelectualismo: A fé é sentimento e intuição, força que contrapõe-se ao intelectualismo iluminista, que Jacobi considerava spinoziano. "A ciência puramente intelectualista de tipo spinoziano não pode ser refutada por via especulativa, e sim por outro caminho: contrapondo ao intelecto o caminho da fé, que é sentimento e intuição" Re.

o Fé ("razão" superior): Luz original da razão, confiança sólida naquilo que não se vê, é captação do absoluto meta-intelectual ("captação imediata do absoluto). "O intelecto é pagão, o coração é cristão: pobre de quem aprisionar o segundo no primeiro!".




§ Herder (1744-1803): Antiiluminista que baseia sua crítica em novas concepções de linguagem e história.

i. Linguagem: Exprime a natureza humana, todo progresso humano ocorre com e por meio da língua ("o homem é criatura da língua").

ii. História: Instrumento de atuação de Deus (cristão), que opera e se revela tanto na natureza quanto na história. "O progresso, do qual cada fase (compreendendo a Idade Média) tem atua os fins um significado próprio peculiar, é, portanto, obra de Deus que conduz a plenitude da realização os povos, considerados como unidades vivas, quase como organismos"Re.




§ Humboldt (1767-1835):

i. Ideal de humanidade: "ideia" a qual todo indivíduo tende, embora sem jamais conseguir realizá-la plenamente. O ideal da humanidade se realiza na história. (esse ideal se aproxima pela arte).




Idealismo:


Fichte (1762-1814):

§ Breve biografia: De origem humilde, a qual tinha orgulho, tornou-se um dos primeiros filósofos a propagar a filosofia kantiana (Kant ainda era vivo). Foi perseguido por ser considerado ateu, não por suas próprias declarações, mas de seu discípulo Forberg (“sustentando que era possível crer em Deus e, não obstante, ser religioso, porque, para ser religioso, basta crer na virtude (e, portanto, se podia ser religioso até sendo ateu ou agnóstico).

§ O idealismo de Fichte:

i. Difusor do criticismo kantiano (Racionalismo que procura determinar os limites da razão humana);

ii. Tentativa de condução da filosofia a um princípio único (que Kant não teria tematizado);

iii. Reconhecimento da impossibilidade de conhecimento da “coisa em si”;

iv. Tentativa de unificação do “sensível” com o “inteligível”, ou na linguagem de Fichte, tranformar o “Eu penso” kantiano no “Eu puro”.

o Eu puro: Princípio primeiro e absoluto, sendo que dele deduz-se toda a realidade (idealismo) - “Intuição pura, que se autopõe (se autocria) e, autopondo-se, cria toda a realidade, e na relativa identificação da essência desse Eu com a liberdade”.

§ Doutrina da Ciência: Proposta de construção de um sistema filosófico que unificassem as três críticas de Kant;

i. Primeiro princípio (Afirmação): O Eu põe absolutamente a si mesmo, a intuição intelectual, autocriação absoluta, este é o momento da liberdade e da tese (“O Eu, enquanto livre atividade originária e infinita, é autocriação absoluta por meio da própria imaginação produtiva”) - Kant considerava impossível para o homem, porque coincidiria com a intuição de um intelecto criador;

ii. Segundo princípio (Negação): O Eu opõe absolutamente a si mesmo, dentro de si, um não-eu. Este é o momento da necessidade e da antítese;

iii. Terceiro princípio (Limitação): No Eu absoluto, o eu limitado e o não-eu limitado se opõem e se limitam reciprocamente. E este é o momento da síntese.

o Atividade cognoscitiva: O eu é determinado pelo não-eu, uma vez que o não-eu constitui a matéria do conhecer e da atividade - uma vez que o não-eu constitui a matéria do conhecer e da atividade e, portanto, o limite necessário da consciência, como a atividade cognoscitiva prática, que se funda ao contrario sobre o aspecto pelo qual o eu determina o não-eu, uma vez que o eu, para realizar-se como liberdade, devem sempre superar os limites que o não-eu pouco a pouco lhes opõe. Isso atesta a superioridade da razão prática sobre a razão pura;

o Atividade prática: Funda-se, por sua vez, no aspecto pelo qual o Eu determina o não-eu.


Explicações Idealistas


Atividade Cognoscitiva

Atividade Moral (prática)


· O eu é determinado pelo não-eu, ou seja, o objeto que determina o sujeito;

· O não-eu age sobre o Eu como objeto de conhecimento;

· O não-eu é a matéria do conhecer e da atividade e, portanto, o limite necessário da consciência;

· O Eu determina a o não-eu. É o sujeito que determina e modifica o objeto;

· O não-eu age sobre o Eu como uma espécie de "impacto" ou "esforço" (Anstoss), que suscita um "contra-impacto" ou "contra-esforço";

· O objeto se apresenta ao homem como obstáculo a superar;

· O não-eu torna-se o instrumento através do qual o Eu se realiza moralmente;

· Sendo assim, o não-eu torna-se momento necessário para realização da liberdade do Eu.




i. Conceito de liberdade para Fichte: Ser livre significa tornar-se livre. E tornar-se livre significa afastar incessantemente os limites opostos pelo não-eu ao Eu.

o O Eu põe o não-eu para poder se realizar como liberdade;

o Como é evidente, a eliminação completa do não-eu só pode ser um conceito-limite;

o Por isso, a liberdade permanece estruturalmente como função infinita;

o A verdadeira perfeição é um infinito tender à perfeição como superação progressiva da limitação.

§ Importante: E nisso revela-se a própria essência do princípio absoluto.

§ Mundo numênico x Mundo fenomênico:

i. A lei moral é o nosso ser-no-mundo-inteligível;

ii. A ação real constitui o nosso ser-no-mundo-sensível;

iii. A liberdade, enquanto poder absoluto de determinar o sensível segundo o inteligível, é a junção dos dois mundos.

o Pior dos males (vício supremo): Inatividade ou a inércia, da qual derivam os outros vícios piores, como a vilania e a falsidade. A inatividade (a acídia), com efeito, faz o homem permanecer no nível de coisa, de natureza, de não-eu e, portanto, em certo sentido, é a negação da essência e do destino.

§ Verdadeiro princípio: É, portanto, a liberdade do Eu.

o Função moral do homem: Entrar em relação com outros homens; a multiplicidade de homens implica o surgimento de muitos ideais e, portanto, de um conflito entre ideais diferentes; nesse conflito, uma vez que a ordem moral do mundo é o próprio Deus, não pode deixar de prevalecer aquele que é moralmente melhor.

o Função do “douto”: Tem missão particular entre os homens. Ele deve se empenhar não somente em fazer progredir o saber, mas em ser moralmente melhor e, nesse sentido, com sua atividade e seu exemplo, deve promover o progresso da humanidade.

§ Direito Fundamental: O direito à liberdade. O homem deve limitar a própria liberdade com o reconhecimento da liberdade do outro. A vida associada implica o surgimento do "direito", porque em comunidade o homem deve limitar a própria liberdade com o reconhecimento da liberdade do outro; o direito fundamental do homem é, portanto, o direito a liberdade; o segundo é o direito a propriedade.

§ Estado: O Estado nasce de um contrato social e, portanto, de um consenso das vontades dos indivíduos. O Estado deve garantir a quem é incapaz a possibilidade de sobrevivência, a quem é capaz a possibilidade de trabalhar e, por fim, também deve impedir que alguém viva sem trabalhar. Como concebido pelo filósofo, portanto, o Estado garante trabalho para todos e impede que existam pobres e parasitas.

o Povo alemão: Apenas o povo alemão reunificado teria podido atingir os ideais da Revolução Francesa. O Estado deve garantir o trabalho a todos, impedindo que haja pobres; para atingir este objetivo, o Estado pode, se necessário, fechar o comercio exterior e tornar-se Estado comercial fechado. Tais posições socialistas, inspiradas pelos ideais da Revolução Francesa, mudaram sob o evoluir dos acontecimentos históricos, convencendo Fichte que apenas do povo alemão, militarmente derrotado e politicamente oprimido e dividido, podia vir o impulso para o progresso da humanidade. Os Discursos a nação alemã terminam assim: "Conhecemos nós algum povo que se assemelhe a este nosso, que foi o progenitor da civilização moderna e que nos suscite a mesma confiança? Creio que todo aquele que não se entregue às fantasias, mas pense, refletindo e discernindo, deve responder com um 'não' a tal pergunta. Portanto, não há outro caminho: se perecerdes, toda a humanidade perecerá, e nunca mais ressurgirá".

§ Segunda Fase do Pensamento de Fichte:

i. Absoluto: Base de tudo, que se manifesta formalmente em si como razão, como identidade que infinitamente se diferencia de saber e do ser; o absoluto é assim cindido do saber absoluto, o qual, para ser superado, deve ser posto na "evidência" da luz da unidade divina.

ii. Homem religioso: Na vida e nas ações do homem religiosa devoto a Deus não é o homem que age, mas o próprio Deus; a própria ciência torna-se uma espécie de união mística com o absoluto.



· Idealismo (continuação):

o Schelling (1775-1854):

§ Recapitulação do sistema idealista (tese - atítese - síntese)

§ Breve biografia: Filho de pastor protestante, matriculou-se no seminário com 15 anos. Foi assessor de Fichte e, posteriormente, o sucedeu no ensino universitário com apenas 24 anos. A partir de 1797, portanto, Schelling encaminhou-se para a revalorização da natureza e para o preenchimento das lacunas do sistema de Fichte. Mas, ao fazê-lo, punha em crise a Doutrina da ciência e aplainava o caminho para uma diferente formulação e projeção do idealismo. Morreu no ostracismo, na Suíça.

§ Filosofia da Natureza:

i. "O sistema da natureza é, ao mesmo tempo, o sistema de nosso espírito". Isso implica que se deve aplicar à natureza o mesmo modelo de explicação que Fichte aplicara com sucesso a vida do espírito. Em suma, para Schelling, os próprios princípios que explicam o espírito podem e devem explicar também a natureza;

ii. Aquilo que explica a natureza, é a mesma inteligência que explica o Eu. "O mesmo princípio une a natureza inorgânica e a natureza orgânica". A natureza é produzida por uma inteligência inconsciente, que opera em seu interior, que se desenvolve teleologicamente (teoria que explica os seres, pelo fim a que aparentemente são destinados) em graus, ou seja, em níveis sucessivos, que mostram uma finalidade intrínseca e estrutural.

** Obs: Apesar do elevado número de Compostos Orgânicos (elevado número devido à propriedade de os átomos de carbono poderem ligarem-se entre si, formando cadeias), o número de elementos químicos constituintes é muito pequeno, ou seja, os compostos orgânicos, em sua maioria, são formados pelos mesmos elementos, os chamados organógenos: Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O) e Nitrogênio (N). Na constituição de Compostos Inorgânicos há grande variedade de elementos químicos.

iii. Grande princípio: A natureza deve ser o espírito visível, o espírito a natureza invisível. "A natureza nada mais é do que "inteligência enrijecida em um ser", "sensações apagadas em um não-ser", "arte formadora de idéias que transforma em corpos".

iv. Mecanismo Universal (ou Processo Dinâmico): Retomada da expansão da força infinita positiva e o novo encontro com a força negativa e limitadora.

v. Alma do mundo: Hipótese para explicar o organismo universal (inteligência inconsciente que produz e rege a natureza). Aquilo que na natureza aparece como não vivo é apenas "vida que dorme"; A vida é "a respiração do universo", ao passo que "a matéria é espírito enrijecido".

vi. Homem: Fim último da natureza, porque nele precisamente desperta o espírito.

vii. Natureza: História da inteligência inconsciente, que, através de sucessivos graus de objetivação, chega por fim a consciência (no homem).

· Idealismo Transcendental:

o Atividade Real: Originária do Eu, produtora ao infinito.

o Atividade Ideal: Aquela que toma consciência colidindo com o limite;

o A filosofia teórica é por isso idealismo, enquanto a filosofia prática é realismo, e apenas juntas elas formam o sistema completo do idealismo transcendental.

· Filosofia da Identidade:

o Concepção de Absoluto: "Identidade originária" de Eu e não-eu, sujeito e objeto, espírito e natureza; O absoluto é, portanto, esta identidade originária de ideal e real, e a filosofia é saber absoluto do absoluto.: a identidade absoluta é definitivamente o Uno-Todo, fora do qual nenhuma coisa existe por si mesma.

o Identidade absoluta: A identidade absoluta é infinita e não sai nunca fora de si e, portanto, tudo aquilo que existe, existe, de algum modo, nela e é "identidade".

§ Deus: Opostos são unificados no absoluto. Em Deus há um princípio obscuro e cego, que é "vontade" irracional, e um principio positivo e racional, e a vida de Deus se explica justamente como vitória do positivo sobre o negativo. 0 drama humano, que consiste na luta entre o bem e o mal, entre a liberdade e a necessidade e, portanto, o espelhamento de um conflito originário de forças opostas que estão na base da própria existência e da vida de Deus. O mal existe no mundo porque já existe em Deus, e no decorrer da historia ele será vencido pelo caminho do espelhamento daquela vitoria sobre o negativo que se realiza eternamente em Deus.




Hegel (1770-1831):



o Breve biografia: Filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift (seminário da Igreja Protestante em Württemberg). Hegel influenciou escritores de posições largamente díspares, incluindo seus admiradores (Strauss, Bauer, Feuerbach, Stirner, T. H. Green, Marx, F. H. Bradley, Dewey, Sartre, Küng, Kojève, Fukuyama, Žižek, Brandom, Iqbal) e seus detratores (Schopenhauer, Schelling, Kierkegaard, Nietzsche, Peirce, Popper, Russell, Heidegger). Suas concepções influentes são de lógica especulativa ou "dialética", "idealismo absoluto", "Espírito", negatividade, "Aufheben"/"Aufhebung" ('sublimação', 'levantar', 'abolir', 'transcender', 'preservar'), dialética "Senhor/Escravo", "vida ética" e importância da história. Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx. A primeira e a mais importante das obras maiores de Hegel é sua Fenomenologia do Espírito. Em vida, Hegel ainda viu publicada a Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a Ciência da Lógica, e os Princípios (Elementos da) Filosofia do Direito. Várias outras obras sobre filosofia da história, religião, estética e história da filosofia foram compiladas a partir de anotações feitas por seus estudantes, tendo sido publicadas postumamente.

o O Sistema Hegeliano: "O que Schelling havia começado esforçando-se por conciliar o eu e o não-eu na Natureza e no Absoluto, Hegel levou-o a cabo plenamente. Permanecendo, aliás, puro idealista e, neste sentido, subjetivista, constrói um sistema mais objetivo no qual a consciência ou o eu se encontra mais no seu lugar, já não ao centro, mas num momento da evolução universal: Novo ensaio para justificar a solução panteísta do problema filosófico, (...) o sistema demonstra-se desenvolvendo-se. Mas importa primeiro apreender exatamente o sentido do princípio fundamental que é a alma de todas as deduções e lhes constitui a unidade profunda; veremos depois a aplicação em um tríplice domínio: lógico e ontológico; – físico, – moral e religioso".

§ Núcleos conceituais:

i. A realidade enquanto tal é espírito infinito (onde, por "espírito", entende-se algo que, ao mesmo tempo, assume e supera tudo o que os seus antecessores haviam dito a esse respeito, especialmente Fichte e Schelling, como veremos);

ii. A estrutura e a própria vida do espírito e, portanto, também o procedimento com o qual se desenvolve o saber filosófico, é a dialética (poder-se-ia dizer também que a espiritualidade é dialeticidade);

iii. A peculiaridade desta dialética, bem diferente de todas as formas precedentes de dialética, é o elemento "especulativo".

** Obs. sobre dialética: Dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que leva a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as idéias".

§ Realidade: A realidade e o verdadeiro não são “substância” (ou seja, um ser mais ou menos enrijecido, como tradicionalmente era considerado no mais das vezes), e sim "sujeito", ou seja, "pensamento", "espírito".

i. Crítica à Fichte:

o Concordavam que a realidade não é substância, mas sujeito e espírito (automovimento);

o Hegel afirmava que o limite imposto por Fichte entre o Eu e o não-eu nunca seria “superado”, mesmo no infinito, que seria um “mau (falso) infinito”, impedindo a restauração do Eu e não-eu, sujeito e objeto, infinito e finito;

o A antítese nunca seria superada.

ii. Crítica à Schelling:

o A identidade originária proposta por Schelling seria vazia e artificiosa (não justificava seus conteúdos);

§ Realidade do Espírito: “O espírito se autogera, gerando ao mesmo tempo sua própria determinação, e superando-a plenamente”. Igualdade que se reconstitui continuamente, ou seja, unidade-que-se-faz precisamente através do múltiplo.

i. Sempre atua e se realiza;

ii. Contínua colocação e superação do finito → Finito: Existência puramente ideal ou abstrata, não existe por si só, contra o infinito ou fora dele;

O espírito infinito hegeliano é, então, como o círculo, no qual princípio e fim coincidem de modo dinâmico, ou seja, como movimento em espiral no qual o particular é sempre posto e sempre resumido dinamicamente, no universal; o ser é sempre resumido no dever ser e o real é sempre resumido no racional. Essa é a novidade que Hegel conquista, permitindo-lhe superar claramente Fichte. (ESQUEMA DESENHO EM ESPIRAL)

iii. Vale para o real, tanto no seu todo como em suas partes;

iv. Cada momento do real é momento indispensável do Absoluto, porque este se faz e se realiza em cada um e em todos esses momentos, de modo que cada momento torna-se absolutamente necessário (exemplo da flor).

"Do mesmo modo, a determinação das relações que uma obra filosófica julga ter com outras sobre o mesmo objeto introduz um interesse estranho e obscurece o que importa ao conhecimento da verdade. Com a mesma rigidez com que a opinião comum se prende à oposição entre o verdadeiro e o falso, costuma também cobrar, ante um sistema filosófico dado, uma atitude de aprovação ou de rejeição. Acha que qualquer esclarecimento a respeito do sistema só pode ser uma ou outra. Não concebe a diversidade dos sistemas filosóficos como desenvolvimento progressivo da verdade, mas só vê na diversidade a contradição.

O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si. Porém, ao mesmo tempo, sua natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários. E essa igual necessidade que constitui unicamente a vida do todo. Mas a contradição de um sistema filosófico não costuma conceber-se desse modo; além disso, a consciência que apreende essa contradição não sabe geralmente libertá-la - ou mantê-la livre - de sua unilateralidade; nem sabe reconhecer no que aparece sob a forma de luta e contradição contra si mesmo, momentos mutuamente necessários". He

o → Real: Processo que se autocria enquanto percorre os seus momentos sucessivos e no qual o positivo é o próprio movimento, que é auto-enriquecimento progressivo (de planta a botão, de botão a flor, de flor a fruto). "Tudo o que é real é racional e tudo o que é racional é real".He

v. Movimento próprio do Espírito (movimento do refletir-se em si mesmo - circularidade):

o 1º movimento: Ser "em si";

o 2º movimento: "Ser outro" ou "fora de si";

o 3º movimento: "Ser em si e para si".

§ O mesmo ocorre com o Absoluto: a Ideia (que é o Logos, a Racionalidade pura e a Subjetividade em sentido idealista), tem em si o princípio do seu próprio desenvolvimento e, em função dele, primeiro se objetiva e se faz natureza, "alienando-se", e depois, superando essa alienação, retorna a si mesma.

vi. Espírito é a Ideia que se realiza e se contempla através do seu próprio desenvolvimento;

o Qualquer coisa que exista ou aconteça não está fora do Absoluto, mas é um seu momento insuprimível.



§ Dialética: Método capaz de ir além dos limites do "intelecto", a ponto de garantir o conhecimento "científico" do infinito e elevar a filosofia à ciência. Hegel aqui é claramente influenciado pela ideia romântica de que deve-se ir além do infinito, para se captar a realidade e o verdadeiro que se encontram no infinito.

i. O coração da dialética é o movimento (que é própria natureza do espírito), circular ou espiral com ritmo triádico;

o Tese: Momento abstrado ou intelectivo, apresentando conteúdo inadequado, pois permanece no finito. (alguns chamam de revolução);

o Antítese: Momento dialético (em sentido estrito) ou negativamente racional (passo necessário para ir além dos limites do intelecto - “Nós sabemos que todo finito, ao invés de ser termo fixo e ultimo, é mutável e transeunte; isso nada mais é do que a dialética do finito, mediante a qual o finito, enquanto em si, é diferente de si, sendo impelido também para além daquilo que é imediatamente e transformando-se no seu oposto.");

o Síntese: Momento especulativo ou positivamente racional (positivo emergente da resolução dos opostos – síntese dos opostos).

→ A dialética, assim como a realidade em geral e, portanto, o verdadeiro, é esse movimento circular que descrevemos e que jamais tem repouso.

§ Momento “especulativo”: é a reafirmação do positivo que se realiza mediante a negação do negativo próprio das antíteses dialéticas. O conhecimento dos opostos em sua unidade e uma conseqüente elevação do positivo (mantendo e restaurando o negativo) a um pano superior

** → (O especulativo constitui, portanto, o vértice a que chega a razão, a dimensão do absoluto). re

§ Proposições Filosóficas (Juízos): "Proposições especulativas" e não juízos formados por um sujeito ao qual se atribui um predicado, no sentido da lógica tradicional. Sujeito e predicado permutam-se as partes de modo a constituir justamente uma identidade dinâmica.

** → Vejamos um exemplo. Quando dizemos que "o real é racional'' em sentido hegeliano (especulativo), não entendemos (como na velha logica) que o real é o sujeito estável consolidado (substância) e que o racional é o predicado (ou seja, o acidente daquela substância), mas, ao contrário, que "o universal expressa o sentido do real". Portanto, o sujeito passa para o próprio predicado (e vice-versa). A proposição em sentido especulativo diria que o real se resume no racional e, desse modo, o predicado torna-se elemento tão essencial da proposição quanto o sujeito.

o Fenomenologia do Espírito: É o caminho que leva a consciência finita ao absoluto infinito, que coincide com o caminho que o absoluto percorreu e percorre para alcançar a si mesmo (o reentrar em si pelo ser-outro). O homem, no momento em que filosofa, eleva-se bem acima da consciência comum, ou seja, mais precisamente, que sua consciência eleva-se à altura da pura razão e que se coloca em perspectiva absoluta (ou seja, que adquire o ponto-de-vista-do-absoluto). E, "para construir o absoluto na consciência", é preciso negar e superar as finitudes da consciência, elevando desse modo o eu empírico a Eu transcendental, a razão e espírito. Re

§ Fenomenologia: Ciência do espírito. Pode-se até dizer que é o caminho que leva ao absoluto (lembrando que o finito não se separa do infinito). É o aparecer do próprio espírito em diferentes etapas, que, a partir da consciência empírica, pouco a pouco se eleva a níveis sempre mais altos;

§ Dois planos da Fenomenologia do Espírito:

i. Constituído pelo caminho percorrido pelo espírito para chegar a si mesmo ao longo de todos os acontecimentos da história do mundo que, para Hegel, é o caminho ao longo do qual o espírito se realizou e se conheceu;

ii. Próprio do simples indivíduo empírico, que deve percorrer novamente aquele mesmo caminho e apropriar-se dele.

** → A história da consciência do indivíduo, portanto, outra coisa não pode ser senão o percorrer de novo a história do espírito.

§ Objetivo da Fenomenologia: Anulação da cisão entre consciência e objeto (toda consciência é autoconsciência).

§ Itinerário da Fenomenologia: Mediação progressiva da oposição sujeito-objeto, até sua total superação.




§ Itinerário da Fenomenologia (continuação):



i. Etapas:

o Consciência: olha e conhece o mundo como algo diferente e independente de si. Ela se desdobra em três momentos sucessivos: a) da certeza sensível, b) da percepção, c) do intelecto. Cada um destes leva dialeticamente ao outro, tornando-se posteriormente autoconsciência (saber de si);

o Autoconsciência: através dos diversos momentos, aprende a saber o que ela é propriamente. Toda autoconsciência tem necessidade estrutural da outra e a luta não deve ter como resultado a morte de uma das duas, mas a submissão de uma a outra. Mas a autoconsciência só alcança a plena consciência através das etapas sucessivas: a) do “Senhor” e “Servo”, b) do estoicismo, c) do ceticismo, d) da consciência infeliz.

o Razão: A "razão" nasce no momento em que a consciência adquire "a certeza de ser toda realidade". Essa é a posição própria do idealismo. As etapas fenomenológicas da razão (ou do espírito que se manifesta como razão) são as etapas dialéticas progressivas da aquisição dessa certeza de ser toda coisa, ou seja, da aquisição da unidade de pensar e de ser. Agora, como razão, a consciência sabe ser unidade de pensamento e de ser e, nesse nível, as novas etapas consistem precisamente em verificar essa certeza. E assim temos as três etapas: A) da "razão que observa a natureza"; B) da "razão que age" e C) da "razão que adquire a consciência de ser espírito". A autoconsciência descobre que a substância ética nada mais é senão aquilo em que ela já está imersa: é o ethos (síntese dos costumes de um povo) da sociedade e do povo em que vive.

o Espírito: O espírito é o indivíduo que constitui um mundo tal como ele se realiza na vida de um povo livre. O espírito, portanto, é a unidade da autoconsciência "na perfeita liberdade e independência" e, ao mesmo tempo, em sua oposição “mediata”. O espírito é "eu que é nós, nós que é eu". As etapas fenomenológicas do espírito são: a) o espírito em si, b) o espírito que se alheia em si e c) o espírito que readquire certeza de si.

o Religião: Última etapa, através da qual chega-se a meta, ao saber absoluto. A religião é a autoconsciência do absoluto, mas ainda não perfeita, ou seja, na forma da representação e não do conceito. A forma mais elevada de religião para Hegel é o cristianismo, e nos dogmas fundamentais do cristianismo ele vê os conceitos cardeais de sua filosofia: a encarnação, o reino do espírito e a trindade expressam o conceito de espírito que se aliena para se autopossuir e que, no seu ser-outro, mantém a igualdade de si consigo, operando a síntese suprema dos opostos.

** → A superação da forma de conhecimento "representativo" próprio da religião leva, por fim, ao puro conceito e ao saber absoluto, ao seja, ao sistema da ciência, que Hegel exporia na “Lógica”, na “Filosofia da Natureza” e na “Filosofia do Espírito”, como veremos.

o Lógica: É o estudo da estrutura do Todo, no sentido que a própria lógica é a auto-estruturação do quadro do Todo. Se desenvolve inteiramente no plano definitivamente ganho da Fenomenologia, isto é, no plano do saber absoluto, em que desapareceu toda diferença entre "certeza" (subjetividade) e "verdade" (objetividade); ela não é, portanto, um puro "organon", no sentido em que o era a Iódica formal, mas é o estudo da estrutura do Todo, no sentido que a própria Iógica é o auto-estruturar-se do Todo.

i. Coincide com a ontologia (com a metafísica) – reino do pensamento puro; e nesse sentido constitui a síntese especulativa dos conteúdos que se encontram no Organon e na Metafísica de Aristóteles.

ii. É o reino do pensamento puro.

iii. Exposição de Deus: como Ele é em sua eterna essência antes da criação do mundo e de todo espírito finito. Verdade como ela é em si e por si sem véu.

iv. Logos: Elemento puro do pensamento, deve ser concebido também como desenvolvimento e processo dialético: a "ideia lógica" é a totalidade de suas determinações conceituais em seu desdobramento dialético. Para se tornar espírito, deve primeiro alienar-se na natureza e depois superar essa alienação.

§ Três etapas fundamentais da lógica:

i. Do ser: Dialética procede em sentido horizontal, constituído pela tríade “ser, não-ser, tornar-se”;

ii. Da essência: Desenvolvimento em profundidade. Identidade (inclui as diferenças) e não contradição (inclui as contradições que é a raiz de todo movimento e vitalidade);

iii. Do conceito: Dimensão da circularidade, em que cada termo prossegue no outro até identificar-se dialeticamente com ele. Tudo é um autodesdobramento do sujeito, o qual é toda a realidade.

o Filosofia da Natureza: A passagem da ideia para a natureza é a parte mais problemática da filosofia de Hegel; Hegel nos disse que a lógica é "a representação de Deus como Ele é em sua essência eterna, antes da criação da natureza e de um espírito finito". Então, aquilo que ainda falta é precisamente a "criação da natureza" e, depois, de um " espírito finito". Salientando que a linguagem da frase citada só poderia ser metafórica, porque em Hegel tudo é ideia e na ideia e, portanto, a criação da natureza não pode querer dizer o sobrevir de alguma coisa diferente da própria ideia e separada da ideia.

§ Natureza:

i. Momento de auto-ilusão da ideia, em seu estar-fora-de-si, a qual em sua existência não mostra nenhuma liberdade, mas apenas necessidade e acidentalidade. Aparece a grande sugestão da processão dialética do neoplatonismo (de que Hegel era fervoroso admirador), que concebia o desenvolvimento da realidade em sentido triádico como manência (moné) - saída (próodos) - retorno (epistrophé). A idéia lógica hegeliana corresponde à "manência", a natureza corresponde a "saída" (a natureza, como logo veremos, é a ideia que se afasta de si, que sai de si), ao passo que o espírito hegeliano é tematicamente apresentado como "retorno" da ideia em si e para si.

ii. A criação da natureza é propriamente uma "queda da ideia a partir de si". A ideia decide livremente seu próprio tornar-se natureza.

iii. A verdade e o fim da natureza, cujos graus ascendentes são a mecânica, a física e a orgânica, é o espírito.

o Filosofia do Espírito: O espírito é a ideia que retorna a si a partir de sua alteridade, é a mais alta manifestação do absoluto, o auto-realizar-se e o autoconhecer-se de Deus. Divide-se em três momentos:

§ Espírito Subjetivo: Ainda ligado a finitude (suas etapas são: antropologia, fenomenologia e psicologia);

§ Espírito Objetivo: Que se realiza na família, no sociedade, nas leis do Estado (suas etapas são: direito abstrato, moralidade e eticidade);

§ Espírito Absoluto: A ideia conclui seu "retorno a si" no autoconhecer-se absoluto. É Deus que se concilia com sua comunidade e consigo mesmo. (suas etapas são: intuição sensível, a representação da fé [religião] e o conceito puro [a filosofia]→ na qual se unificam a objetividade da arte e a subjetividade da religião: aqui, diz Hegel, a ideia eterna sendo-em-si-e-para-si se ativa, se produz e goza de si mesma eternamente como espírito absoluto.







Hegelianismo: “Todo o pensamento moderno posterior a Hegel pode ser visto como uma espécie de acerto de contas com o "totalitarismo racionalista" hegeliano. Os irracionalismos e as filosofias antidialéticas posteriores têm todos em comum a reação contra a razão que Hegel tentou impor em todos os níveis de modo absolutista” (Re). Está morta na filosofia de Hegel a pretensão de dar ao homem o totalizante conhecimento absoluto do absoluto; está viva toda uma série de suas extraordinárias análises que se estendem pelos vários campos do saber e que constituem material quase que inexaurível. E é por isso que, logo depois que alguém o declara definitivamente morto, Hegel renasce do modo menos pensado.

o Direita Hegeliana: Radicalizou o sistema. Representada, entre outros, por Karl Friedrich Goschel (1781-1861), Kasimir Conradi (1784-1849) e Georg Andreas Gabler (1786-1853) – Características Principais:

§ a) Exaltação do Estado prussiano como o ponto de chegada da dialética, como a realização máxima da racionalidade do espírito (justificação do Estado existente); com suas instituições e suas realizações econômicas e sociais devia ser visto como o ponto de chegada da dialética, como a realização máxima da racionalidade do espírito;

§ b) Exaltação ao cristianismo, em que a filosofia de Hegel adéqua a religião ao pensamento moderno (Escolástica do hegelianismo). A filosofia de Hegel é seguramente compatível com os dogmas do cristianismo e representa o esforço mais adequado para tornar a fé cristã aceitável ao pensamento moderno e justificá-lo diante da razão.

o Esquerda Hegeliana: Podou e redimensionou amplamente o sistema. Características Principais:

§ a) A dialética histórica deveria negar e superar os atuais estados políticos. Invocava a teoria da dialética para sustentar que não era possível deter-se em configuração política e que a dialética histórica deveria negá-la para superá-la e realizar uma racionalidade mais elevada.

§ b) A religião deveria ser substituída pela filosofia. Sustentava a inconciliabilidade entre filosofia hegeliana e cristianismo, negando ao cristianismo qualquer elemento de transcendência e reduzindo a religião de mensagem divina a fato essencialmente humano, através do qual podemos vir a saber muitas coisas, mas não sobre Deus e sim sobre o próprio homem, suas aspirações profundas e sua historia.

** → Principal diferença política: a direita propunha a filosofia hegeliana como justificação do Estado existente, ao passo que a esquerda, em nome da dialética, pretendia negar o Estado existente.

** → Principal diferença religiosa: Hegel sustentara que tanto a religião como a filosofia têm o mesmo conteúdo, mas também dissera que a religião expressa esse conteúdo na forma de representação, ao passo que a filosofia o expressa na forma de conceito. Consequentemente, para Hegel, o verdadeiro conteúdo da religião devia ser retomado pela filosofia, transformado em conceitos, e portanto desaparecer enquanto verdade religiosa e tornar-se razão filosófica. A direita hegeliana baseava-se no fato de que Hegel reconhecia à religião histórica plena validade no âmbito da sua forma; a esquerda, porém, baseava-se no fato de que, para Hegel, a religião não é razão, e sim representação e, portanto, redutível a mito.

§ Nomes em destaque:

i. David Friedrich Strauss (1808-1874): o Evangelho não é história, mas "mito". E a verdade do mito é que a união do finito e do infinito não ocorre em um homem particular, mas é característica da humanidade. Autor de uma Vida de Jesus (1835), o Evangelho nos apresenta o "Cristo da fé: e uma transfiguração dos fatos, que brotou da espera do Messias por parte do povo, sob o estimulo do fascínio poderoso de Jesus. E a verdade do mito é que a união do finito e do infinito não ocorre em um homem particular, mas é característica da humanidade. Cristo, escreve Strauss, "é aquele no qual a consciência da unidade do divino e do humano surgiu pela primeira vez e com energia, e que neste sentido e único e inigualável na história do mundo".

ii. Bruno Bauer (1809-1882): Ataca o cristianismo do lado ético. E se pergunta: "Quem é o egoísta?". O crente, que deixa de lado o Estado, a história e a humanidade, e sobre as ruínas da razão e da humanidade ocupa-se apenas com sua alma miserável e sem interesse? Ou o homem, que vive e trabalha junto com os homens, e em família, Estado, arte e ciência satisfaz sua paixão pelo progresso da humanidade?

iii. Max Stirner (pseudônimo de Johann Kaspar Schmidt, 1806-1856): Única realidade e único valor é o individuo (egoísmo absoluto). Para ser ateus até o fim, é preciso negar tanto Deus como a humanidade, e isto em nome da única realidade e do único valor que é o individuo. O indivíduo é a única fonte do direito: nem Deus, nem a ciência, nem a revolução (que impõe outras escravidões) são legitimados para impor regras ao indivíduo. A consequência de tudo isso é um egoísmo absoluto: o único entra em uma associação porque isso Ihe é cômodo e considera os outros como objetos. O único será unicamente sua liberdade, sua vontade, seu poder. Esta é a sua propriedade: "Não aquela árvore, e sim minha força de dispor dela conforme me aprouver, constitui a minha propriedade". A propriedade do único é o seu poder.

iv. Arnold Ruge (1802-1880) - cuja influência sobre Marx será não indiferente - combate o pensamento de Hegel em nome da história concreta e no plano da política. E na Filosofia do direito hegeliano e crítica de nosso tempo (1842) ele afirma que "a razão, que quer despachar as fluidas existências da história por determinações eternas, cai em um jogo ridículo de prestigio".







· Ludwig Feuerbach (1804-1872): Filósofo e teólogo humanista alemão, um dos principais nomes da esquerda hegeliana e um dos pensadores que mais influenciou Karl Marx.

o Redução da teologia a antropologia ("homo homini deus est"):

§ Negação ao idealismo: que seria extravio do homem concreto.

** → Para Feuerbach, Hegel "pôs de lado os fundamentos e as causas naturais, as bases da filosofia genético-crítica". Mas uma filosofia que deixa de lado a natureza é vã especulação.

§ O Deus transcendente da tradição é substituindo pelo espírito hegeliano (isto é, digamos, a realidade humana em sua abstração).

§ Negação ao teísmo: Não é Deus que cria o homem e sim o homem que cria Deus.

§ A união entre finito e infinito não se realiza em Deus ou na ideia absoluta e sim no homem.

§ Religião (fato humano, totalmente humano): Relacionar-se do homem com sua própria essência (nisso consiste sua verdade). Mas sua essência não como sua e sim como outra essência, separada e dividida dele, até oposta (nisso consiste sua falsidade)". A religião, pois, é a projeção da essência do homem: "Deus é o espelho do homem", afirma Feuerbach.

§ Deus seria a projeção exterior do desejo de perfeição do homem. "A consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si" (Fe).

§ Todas as qualificações do ser divino são [...] qualificações do ser humano". O ser divino é unicamente "o ser do homem libertado dos limites do individuo, isto é, dos limites da corporeidade e da realidade, mas objetivado, ou seja, contemplado e adorado como outro ser, distinto dele".

o O "humanismo" de Feuerbach: Substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". "Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana." Feuerbach substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". E, assim, pretende substituir a moral que recomenda o amor a Deus pela moral que recomenda o amor ao homem em nome do homem. Essa é a intenção do humanismo de Feuerbach: a de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens, "de homens que crêem em homens que pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em estudiosos do aquém, de cristãos - que, por seu próprio reconhecimento, são metade animais e metade anjos - em homens em sua inteireza".




· Karl Marx (1818 – 1863): Foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia várias áreas acadêmicas. Marx foi o segundo de nove filhos, de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837). Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários. (Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união). Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, Helena Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres. De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo belga. Junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana. Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva. Foi enterrado na condição de apátrida, no Cemitério de Highgate, em Londres.



o Principais críticas:

§ Hegel:

· Subordinação da sociedade civil ao Estado: Sua filosofia seria apenas ideologia, para legitimar a ordem existente;

· Inversão do sujeito e o predicado: Sujeitos reais (indivíduos humanos) são transformados em predicados da “substância mítica”. "Como não é a religião que cria o homem, mas o homem que cria a religião, da mesma forma não é a constituição que cria o povo, mas o povo que cria a constituição" (KM).

· Hegel transforma em verdades filosóficas dados que são puros fatos históricos e empíricos; "Hegel não deve ser censurado por descrever o ser do Estado moderno tal como é, mas sim por considerar aquilo que é como a essência do Estado". O problema, portanto, é que em Hegel, depois de ter concebido a essência ou substância da pêra ou da maçã, até as peras reais tornam-se encarnações do fruto absoluto, ou seja, peras e maçãs aparentes.

· Transformação de espiritualismo político em materialismo.

§ Esquerda alemã: Marx e Engels, com A sagrada família, atacam sobretudo Bruno Bauer e, depois, com A ideologia alemã, estendem a polêmica a Stirner e Feuerbach.

· Conservadorismo camuflado: Combatem contra as "frases" e não contra o mundo real do qual tais "frases" são o reflexo. Com efeito, "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência";

· Pensadores ideológicos como Hegel;

· Radicalismo fraco: Mantinham a teoria separada da práxis (Max as une). "Ser radical significa colher as coisas pela raiz. Mas, para o homem, a raiz é o próprio homem". E a "libertação" do homem não avança reduzindo "a filosofia, a teologia, a substância e toda a imundície à 'autoconsciência'", ou libertando o homem do domínio dessas frases. "A libertação é ato histórico e não ato ideal, concretizando-se por condições históricas, pelo estado da indústria, do comércio, da agricultura [...]". Os jovens hegelianos mantém a teoria separada da práxis; Marx as une.

§ Economistas Clássicos: "Adam Smith e David Ricardo [...] lançaram as bases da teoria segundo a qual o valor deriva do trabalho. Marx continuou a obra deles, deu rigorosa base científica e desenvolveu de modo coerente essa teoria. Ele demonstrou que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário ou do tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção". E prossegue: "Mas onde os economistas burgueses viam relações entre objetos (troca de uma mercadoria por outra), Marx descobriu relações entre homens". (Lênin)

· Transformação de fato em lei – em lei eterna (ideologia). Absolutiza e justifica um sistema de relações existentes em determinado estágio da história humana;

· À máxima produção de riqueza corresponde o empobrecimento máximo do operário. "A economia política parte do fato da propriedade privada. Não a explica. Expressa o processo material da propriedade privada, o processo que se dá na realidade, em fórmulas gerais e abstratas, que depois faz valer como leis. Ela não compreende essas leis, isto é, não mostra como elas derivam da essência da propriedade privada". Para a economia política "vale [...] como razão última o interesse do capitalista: isto é, ela supõe aquilo que deve explicar.

· O capital é "a propriedade privada dos produtos do trabalho alheio".

· A propriedade privada é o “resultado e a consequência necessária do trabalho expropriado [...]”. A propriedade privada é fato que deriva da alienação do trabalho" humano. A propriedade privada não é dado absoluto que se deva pressupor em toda argumentação. Ela é muito mais "o produto, o resultado e a consequência necessária do trabalho expropriado [...]”. A propriedade privada é fato que deriva da alienação do trabalho" humano. Como na religião, afirma Marx, "quanto mais o homem põe em Deus, menos conserva em si mesmo. O operário põe sua vida no objeto: e ela deixa de pertencer a ele, passando a pertencer ao objeto". E esse objeto, o seu produto, "existe fora dele, independente, estranho a ele, como que uma potência econômica diante dele; e a vida, por ele dada ao objeto, agora o confronta, estranha e inimiga ".

§ Socialismo utópico: No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels distinguem seu socialismo cientifico dos outros tipos de socialismo, isto é, do socialismo revolucionário, do socialismo burguês e, particularmente, do socialismo e comunismo crítico-utópico.

· Inatividade histórica autônoma do proletariado. Desse modo, resvalam para o utopismo: criticam a sociedade capitalista, condenam-na e maldizem- na, mas não sabem encontrar caminho de saída. De fato, acabam por se identificar com a conservação.

· Incompreensão do movimento da história (materialista dialético - a dinâmica do desenvolvimento histórico se realiza por meio da luta de classes);

· Supressão e não divisão da propriedade privada (através da revolução vitoriosa da classe operária);

§ Religião: Feuerbach sustentara que a teologia e antropologia. Sobre esse ponto, sobre esse humanismo materialista, Marx está de acordo com Feuerbach.

· É o homem que cria a religião: Alienação do homem, projetando-se em um Deus imaginário - os homens alienam seu ser projetando-o em um Deus imaginário somente quando a existência real na sociedade de classes impede o desenvolvimento e a realização de sua humanidade. Disso deriva que, para superar a alienação religiosa, não basta denunciá-la, mas é preciso mudar as condições de vida que permitem à "quimera celeste" surgir e prosperar.

· Ópio do povo: a religião seria consequência de um mundo irracional e injusto, suspiro da criatura oprimida. É o homem que cria a religião. Mas, diz Marx, "o homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, que é consciência invertida do mundo, porque também são um mundo invertido. A religião é a teoria invertida deste mundo [...I". Assim, torna-se evidente que "a luta contra a religião é [...] a luta contra aquele mundo do qual a religião é o aroma espiritual". Existe o mundo fantástico dos deuses porque existe o mundo irracional e injusto dos homens. "A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, o espírito de situações em que o espírito está ausente. Ela é o ópio do povo".

o Alienação do Trabalho: Na “terra firme e redonda”, Marx encontra homens alienados, expropriados de seu valor de homens por obra da expropriação ou alienação de seu trabalho. O trabalho é externo ao operário, ou seja, não pertence a seu ser e, portanto, em seu trabalho ele não se afirma, mas se nega, sente-se n ão satisfeito mas infeliz, não desenvolve livre energia física e espiritual, mas desgasta seu corpo e destrói seu espírito".

§ Trabalho humanizado é social antropógeno: O homem não é alienado; ele vive humanamente, quando pode humanizar a natureza, junto com os outros, conforme uma ideia sua própria. Para ele, tudo isso significa que o homem pode viver humanamente, isto é, fazer-se enquanto homem, precisamente humanizando a natureza segundo suas necessidades e suas ideias, juntamente com os outros homens. O trabalho social é antropógeno. E distingue o homem dos outros animais: com efeito, o homem pode transformar a natureza, objetivar-se nela e humanizá-la, pode fazer dela seu corpo inorgânico.

§ O trabalho deixa de ser humano quando não é mais feito juntamente com outros homens.

§ Na alienação do trabalho, o operário é mercadoria na mão do capital.

§ Todas as outras formas de alienação derivam da alienação do trabalho;

§ A superação da alienação ocorrerá na luta de classes, que eliminará a propriedade privada e o trabalho alienado.

o Materialismo histórico: É a teoria segundo a qual a estrutura econômica (infra-estrutura) determina a superestrutura das ideias.

§ Estrutura econômica (infra-estrutura): É todo aparato de condições que permite haja a produção de bens e serviços.

§ Superestrutura ideológica: A superestrutura compreende a estrutura jurídica (o Direito e o Estado) e a ideologia (moral, política, religião, artes etc.).

§ "Não é a consciência dos homens que determina o ser deles, mas, ao contrário, é o ser social deles que determina a consciência deles". (km)

§ “As ideias dominantes de uma época foram sempre as ideias da classe dominante”. (km)

o Materialismo dialético: A dialética é a lei de desenvolvimento da realidade histórica e exprime a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a comunista (com fim da exploração e da alienação). A alienação não é para Marx figura especulativa, e sim a condição histórica em que o homem se encontra em relação à propriedade privada dos meios de produção, da mesma forma também a dialética - entendida hegelianamente como síntese dos contrários - é assumida por Marx, só que ele a inverte.

§ Através da dialética permite-se compreender o movimento real da história. "Nós conhecemos apenas uma única ciência: a ciência da história”. (km)

§ O confronto entre o estado de coisas existente e sua negação é inevitável - e esse confronto se resolverá com a superação do estado existente de coisas.

o A luta de classes: Opressores e oprimidos - eis, portanto, o que Marx vê no desenrolar da história humana em sua totalidade.

§ Sociedade atual dividida em duas grandes classes: burguesia e proletariado.

· Burguesia: Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e empregadores de assalariados, fruta da negação e superação do sistema feudal.

· Proletariado: Classe dos assalariados modernos que, não tendo meios de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver. Contradição interna da burguesia, que por negá-la vai superá-la;

o O Capital:

§ Mercadoria: Tem duplo valor, valor de uso e valor de troca.

· Valor de uso: baseia-se na qualidade da mercadoria.

· Valor de troca: algo de idêntico existente em mercadorias diferentes (medidas determinadas de tempo de trabalho).

· O valor das mercadorias é determinado pelo trabalho.

§ Mais-valia: Produto suplementar não pago pelo capitalista ao operário (força de trabalho executada pelo trabalhador que vai além de sua necessidade salarial e que é apropriada pelo capitalista). O produto do trabalho é propriedade não do trabalhador, mas do capitalista. Ora, se o proletário trabalha doze horas e em seis horas produz o tanto para cobrir o quanto o capitalista despende para o salário, o produto das outras seis horas de trabalho e valor do qual o capitalista se apropria. Este valor que passa para as mãos do capitalista e a mais-valia.

§ Acumulação capitalista: O capitalista acumula mais valores oriundos do “mais-valia” e reinveste para não sucumbir a concorrência, concentrando a riqueza sempre em um número menor de capitalistas e aumentando o “exército de trabalho de reserva”, ao eliminar operários por novas máquinas. “O monopólio do capital torna-se vinculo do modo de produção. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho alcançam um ponto em que se tornam incompatíveis com seu envoltório capitalista. E ele se rompe. Soa então a última hora da propriedade privada capitalista. os expropriadores são expropriados".

§ O advento do comunismo: Passagem necessária de uma sociedade classista para uma sociedade sem classes.

· O proletariado é a antítese da burguesia. Ao longo da via-crúcis da dialética, o proletariado leva em seus ombros a cruz da humanidade inteira. A aurora da revolução é um dia inevitável. E esse dia, que marcara o triunfo do proletariado, será o dia da ressurreição de toda a humanidade.

· A produção capitalista gera sua própria negação. E é assim que se passa da sociedade capitalista para o comunismo.

· O comunismo é "o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano".

· Marx não explica como será a nova sociedade. Para dizer a verdade, Marx não adianta muito como será a nova sociedade, que, depois da derrubada da sociedade capitalista, são poderá se realizar por etapas. No inicio, ainda haveria certa desigualdade entre os homens. Mas depois, mais tarde, quando desaparecer a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, e quando o trabalho se houver tornado necessidade e não meio de vida, então, escreve Marx na Critica ao programa de Gotha (1875), a nova sociedade "poderá escrever em sua bandeira: de cada qual segundo sua capacidade, a cada qual segundo suas necessidades".

§ Ditadura do proletariado:

· Etapa necessária para o comunismo. As propriedades serão abolidas, concentrará todos os instrumentos de produção na mão do Estado (que será o proletariado organizado como classe dominante), através dos seguintes procedimentos:

o "Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda fundiária para as despesas do Estado;

o Impostos fortemente progressivos;

o Abolição do direito de sucessão;

o Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes;

o Concentração do crédito nas mãos do Estado, mediante um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo;

o Concentração de todos os meios de transporte nas mãos do Estado;

o Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção, desbravamento e melhoria das terras segundo um plano coletivo;

o Obrigação de trabalho igual para todos, constituição de exércitos industriais, especialmente para a agricultura;

o Unificação do exercício da agricultura e da indústria, medidas adequadas para eliminar gradualmente o antagonismo entre cidade e campo;

o Instrução pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas em sua forma atual. Combinação da instrução com a produção material e assim por diante".(KM)

· Problemas abertos:

o Marxismo: Nova religião para muitos que veneram seus textos como sagrados;

o O materialismo histórico (o aspecto econômico dos eventos histórico-sociais é sempre determinante) é uma teoria dogmática não aceitável.

o Nem sempre o fator econômico é determinante sobre os fatos histórico-sociais; Não é verdade, portanto, que a mudança da estrutura econômica envolve necessariamente também uma mudança no mudo das ideias: uma religião como a cristã atravessou as mais diversas estruturas econômicas; e o mesmo vale para arte.

o Não é raro o caso de que uma ideia científica, um ideal ético ou uma fé religiosa influam de modo decisivo sobre a própria economia;

o A dialética não é teoria científica e sim filosofia da história (tornando-se simples fé).

o A chamada contradição dialética não tem nada a ver com a contradição lógica (p e não-p). A contradição dialética é contraste de interesses, oposição que pode e deve ser descrita e explicada por teorias não contraditórias.

o Falha a crítica da religião: A consciência religiosa não é reacionária em si mesma; ela não afasta por si mesma os olhos dos homens desta terra; ela não é em si mesma o ópio do povo. Também não podemos aceitar a teoria marxista segundo a qual "a religião é o ópio do povo". Essa teoria é discurso de um fiel de outra religião. Com efeito, o marxismo clássico confundiu um tipo de organização eclesiástica histórica com a religião em si e com todas as religiões. Assim, absolutizou um fato histórico. A consciência religiosa não é reacionária em si mesma; ela não afasta por si mesma os olhos dos homens desta terra; ela não é em si mesma o ópio do povo. Foi o próprio Togliatti, entre tantos outros marxistas, como Roger Garaudy, que afirmou e insistiu que "a aspiração a uma sociedade socialista não só pode abrir caminho em homens que têm uma fé religiosa, mas tal aspiração pode também encontrar estímulo na própria consciência religiosa, posta diante dos dramáticos problemas do mundo contemporâneo" . Re

o Falha a crítica a estética: como se explica o fato de que produções artísticas que deveriam representar a superestrutura de estruturas já inexistentes continuem a despertar nosso interesse?

o Previsões erradas: Errou ao prever o aumento da miséria da classe operária; de uma revolução que levaria ao socialismo e isso aconteceria, antes que em qualquer outro lugar, em países industrialmente avançados; que a evolução técnica dos "meios de produção" levaria ao desenvolvimento social, político e ideológico, e não ao contrário. Uma filosofia da práxis, como é o marxismo, não pode deixar de atentar para os resultados práticos das políticas que se consideram marxistas. As cadeias que deviam ser quebradas tornaram-se sempre mais estreitas e densas. A máquina estatal que devia desaparecer agigantou-se sempre mais, e a liberdade do individuo frequentemente foi esmagada. A abolição das classes e do Estado foi adiada para futuro impreciso e indeterminável, mostrando claramente o caráter utópico das ideias de Marx sobre o futuro da sociedade.

o O valor de mercado não é determinado pelo trabalho e sim pela relação oferta/demanda no mercado.



Principais contestadores da filosofia da Hegel:




· Herbart (1776-1841):

o Axioma realista: a realidade existe independentemente do eu. Desta realidade externa ao eu e que existe independentemente do pensamento, falam tanto a ciência como a filosofia.

o Tarefa da ciência: Verificação dos dados de fato;

o Tarefa da filosofia: "Elaboração dos conceitos", isto é, na análise dos conceitos fundamentais que estruturam nossa experiência da realidade. "Existem efetivamente fora de nos uma quantidade de seres cuja natureza própria e simples não conhecemos, mas sobre cujas condições internas e externas nos é possível adquirir uma soma de conhecimentos que podem aumentar ao infinito".




Arthur Schopenhauer (1788-1860): Filósofo alemão do século XIX. Sua obra principal é "O mundo como vontade e representação" (1819), embora o seu livro "Parerga e Paralipomena" (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo (e a essência da mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de todos os povos em todos os tempos) como uma confirmação dessa visão realista-pessimista. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Eduard von Hartmann e Friedrich Nietzsche. Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tinha a ver com a felicidade. Principal (ou mais apaixonado) crítico de Hegel, chegando a chamar sua filosofia de "palhaçada filosófica".

o "O mundo é uma representação minha" - A existência e a perceptibilidade são termos conversíveis entre si. “Nenhuma verdade é mais certa, mais absoluta e mais flagrante do que essa verdade, válida para todo ser vivo e pensante. "Ainda que só o homem possa alcançá-la por consciência abstrata e reflexa. Quando o homem adquire essa consciência, o espírito filosófico entrou nele. Então, sabe com clara certeza que não conhece o sol nem a terra, mas somente que tem um olho que vê o sol e uma mão que sente o contato de terra; sabe que o mundo circunstante só existe como representação, isto é, sempre e somente em relação com outro ser, com o ser que o percebe, com ele mesmo" (Sh) - é uma "verdade" já bastante conhecida da filosofia moderna, de Descartes a Berkeley.

§ Duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis, que são o objeto e o sujeito.

1. Sujeito: "o que tudo conhece, sem ser conhecido por ninguém"(Sh); "O sujeito, portanto, é o sustentáculo do mundo, a condição universal, sempre subentendida, de todo fenômeno e de todo objeto: com efeito, tudo o que existe só existe em função do sujeito" (Sh); Fora do espaço e do tempo (formas a priori); Inteiro e individual em cada ser (capaz de representação);

2. Objeto: Aquilo que é conhecido.

o É condicionado no espaço e do tempo (por meio das quais se tem a pluralidade), pois toda coisa existe no espaço e no tempo; Plural;

** → O sujeito e o objeto, portanto, são inseparáveis, também para o pensamento; cada uma das duas metades "não tem sentido nem existência senão por meio da outra e em função da outra, ou seja, cada uma existe com a outra e com ela se dissipa".

o Superação do materialismo e do idealismo: o materialismo está errado por negar o sujeito, reduzindo-o a matéria, e o idealismo - o de Fichte, por exemplo - está errado também porque nega o objeto, reduzindo-o ao sujeito. O realismo também está errado, pois a realidade externa não é reflexão daquilo que está em nossa mente. O mundo como nos aparece em sua imediaticidade, e que é considerado como a realidade em si, na verdade é um conjunto de representações condicionadas pelas formas a priori da consciência, que, para Schopenhauer, são o tempo, o espaço e a causalidade.

§ Formas a priori: Tempo, espaço e causalidade. Seguindo Kant, toda a nossa sensação e percepção de objetos é espacializada e temporalizada.

1. Causalidade (Cosmo cognoscitivo): Ação do intelecto de ordenação das sensações e percepções.

** → Schopenhauer reduz as doze categorias kantianas unicamente à categoria da causalidade. É por meio da categoria da causalidade que os objetos determinados espacial e temporalmente, que acontecem aqui ou alhures, neste ou naquele momento, são postos um como determinante (ou causa) e outro como determinado (ou efeito), de modo que "toda a existência de todos os objetos, enquanto objetos, representações e nada mais, em tudo e por tudo encabeça aquela sua necessária e intercambiável relação".

2. A ação causal do objeto sobre os outros objetos é toda a realidade do objeto.

3. Quatro formas de necessidade que estruturam rigidamente todo o mundo da representação: necessidade física, necessidade lógica, necessidade matemática, necessidade moral.

o O mundo como fenômeno é ilusão e aparência; O mundo, portanto, é uma representação minha ordenada pelas categorias do espaço, do tempo e da causalidade. O intelecto ordena e sistematiza, através da categoria da causalidade, os dados das intuições espaciotemporais, captando assim os nexos entre os objetos e as leis do seu comportamento.

§ O sonho tem somente menos continuidade e coerência do que a vigília. Como representação, portanto, o mundo é fenômeno e, por isso, não é possível uma distinção real e clara entre o sonho e a vigília. "a vida e os sonhos são páginas do mesmo livro"(sh).

§ O mundo como representação não é a coisa em si, é fenômeno, "é um objeto para o sujeito". Mas Schopenhauer não fala, como Kant, do fenômeno como de representação que não diz respeito e não pode captar o númeno, isto é, a coisa em si. Para Schopenhauer, o fenômeno, aquilo de que fala a representação é, ilusão e aparência, é aquilo que, na filosofia hindu, chama-se o "véu de Maya", que cobre a face das coisas. Para Kant, em suma, o fenômeno é a única realidade cognoscível, mas, para Schopenhauer, o fenômeno é a ilusão que envolve a realidade das coisas em sua essência primigênia e autêntica.

§ O fenômeno é a ilusão que envolve a realidade das coisas em sua essência primigênia (não sendo filho de ninguém) e autêntica.

o Homem: Representação e fenômeno, sujeito que conhece, "corpo". Corpo conhecido por dois modos:

§ Objeto entre objetos (representação), submetido às suas leis;

§ Vontade tornada visível (corpo volitivo). Todo ato volitivo e a ação do corpo são uma só e mesma coisa, que nos é dada de dois modos essencialmente diversos: por um lado, imediatamente; por outro lado, como intuição pelo intelecto. Todo ato real de sua vontade, infalivelmente, é sempre movimento de seu corpo;

o Vontade: “Essência do nosso ser”. A imersão no profundo de nós mesmos faz com que descubramos que somos vontade. É única, cega, livre, sem objetivo e irracional. É a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo; É aquela que aparece na força natural cega e aquela que se manifesta na conduta racional do homem. A enorme diferença que separa os dois casos não diz respeito senão ao grau da manifestação; a essência do que se manifesta permanece absolutamente intacta.

§ Reflexão que torna possível ultrapassar o fenômeno e chegar a coisa em si.

§ A universalidade dos fenômenos tem uma só e idêntica essência.

§ A "coisa em si é somente a vontade, que, a esse titulo, não é de modo nenhum representação; ao contrário, dela difere toto genere" (sh).

** → Em outras palavras, a consciência e o sentimento de nosso corpo como vontade levam-nos a reconhecer que toda a universalidade dos fenômenos, embora tão diversos em suas manifestações, tem uma só e idêntica essência: aquela que conhecemos mais diretamente, mais intimamente e melhor do que qualquer outra, aquela que, em fulgida manifestação, toma o nome de vontade. E, afirma Schopenhauer, quem compreender isso “verá vontade [...] na força que faz crescer e vegetar a planta; na força que dá forma ao cristal; na força que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que se experimenta no contato entre dois metais heterogêneos; na força que se manifesta nas afinidades eletivas da matéria, em forma de atração e repulsão, de combinação e decomposição; e até na gravidade, que age com total potência em toda matéria e atrai a pedra para a terra assim como a terra para o céu".

§ A vida oscila entre a dor e o tédio: A essência do mundo é vontade insaciável. A vontade é conflito e dilaceração e, portanto, dor. E "a medida que o conhecimento torna-se mais distinto, e que a consciência se eleva, cresce também o tormento, que alcança no homem o grau mais alto, tanto mais elevado quanto mais inteligente é o homem; o homem de gênio é o que sofre mais".

1. A vontade é tensão contínua. "Como todo tender nasce de uma privação, do descontentamento com o próprio estado, é, portanto, enquanto não for satisfeito, um sofrer; mas nenhuma satisfação é durável; aliás, nada mais é do que o ponto de partida de novo tender. O tender se vê sempre impedido, está sempre em luta, e, portanto, é sempre um sofrer. Não há nenhum fim último para o tender; portanto, nenhuma medida e nenhum fim para o sofrer" (sh).

2. A vida é necessidade e dor.

** → O homem é um animal selvagem e feroz. Conhecemos o homem somente naquele estado de mansidão e domesticidade chamado civilização, mas basta um pouco de anarquia para que nele se manifeste a verdadeira natureza humana: "O homem é o único animal que faz os outros sofrerem pelo único objetivo de fazer sofrer".

3. A vida é dor e a história é acaso cego. O progresso e uma ilusão. A história não é, como pretende Hegel, racionalidade e progresso; todo finalismo e qualquer otimismo são injustificáveis. Substancialmente, o que é positivo, ou seja, real, é a dor; ao passo que o que é negativo, ou seja, ilusório, é a felicidade. E a dor e a tragédia não são somente a essência da vida dos indivíduos, mas também a essência da história de toda a humanidade.

o Experiência estética (arte e ascese): Anulação temporária da vontade e, portanto, da dor. Só podemos nos libertar da dor e do tédio e nos subtrair à cadeia infinita das necessidades mediante a arte e a ascese. Com efeito, na experiência estética, o individuo separa-se das cadeias da vontade, afasta-se de seus desejos, anula suas necessidades, deixando de olhar os objetos em função de eles Ihe poderem ser úteis ou nocivos.

§ Rompimento com a servidão à vontade. Na experiência estética não estamos mais conscientes de nós mesmos, mas somente dos objetos intuídos. Deixando de ser o instrumento que procura os meios para satisfazê-la; torna-se puro olho que contempla.

§ A arte provê momentos raros e breves de libertação. A arte objetiva a vontade e quem a contempla está, de certo modo, fora dela. Arte: da arquitetura (que expressa a ideia das forças naturais) a escultura, da pintura a poesia, chega a tragédia, a mais elevada forma de arte.

§ Apenas na ascese se obtém a liberdade da dor da vida e a redenção total do homem, pois suprime-se no homem a vontade de viver. Aquela ascese que faz Schopenhauer sentir-se próximo dos sábios hindus e dos santos ascetas do cristianismo. A ascese é o horror que experimentamos pela essência de um mundo cheio de dor. E "o primeiro passo na ascese, ou na negação da vontade, é a castidade livre e perfeita". A castidade perfeita liberta da realização fundamental da vontade no seu impulso de geração. A pobreza voluntária e intencional, o conformismo e o sacrifício, também tendem para o mesmo objetivo, isto é, a anulação da vontade.

** → A ascese significa que a libertação do homem em relação ao alternar-se fatal da dor e do tédio, só pode se realizar suprimindo em nos mesmos a raiz do mal, isto é, a vontade de viver. E o primeiro passo para tal supressão se verifica pela realização da justiça, ou seja, mediante o reconhecimento dos outros como iguais a nos mesmos. Entretanto, a justiça golpeia o egoísmo, mas leva-me a considerar os outros como distintos de mim, como diferentes de mim. E, por isso, não acaba com o principium individuationis que fundamenta meu egoísmo e me contrapõe aos outros. É preciso, portanto, ultrapassar a justiça e ter a coragem de eliminar toda distinção entre nossa individualidade e a dos outros, abrindo os olhos para o fato de que todos nos estamos envolvidos na mesma desventura. Esse passo ulterior é a bondade, o amor desinteressado para com seres que carregam a mesma cruz e vivem nosso mesmo destino trágico. Bondade, portanto, que é compaixão, sentir a dor do outro por meio da compreensão de nossa própria dor: "Todo amor (ágape, charitas) é compaixão". E é precisamente a compaixão que Schopenhauer insere como fundamento da ética. Em todo caso, porém, também a piedade, isto é, o compadecer, ainda é padecer. E o caminho para erradicar de modo decisivo a vontade de viver e, portanto, a dor, é o caminho da ascese.






· Kierkegaard (1813-1855): Seu pai, comerciante, desposara em segundas núpcias sua própria doméstica. Último dos sete filhos, rejeitou a filosofia hegeliana do seu tempo e aquilo que ele viu como o formalismo vácuo da igreja luterana dinamarquesa. Por causa disto, a obra de Kierkegaard é, algumas vezes, caracterizada como existencialismo cristão, em oposição ao existencialismo de Jean-Paul Sartre ou ao proto-existencialismo de Friedrich Nietzsche, ambos derivados de uma forte base ateísta. Rompeu um noivado com Regine Olsen (1822–1904), pois, na opinão de Kierkegaard, um penitente, alguém que abraçou o ideal cristão da vida, com toda aquela tremenda seriedade que o cristianismo comporta, não pode viver a tranquila existência de homem casado. Não pode aceitar o compromisso mundano e a gratificante inserção na ordem constituída. Eis o seu pensamento de fundo: os homens querem "viver tranquilos e atravessar felizmente o mundo". Esta é a razão pela qual "toda a cristandade é um disfarce, mas o cristianismo de fato não existe". E Kierkegaard se escandaliza diante da realidade, para ele terrível, de que, entre as heresias e os cismas, jamais se encontra a heresia mais sutil e mais cheia de perigos: a heresia que consiste em "brincar de cristianismo".



** → Pensamento essencialmente religioso: é a defesa da existência do indivíduo, existência que só se torna autêntica diante da transcendência de Deus. O indivíduo e Deus, e a relação do indivíduo com Deus, eis os temas de fundo da filosofia de Kierkegaard, que, desse modo, se configura como verdadeira autobiografia teológica. Como observa Kierkegaard em seu Diário, "o cristianismo não existe mais, mas, para que se possa falar em reavê-lo, era preciso despedaçar o coração de um poeta - e esse poeta sou eu". E o poeta cristão, que "não crê em si mesmo, mas somente em Deus", afirma em "O Momento" que morria tranquilo: a luta acabou e ele se declara infinitamente grato à Providência, que lhe concedeu sofrer para propagar a ideia do cristianismo como "verdade sofredora". A verdade cristã, por meio da escola do sofrimento, o tornara livre: "Humilhado através de tremenda escola, também adquiri a franqueza".

o Indivíduo: Baluarte da transcendência, original, irredutível, irrepetível e insubstituível.

§ A existência corresponde à realidade singular, ao indivíduo: "um homem singular não tem certamente uma existência conceitual". A filosofia se interessa pelos conceitos, ela não se preocupa com o existente concreto que somos eu, ele, tu, em nossa irrepetível singularidade;

§ No mundo humano o individuo é superior a espécie (por causa do cristianismo). Diferentemente do mundo animal, em que a espécie é superior ao indivíduo.

§ A lei da existência (instituída por Cristo), relaciona o indivíduo com Deus, sendo o indivíduo a âncora que freia a confusão panteísta e imanentista (que tentavam reduzir, isto é, reabsorver o individual no universal).

** → Critica os principais sistemas filosóficos que, precisamente, se interessam pelos conceitos e não pela existência. "Isso ocorre com a maioria dos filósofos em relação a seus sistemas, como se alguém construísse um enorme castelo e depois, por sua própria conta, fosse morar em um celeiro. Eles não vivem pessoalmente em seus enormes edifícios sistemáticos.Essa é e permanece [...] uma acusação decisiva".

§ "O 'indivíduo' é a categoria através da qual devem passar, do ponto de vista religioso, o tempo, a historia, a humanidade" (k).

o Crítica a Hegel: Figura cômica que teve a pretensão de “explicar tudo” e demonstrar a “necessidade” de todo acontecimento (“fundamento ridículo”).

§ Não consegue “engaiolar” a existência;

** → Com efeito, ele chega a dizer que o hegelianismo, "esse brilhante espírito de podridão", é "a mais repugnante de todas as formas de libertinagem". Kierkegaard fala da "pompa murcha do hegelianismo" e de sua "abominável pompa corruptora". Hegel pretende ver as coisas com os olhos de Deus, de saber tudo, mas cai no ridículo, já que seu sistema se esquece da existência, isto é, do indivíduo. E essa é a razão pela qual a filosofia sistemática não se apóia tanto em um pressuposto equivocado, mas muito mais em um "fundamento ridículo": presume falar do absoluto e não compreende a existência humana.

§ É o indivíduo que constitui a única alternativa válida ao hegelianismo, pois é a contestação e a rejeição do sistema.

O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard contestou a supremacia da razão como único instrumento capaz de estabelecer a verdade, tal como Hegel havia proposto. Como pensador cristão, defendeu o conhecimento que se origina da fé.

Kierkegaard afirmava que a existência humana possui três dimensões:

- a dimensão estética: na qual se procura o prazer;

- a dimensão ética: na qual se vivencia o problema da liberdade e da contradição entre o prazer e o dever;

- a dimensão religiosa: marcada pela fé.

De acordo com o filósofo, cabe ao ser humano escolher em qual dimensão quer viver, já que se trata de dimensões excludentes entre si. Essas dimensões podem ser entendidas, também, como etapas pelas quais o ser humano passa durante sua existência: primeiro viria a estética, depois a ética e, por último, a religiosa, que seria a mais elevada.

Kierkegaard afirma que essas dimensões são atingidas por um salto , pois não há razões racionais para tomar essa medida. Isso acontece porque o mais importante é a verdade de sua própria situação e essa é a verdade subjetiva que somente você é capaz de conhecer. Este filósofo foi extremamente influente por enfatizar a importância do sentido pessoal na vida do indivíduo.



o Fé: Encontro do indivíduo com a singularidade de Deus. A fé ocupa o centro da existência. O "indivíduo" e a "fé" são correlatados.

§ A vida da fé que constitui a forma verdadeiramente autêntica da existência finita;

§ Vai além do próprio ideal ético da vida.

§ A fé é paradoxo e angústia diante de Deus como possibilidade infinita.

** → O símbolo da fé é Abraão, que, em nome da fé em Deus, levanta o punhal sobre o seu próprio filho. Mas como faz Abraão para estar certo de que era realmente Deus que lhe ordenava matar o filho Isaac? Se aceitarmos a fé, como Abraão, então a autêntica vida religiosa aparece em todo o seu paradoxo, já que a fé em Deus, que ordena matar o próprio filho, e o princípio moral, que impede amar o próprio filho, entram em conflito e levam o crente a ser posto diante de uma escolha trágica. A fé é paradoxo e angústia diante de Deus como possibilidade infinita.

§ Fora da fé só existe o desespero.

o Cristianismo: É a verdade por parte de Deus e não por parte do homem. Irrupção do eterno no tempo (fato absoluto, que não precisa ser demonstrado). Os fatos não existem para serem demonstrados, e sim para serem aceitos ou rejeitados, bem como pelo outro motivo de que, quanto ao absoluto, "não podemos dar razões: no máximo, podemos dar razões de que não existem razões".

§ A verdade cristã não é demonstrável. A filosofia e o cristianismo nunca se deixam conciliar.

§ O crente não pode filosofar como se a Revelação não houvesse ocorrido.

§ Não se trata de justificar, mas de crer. E, para crer, não é necessário ser contemporâneo de Jesus. A verdade é que ver um homem não é suficiente para fazer-me crer que aquele homem é Deus. É a fé que me faz ver em um fato histórico algo de eterno: e, no que se refere ao eterno, "qualquer época está igualmente próxima". A fé é sempre salto, tanto para quem é contemporâneo de Cristo como para quem não é.

§ "A verdade é subjetividade": "ninguém pode se pôr em meu lugar diante de Deus. Deus teve tal misericórdia dos homens a ponto de conceder a graça de querer se pôr em contato com cada indivíduo".

o Princípio do cristianismo: Graça concedida por Deus, que dá tudo, (principalmente a possibilidade do homem crer), mesmo que o homem não possa nada.

§ Enfrentamento corajoso de colocar-se como indivíduo em relação com Deus ("primeiro em relação com Deus e não primeiro com os outros"), relação essa constituída por uma infinita diferença abissal entre Deus e o homem.

§ Princípio que torna autêntica a existência, porque quando alguém se põe diante de Deus para ele não há mais nenhum espaço para as ficções, as máscaras, as ilusões.

§ Reduzir o cristianismo a cultura seria uma canalhice de velhacos que julgam mais cômodo adular os contemporâneos.

o Angústia: Puro sentimento do possível, é o sentido daquilo que pode acontecer e que pode ser muito mais terrível do que a realidade.

§ É a possibilidade da liberdade - forma "o discípulo da possibilidade" e prepara o "cavaleiro da fé". Somente a angústia, através da fé, tem a capacidade de formar absolutamente, enquanto destrói todas as finitudes.

§ A existência é possibilidade e, portanto, angústia. A existência, ao invés, é o modo de ser do indivíduo. E a existência é o reino da liberdade: o homem é o que escolhe ser, é aquilo que se torna.

§ O modo de ser da existência não é a realidade ou a necessidade, e sim a possibilidade. Na possibilidade, tudo é igualmente possível.

o Desespero: Sentimento próprio do homem em sua relação consigo mesmo (doença mortal). Se a angústia é típica do homem em seu relacionamento com o mundo, o desespero é próprio do homem em sua relação consigo mesmo.

§ "Um eterno morrer sem no entanto morrer".

§ "Autodestruição impotente", viver a morte do eu.

§ Causa principal: não querer aceitar-se das mãos de Deus. Negar Deus é aniquilar a si mesmo, e separar-se de Deus equivale a arrancar-se das próprias raízes e afastar-se do "único poço no qual se pode tirar água".

o Existência autêntica: Disponível ao amor de Deus, daquele que não crê mais em si mesmo, mas apenas em Deus, que testemunha "a verdade que é da parte de Deus, e que, levado ao mais alto grau de tédio da vida", está pronto a sustentar de modo cristão a prova da vida, maduro para a eternidade.

o Ciência (deste mundo): Não tem muita importância, já que para o cristão, a existência autêntica estabelece-se no plano da fé: como forma de vida, a ciência é existência inautêntica. Dizer que as ciências levam a Deus é uma hipocrisia (combate à apologética científica).

** → De fato, até quando se admite que as ciências naturais têm razão contra varias expressões das Escrituras (sobre a idade do universo, sobre a astronomia, etc.), aquilo que "permanece completamente imutado é a ética cristã".

o Teologia: Não é ciência, mas "sabedoria do espírito". E insensato propor uma "teologia científica", da mesma forma como é insensato fazer uma "teologia sistemática (isto é, hegeliana)". Faz-se isso apenas porque se tem medo e não se tem fé. A pesquisa cientifica não tem fim, não se conclui nunca.

§ O pensador experimenta as penas do inferno enquanto não conseguir experimentar a certeza do espírito (A quem iremos?).






· Recontextualização histórica:



· Ideólogos:

· Espiritualistas:

o François Pierre Maine de Biran (1766-1824): A consciência é "o sentimento idêntico que temos continuamente e sempre de nossa existência particular e de nosso eu". Um eu que permanece idêntico na variação das sensações e dos fenômenos externos e internos; um eu ou consciência que se revela como causa ou força que move o corpo e que se chama vontade. A vida da consciência é atividade e liberdade. E na consciência, na alma, está presente Deus: "a consciência pode ser considerada como uma espécie [...I de revelação de Deus".

o Victor Cousin (1792-1867): Professor na Sorbonne O espiritualismo, com efeito, "é o apoio do direito, rejeita igualmente a demagogia e a tirania; ensina a todos os homens a respeitar-se e a amar-se e leva pouco a pouco as sociedades humanas a verdadeira república, este sonho de todas as almas generosas, que na Europa, em nossos dias, apenas a monarquia constitucional pode realizar".

· Tradicionalistas:



· Positivismo: Movimento compósito (que tem vários elementos heterogêneos) de pensamento, que dominou grande parte da cultura européia de cerca de 1840 a 1914.

o Contextualização histórica: Época de paz substancial na Europa e, ao mesmo tempo, época da expansão colonial européia na África e na Ásia. A revolução industrial mudou radicalmente o modo de vida. E os entusiasmos se cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e social irrefreável, já que, de agora em diante, possuíam-se os instrumentos para a solução de todos os problemas. Esses instrumentos eram, sobretudo, a ciência e suas aplicações na indústria, bem como no livre intercâmbio e na educação. A ciência registrou muitos passos adiante em seus setores mais importantes: na matemática, entre outros, temos as contribuições de Cauchy, Weierstrass, Dedekind e Cantor; na geometria, as de Riemann, Bolyai, Lobacewskij e Klein; a física apresenta os resultados das pesquisas de Faraday sobre a eletricidade, e de Maxwell e Hertz sobre o eletromagnetismo; ainda na física, temos os trabalhos fundamentais de Mayer, Helmholtz, Joule, Clausius e Thomson sobre a termodinâmica; o saber químico é desenvolvido por Berzelius, Mendelejev e Von Liebig, entre outros; Koch, Pasteur e seus discípulos desenvolvem a microbiologia, obtendo êxitos estrondosos; Bernard constrói a fisiologia e a medicina experimental. Além disso, é a época da teoria evolucionista de Darwin. E os projetos tecnológicos encontram seu símbolo na Torre Eiffel de Paris e na abertura do canal de Suez. Substancial estabilidade política, o processo de industrialização e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia constituem os pilares do meio sociocultural que o positivismo interpreta, exalta e favorece.

** → É bem verdade que os grandes males da sociedade industrial não tardarão a se fazer sentir (desequilíbrios sociais, lutas pela conquista de mercados, condição de miséria do proletariado, exploração do trabalho do menor etc.). Esses males serão diagnosticados pelo marxismo em direção diferente da interpretação do positivismo que, embora não ignorando de modo nenhum tais males, pensava que eles logo desapareceriam, como fenômenos transitórios elimináveis pelo crescimento do saber, da educação popular e da riqueza.

o Pontos centrais: Os representantes mais significativos do positivismo são Auguste Comte (1798-1857), na França; John Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903), na Inglaterra; Jakob Moleschott (1822-1893) e Ernst Haeckel(1834-1919), na Alemanha; Roberto Ardigò (1 828-1920), na Itália.

§ Reivindica o primado da ciência: somente as ciências provêem conhecimento (único método de conhecimento é o das ciências naturais).

§ O método das ciências naturais (identificação das leis causais e seu domínio sobre os fatos) não vale somente para o estudo da natureza, mas também para o estudo da sociedade.

§ Sociologia é fruto qualificado do programa filosófico positivista.

§ Ciência como único meio de resolver todos os problemas humanos e sociais.

§ Otimismo geral e certeza no progresso irrefreável, rumo a condições de bem-estar generalizado em uma sociedade pacífica e penetrada pela solidariedade humana.

§ Positivismo como pronunciação da "divindade" do fato, existindo uma confiança acrítica na ciência, que seria a garantia absoluta do progresso e único fundamento sólido (ciência infinitizada).

§ Combate às concepções idealistas e espiritualistas da realidade (metafísicas dogmáticas).






· Auguste Comte (1798-1857): Considerado fundador da Sociologia e do Positivismo.



o Leio dos três estágios: Fases necessárias da evolução humana. A forma de compreender a realidade conjuga-se com a estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o desenvolvimento do ser humano e de cada sociedade.

§ Teológico (ou fictício) - Infância: Fenômenos explicados pelo sobrenatural, por entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o absoluto e as causas primeiras e finais ("de onde vim? Para onde vou?"). A fase teológica tem várias subfases: o fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo.

§ Metafísico (ou abstrato) - Juventude: Fenômenos explicados em função de essências. Pesquisa-se diretamente a realidade, mas ainda há a presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstrações personificadas, de caráter ainda absoluto: "a Natureza", "o éter", "o Povo", "o Capital".

§ Positivo (ou científico) - Maturidade: Apogeu dos dois anteriores que prepararam progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstratas, de ordem inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é inacessível) e busca-se o relativo. A par disso, atividade pacífica e industrial torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando entre si.

** → Todo homem é teólogo em sua infância; é metafísico em sua juventude; é físico em sua maturidade. Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstrações, suas observações e sua imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se com os demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma totalizante de compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste em uma forma de filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias. Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo sociológica, filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados - discussão que não é possível resumir no curto espaço deste artigo.

o Doutrina da ciência:

§ Ciência: Tem por objetivo a pesquisa das leis e dos fenômenos. "Só o conhecimento das leis dos fenômenos, cujo resultado constante é o de fazer com que possamos prevê-los, evidentemente, pode nos levar, na vida ativa, a modificá-los em nosso beneficio" (co). A ciência é que deve fornecer ao homem o domínio sobre a natureza (Bacon e Descartes).

§ Sociologia científica (Física Social): Fenômenos sociais são guiados por leis, assim como os fenômenos físicos.

1. Conhecimento é feito de leis provadas, baseados nos fatos.

2. Os caminhos para alcançar o conhecimento sociológico são a observação, o experimento e o método comparativo.

3. Os homens vivem em sociedade porque isso integra sua natureza social. Os homens são sociáveis desde o inicio, não havendo necessidade de nenhum "contrato social" para associá-los, como queria Rousseau.

** → E, diz Comte, é o método histórico que constitui "a única base fundamental sobre a qual pode realmente se basear o sistema da lógica política".

o Religião da Humanidade: O amor a Deus é substituído pelo amor à humanidade (a humanidade é o ser que transcende os indivíduos).

§ Humanidade: Compostos por todos os indivíduos vivos, mortos e ainda não nascidos. Os indivíduos são o produto da humanidade, que deve ser venerada como o eram outrora os deuses pagãos.

§ Os dogmas da nova fé: Filosofia positiva e as leis científicas.

§ Sacerdotes da humanidade seriam os verdadeiros filósofos;

§ A regeneração total da humanidade passa através da religião devotada à humanidade.

· Positivismo utilitarista inglês:

o Thomas Robert Malthus (1766-1834): População cresce em progressão geométrica e os recursos em proporção aritmética.

§ O equilíbrio (em âmbito humano) é restabelecido por obra da miséria e do vício. Malthus pretende substituir a este controle repressivo, exercido sobre a população pela miséria e pelo vício, um controle preventivo por meio da "contenção moral", "com a abstenção do matrimônio por motivos prudenciais e com uma conduta estritamente moral durante o período desta abstinência”.

** → PA, a toda seqüência em que cada número, somado a um número fixo, resulta no próximo número da seqüência. PG, a toda seqüência de números não nulos em que cada um deles, multiplicado por um número fixo, resulta no próximo número da seqüência.

o Adam Smith (1723-1790): Pai da economia moderna.

§ Indivíduos são movidos pelo seu próprio interesse (self-interest);

§ “Mão invisível”: O Estado deve intervir o mínimo na economia. A interação dos indivíduos buscando seu próprio interesse, acontece em uma determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse.

** → "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse".

o David Ricardo (1772-1823): Teórico do livre comércio dentro da nação e entre nação e nação.

§ O valor de um bem e igual ao trabalho utilizado para produzi-lo (mesmo se a equação valor = trabalho não funciona para o trabalhador, o qual nem sempre chega à posse do valor deseu produto).

o Jeremiah Bentham (1748-1832):Fundador do utilitarismo.

§ Princípio fundamental do utilitarismo: a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas.

§ No domínio da moral, os únicos fatos que verdadeiramente contam são o prazer e a dor.

§ Alcançar o prazer e evitar a dor são os únicos motivos de ação.

** → O cidadão, segundo Bentham, deveria obedecer ao Estado na medida em que a obediência contribui mais para a felicidade geral do que a desobediência. A felicidade geral, ou o interesse da comunidade em geral, deve ser entendida como o resultado de um cálculo hedonístico, isto é, a soma do bem comum e das dores dos indivíduos. Assim, Bentham substitui a teoria do direito natural pela teoria da utilidade, afirmando que o principal significado dessa transformação está na passagem de um mundo de ficções para um mundo de fatos. Somente a experiência, afirma Bentham, pode provar se uma ação ou intuição é útil ou não. Conseqüêntemente, o direito de livre discussão e crítica das ações e intuições constitui-se em necessidade da maior importância.









· John Stuart Mill (1806 —1873): Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. Leitor e correspondente de Comte (cujas ideias autoritárias e despóticas refutaria mais tarde). Stuart Mill trabalhou com muita intensidade, dentro da tradição empirista, associacionista e utilitarista, construindo com muita intensidade um conjunto de teorias lógicas e ético-políticas que marcaram a segunda metade do século XIX inglês e que até hoje constituem pontos de referência e etapas obrigatórias, tanto para o estudo da lógica da ciência como para a reflexão no campo ético e político.



o Lógica (Indutiva): Ciência da prova, isto é, do modo correto de inferir proposições de outras proposições. Por isso, ele trata em primeiro lugar dos nomes e das proposições, em que reside toda verdade e todo erro.

§ Silogismos (argumentação válida): Cadeias de proposições, que deveriam levar a conclusões verdadeiras se as premissas forem verdadeiras. Porém é estéril, pois não aumenta nosso conhecimento (como os juízos analíticos – Kant);

§ Apenas a experiência extrai a verdade de uma proposição. Todo conhecimento é de natureza empírica. Até as proposições das ciências dedutivas, como a geometria.

§ Logo, “toda inferência é de particular para particular”. A única justificação do “isso será” é o “isso foi”. Como resolver, então, o problema da indução? Como “generalizar a partir da experiência”?

o Problema da Indução:

§ Quatro métodos da indução: concordância, diferença, variações concomitantes e dos resíduos.

§ Princípio fundamental (ou axioma geral) da indução: A uniformidade da natureza. Garantia para todas as nossas inferências a partir da experiência. E a premissa maior de toda indução; ele foi sugerido a partir das mais obvias generalidades descobertas no inicio (o fogo queima, a água molha etc.) e, uma vez formulado, foi posto como fundamento das generalizações indutivas.

o Lógica das ciências morais:

§ Querer humano é livre, não é fatalidade (constrição misteriosa e impossível de mudar).

§ Entretanto, não há divergência entre liberdade do indivíduo e ciências da natureza humana.

§ Ciências da natureza humana:

1. Psicologia (primeira ciência): "Tem por objeto a uniformidade de sucessão (...) segundo a qual um estado mental sucede a outro".

2. Etologia (ainda por criar): Função de estudar a formação do caráter (ethos), com base nas leis gerais da mente e da influência das circunstâncias sobre o caráter.

3. Ciência social: Estuda "o homem em sociedade, as ações das massas coletivas de homens e dos vários fenômenos que constituem a vida social".

o Utilitarismo:

§ Concordava com o princípio da máxima felicidade de Bentham: " o fim último e a garantia de que todas as outras coisas são desejáveis e uma existência isenta o quanto possível de dores e o mais possível rica de prazeres".

§ Crítica a Bentham: A quantidade não deve ser mais importante que a qualidade do prazer. "É preferível ser um Sócrates doente do que um porco satisfeito".

o Deus: A ordem do mundo comprova uma inteligência ordenadora (base teológica deísta).

§ Não é o Todo Absoluto: Não é autorizada a afirmação de onipotência e onisciência divina, nem que Ele seja criador da matéria.

§ Homem é colaborador de Deus, pois põe ordem no mundo.

** → Para Mill, a fé é esperança que ultrapassa os limites da experiência. Mas, pergunta-se ele, "por que não nos deixarmos guiar pela imaginação a uma esperança, ainda que jamais se possa produzir uma razão provável de sua realização"?

o Defesa de liberdade do indivíduo: Direito do indivíduo a viver como Ihe aprouver. "Cada qual é o guardião único de sua própria saúde, seja corporal, seja mental e seja ainda espiritual".

§ O desenvolvimento social é consequência do desenvolvimento das mais variadas iniciativas individuais.

§ A liberdade de cada um tem como limite a liberdade do outro. Cabe ao indivíduo "não lesar os interesses alheios ou aquele determinado grupo de interesses que, por expressa disposição da lei ou por tácito consenso, devam ser considerados como direitos". Cabe-lhe também "assumir sua parte nas responsabilidades e sacrifícios necessários à defesa da sociedade e de seus membros contra todo prejuízo ou dano".







· · Positivismo evolucionista: Em 1852 - ou seja, sete anos antes que Darwin publicasse a Origem das espécies - Herbert Spencer (1820-1903) propusera urna concepção evolucionista própria em A hipótese do desenvolvimento.

o Herbert Spencer (1820-1903):

§ Fé x Ciência: São conciliáveis, pois ambas reconhecem o absoluto e o incondicionado. São correlatas. Elas são "como que o pólo positivo e o pólo negativo do pensamento: um não pode crescer em intensidade sem aumentar a intensidade do outro".

1. A realidade última é incognoscível e o universo é um mistério (atestado tanto pela religião quanto pela ciência).

2. Tarefa das religiões: Manter viva o sentido do mistério;

3. Tarefa da ciência: Impulsionar sempre mais para frente o conhecimento do relativo, sem jamais presumir capturar o absoluto.

4. Religiões: Ainda que nenhuma seja verdadeira, são todas, porém, pálidas imagens de uma verdade.

5. "quando a ciência estiver convencida de que suas explicações são próximas e relativas e a religião estiver convencida de que o mistério que ela contempla é absoluto, reinará entre ambas uma paz permanente" (spe).

· ** → E se a religião erra ao se apresentar como conhecimento positivo do incognoscível, a ciência erra ao pretender incluir o incognoscível no interior do conhecimento positivo.

§ Filosofia: "o conhecimento do mais alto grau de generalidade", a ciência dos primeiros princípios.

1. Onde se leva ao limite extremo o processo de unificação do conhecimento. "O conhecimento de ínfimo grau é não unficado; a ciência é um conhecimento parcialmente unificado, a filosofia é conhecimento completamente unificado" (spe).

2. Princípios da ciência (que não podem ser ignorados pela filosofia):

o A indestrutibilidade da matéria;

o A continuidade do movimento;

o A persistência da força.

§ Lei da evolução: "A evolução é uma integração de matéria acompanhada por dispersão de movimento, em que a matéria passa de uma homogeneidade indefinida e incoerente para uma heterogeneidade definida e coerente, ao passo que o movimento contido sofre uma transformação paralela".

1. Características essenciais:

o uma passagem de uma forma menos coerente para uma mais coerente (por exemplo, o sistema solar, que saiu de urna nebulosa);

o uma passagem do homogêneo para o heterogêneo (por exemplo, as plantas e os animais se desenvolvem diferenciando órgãos e tecidos diversos);

o uma passagem do indefinido para o definido (como no caso da passagem de urna tribo selvagem a um povo civilizado, onde tarefas e funções estão claramente especificadas).

2. A ciência mostra que:

o Evolucionismo na Biologia: A vida consiste na adaptação de organismos ao ambiente, e a seleção natural favorece a sobrevivência do mais hábil (precursor da seleção natural usada por Darwin);

o Evolucionismo na Psicologia: O que é a priori para o indivíduo é a posteriori para a espécie (determinados comportamentos são hereditários).

o Evolucionismo na Sociologia: A sociedade existe para os indivíduos e não vice-versa. O desenvolvimento da sociedade é determinado pela realização dos indivíduos.

o Evolucionismo na ética: a evolução fornece aos indivíduos a priori morais (a posteriori para a espécie), instrumentos de sempre melhor adaptação do homem às condições de vida.

3. Otimismo do positivismo evolucionista de Spencer: O universo progride e progride para melhor.

· Positivismo na Alemanha:

o Principais características:

§ Materialismo rígido; cujas teses de fundo foram a batalha contra o dualismo de matéria e espírito e a luta contra as metafísicas da transcendia. Os representantes de maior vulto do positivismo materialista alemão são: Karl Vogt, Jacob Moleschott, Ludwig Bikhner e Ernst Haecke. Ação do cérebro seria análoga a de uma máquina a vapor.

§ Crítica ao criacionismo e a imortalidade da alma;

§ Crítica ao espiritualismo; a vida é um processo que, por meio da dissolução, se regenera continuamente. Por isso, provocando escândalo, Moleschott chegou a afirmar que nos cemitérios, onde o terreno e mais fértil, dever-se-ia semear trigo.

· A "origem das espécies" - Charles Darwin (1809-1882): Revolução científica.

o As espécies se originam da seleção, pelo ambiente, das mais aptas entre as variações hereditárias existentes. Portanto, da guerra da natureza, da carestia e da morte nasce a coisa mais elevada que se possa imaginar: a produção dos animais mais elevados.

o Seres são descendentes de poucos outros seres que sobreviveram muito tempo antes. "O homem e todos os outros animais vertebrados foram construídos com base no mesmo modelo geral, ,passam através dos mesmos estágios primitivos de desenvolvimento e conservam certas características em comum. Por conseguinte, devemos admitir francamente sua origem comum. Somente nosso preconceito natural e aquela soberba que fez com que nossos antepassados se declarassem descendentes de semideuses é que nos levam a duvidar dessa conclusão. Mas não está longe o dia em que parecerá estranho que naturalistas, bons conhecedores da estrutura comparada e do desenvolvimento do homem e dos outros mamíferos, tenham acreditado que cada um deles fosse obra de um ato distinto de criação".





· Friedrich Nietzsche (1844-1900): Nascido de família luterana, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Estudou na Universidade de Bonn Filologia clássica e Teologia evangélica. Por diferentes motivos transfere-se depois para Universidade de Leipzig, mas isso se deve, acima de tudo, à transferência do Prof. Friedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente. Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria…): "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882 ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até a sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como Vontade de Poder. Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma deturpação nazista; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente as comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português, e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores. Durante toda a vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888. Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

o Conceitos básicos:

§ Vida: é cruel e cega irracionalidade, dor e destruição.

§ Arte: Única possibilidade de enfrentar a dor da vida. Só a arte pode oferecer ao indivíduo a força e a capacidade de enfrentar a dor da vida, dizendo sim à vida.

§ Dionísio: Símbolo de uma humanidade em plena harmonia com a natureza. Imagem da força instintiva e da saúde, é embriaguez criativa e paixão sensual, é o símbolo de uma humanidade em plena harmonia com a natureza. ** Obs: deus grego equivalente ao deus romano Baco, dos ciclos vitais, das festas, do vinho, da insânia, mas, sobretudo, da intoxicação que funde o bebedor com a deidade. Filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus olimpiano filho de uma mortal, o que faz dele uma divindade grega atípica.

§ Apolíneo: Tentativa de expressar o sentido das coisas na medida e na moderação, explicitando-se em figuras equilibradas e límpidas. "O desenvolvimento da arte está ligado a dicotomia do apolíneo e do dionisíaco, do mesmo modo como a geração provém da dualidade dos sentidos, em continuo conflito entre si e em reconciliação meramente periódica".

§ Sócrates e Platão: Verdadeira decadência, "instrumentos da dissolução grega, pseudogregos, os antigregos".

o Saturação da história: Combate a idolatria dos fatos (que sempre são estúpidos e precisam de intérprete), além das ilusões historicistas (que torna o homem incrédulo de si mesmo, hesitante e inseguro).

§ Três atitudes do homem na história:

1. História monumental - a historia de quem procura no passado modelos e mestres em condições de satisfazer suas aspirações.

2. História antiquária - de quem compreende o passado de sua própria cidade (as muralhas, as festas, os decretos municipais etc.) como fundamento da vida presente; a história antiquária procura e conserva os valores constitutivos estáveis nos quais se radica a vida presente.

3. História crítica - que é a história de quem olha para o passado com as intenções do juiz que condena e abate todos os elementos que constituem obstáculos para a realização de seus próprios valores. Esta ultima foi a atitude de Nietzsche diante da história. E essa é a razão pela qual ele combate o excesso ou "saturação da historia": "Os instintos do povo são perturbados por esse excesso e o individuo, não menos que a totalidade, é impedido de amadurecer".

o Camuflagens metafísicas do homem:

§ 1) o idealismo (que cria um "antimundo");

§ 2) o positivismo (cuja pretensão de enjaular solidamente a vasta realidade em suas pobres malhas teóricas é ridícula e absurda);

§ 3) os redentorismos socialistas das massas ou através das massas;

§ 4) e também o evolucionismo (aliás, "mais afirmado do que provado").

o O anúncio da "morte de Deus": Início do ataque ao cristianismo. Cuja vitória sobre o mundo antigo e sobre a concepção grega do homem envenenou a humanidade.

§ Acontecimento que divide a história da humanidade.

§ Anúncio de Zaratustra, que sobre as cinzas de Deus, ergue a ideia de "super-homem", do homem novo, impregnado do ideal dionisíaco.

§ Evento cósmico que liberta o homem das cadeias do sobrenatural que eles próprios haviam criado.

o O Anticristo - Crítica ao cristianismo:

§ Cristianismo:

1. Moral dos escravos, dos fracos e dos vencidos ressentidos contra tudo o que é nobre, belo e aristocrático (superior, nobre).

2. O cristianismo perverte o indivíduo ao obrigá-lo perder seus instintos, escolher e preferir o que lhe é nocivo.

3. Religião da compaixão, que tira força do indivíduo e bloqueia maciçamente a lei do desenvolvimento, que é a lei da seleção.

§ Padres: Prisioneiros e marcados que precisam ser redimidos de seu redentor.

§ Deus cristão: Divindade dos doentes, degenerado por contradizer a vida, divinização do nada e consagração da vontade do nada.

§ Jesus Cristo: Respeitava a figura de cristo - "Homem mais nobre". "O símbolo da cruz é o símbolo mais sublime que jamais existiu".

1. Espírito livre, morreu para mostrar como se deve viver.

§ Evangelho ficou "suspenso na cruz", ou melhor, transformou-se em Igreja, em cristianismo, isto é, em ódio e ressentimento contra tudo o que é nobre e aristocrático.

§ "Paulo foi o maior de todos os apóstolos da vingança".

§ Pôncio Pilatos: Único personagem digno de elogio, pelo seu sarcasmo em relação à "verdade".

§ Lutero: Padre frustrado que interrompeu a transvalorização dos valores cristãos, ao restaurar a Igreja.

** → a Renascença tentou a transvalorização dos valores cristãos, procurou levar à vitória os valores aristocráticos, os nobres instintos terrenos. Feito papa, César Borgia teria sido grande esperança para a humanidade. Mas o que aconteceu? Ocorreu que "um monge alemão, Lutero, veio a Roma. Trazendo dentro do peito todos os instintos de vingança de padre frustrado, esse monge, em Roma, indignou-se contra a Renascença [...] Lutero viu a corrupção do papado, quando se podia tocar com a mão justamente o contrário: na cadeira papal não estava mais a antiga corrupção, o peccatum originale, o cristianismo! Que boa é a vida! Que bom o triunfo da vida! Que bom o grande sim a tudo o que é elevado, belo e temerário! [...] E Lutero restaurou novamente a lgreja [...] Ah, esses alemães, quanto nos custaram!" São dessa natureza, portanto, as razões que levam Nietzsche a condenar o cristianismo: "A Igreja cristã não deixou nada intacto em sua perversão; ela fez de cada valor um desvalor, de cada verdade uma mentira, de toda honestidade uma abjeção da alma"; O além é a negação de toda realidade e a cruz é uma conjuração "contra a saúde, a beleza, a constituição bem-sucedida. a valentia do espírito, a bondade da alma, contra a própria vida" .



Friedrich Nietzsche (1844-1900) - Continuação:

o Genealogia da moral:

§ Grande guerra para a transformação dos valores. É essa revolta contra "o sentimento habitual dos valores" ele a explicita especialmente em dois livros: Além do bem e do mal e Genealogia da moral. Escreve Nietzsche: "Até hoje, não se teve sequer a mínima dúvida ou a menor hesitação em estabelecer o 'bom' como superior, em valor, ao 'mau' [...]. Como? E se a verdade fosse o contrário? Como? E se no bem estivesse inserido também um sistema de retrocesso ou então um perigo, uma sedução, um veneno?"

§ Moral: Máquina construída para dominar os outros;

1. Moral aristocrática: Dos fortes, que nasce da afirmação triunfal de si.

2. Moral dos escravos: Dos fracos e malsucedidos, subvertida e fruto do ressentimento aos fortes. E, como diz o provérbio, os que não podem, dar maus exemplos dão bons conselhos.

o Niilismo: "consequência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia".

§ Quando as ilusões perdem a máscara, então o que resta é nada: o abismo do nada.

§ Não há valores absolutos, aliás, os valores são desvalores.

§ Não há uma ordem, não há um sentido.

§ Há apenas a necessidade da vontade.

§ Doutrina do eterno retorno: Desde a eternidade, o mundo é dominado pela vontade de aceitar a si próprio e de repetir-se.

o Amor fati: Amar o necessário, aceitar este mundo e amá-lo (atitude do super-homem).

§ O mundo que aceita a si próprio e que se repete: é esta a doutrina cosmológica de Nietzsche.

o O super-homem (Übermensch): O homem novo, que abandona as velhas cadeias e cria um novo sentido da terra, reconquistando o espírito de Dioniso.

§ Homem que vai além do homem, renegando as coisas celestes.

§ Homem cujos valores são a saúde, vontade forte, o amor, a embriaguez dionisíaca e um novo orgulho.

§ Homem que anuncia a morte de Deus e a transmutação de todos os valores de que a tradição nos carregou.

§ Principal mensagem de Zaratustra, pregar o super-homem.

** → É o homem, o homem novo, que deve criar um novo sentido da terra. Abandonar as velhas cadeias e cortar os antigos troncos. O homem deve inventar o homem novo, isto é, o super-homem, o homem que vai além do homem e que é o homem que ama a terra e cujos valores são a saúde, a vontade forte, o amor, a embriaguez dionisíaca e um novo orgulho. Diz Zaratustra: "Um novo orgulho ensinou-me o meu Eu, e eu o ensino aos homens: não deveis mais esconder a cabeça na areia das coisas celestes, mas mantê-la livremente: uma cabeça terrena, que cria ela própria o sentido da terra". O super-homem substitui os velhos deveres pela vontade própria. "O homem é uma corda estendida, estendida entre o bruto e o super-homem, uma corda estendida sobre um abismo". Ele deve procurar novos valores: "O mundo gira em torno dos inventores de novos valores". Assim como para Protágoras, também para Nietzsche o homem deve ser a medida de todas as coisas, deve criar novos valores e pô-los em prática. O homem embrutecido tem a espinha curvada diante das ilusões cruéis do sobrenatural. O super-homem "ama a vida" e "cria o sentido da terra", e é fiel a isso. Ai está sua vontade de poder.



o Conclusão: “Nietzsche era ele mesmo, uma negação viva ao que escreveu. Era um homem doente, de saúde instável, mórbido, que celebrou a exuberância de um corpo são; um tímido, que exaltou a coragem e a guerra; um cavalheiro com as damas, que desprezava as mulheres; alguém que fugiu do amor, mas quase se matou por causa dele; um fracote, que louvava a força e a musculatura; um míope, que se encantava com o olhar da águia, um trôpego civil, que admirava a bravura do militar, do soldado; um alemão, que dizia detestar os alemães, mas que durante muito tempo serviu-lhes frases e mais frases para alimentar a arrogância deles; um leitor voraz e um homem da cultura, que pregou as virtudes do instinto e da agressão; enfim, um impotente que celebrava a virilidade.”










· Ernst Cassier (1874-1945): Filósofo alemão, que emigrou para os EUA.

o Substância e o conceito de função: As ciências buscam relações funcionais e não substâncias. As ciências progrediram justamente porque deixaram de buscar substâncias e se dirigiram à pesquisa de leis, de relações funcionais.

o Formas simbólicas: Formas de compreensão do mundo (dão forma e sentido), ou seja, organizam a experiência, constituem modos de ver o mundo, criam mundos de significados.

§ Situação existencial: O homem doravante vive não só em uma realidade mais vasta, mas até em uma “nova dimensão da realidade”.

§ O homem superou os limites da vida orgânica. Os animais têm sinais; o homem produz símbolos. Ele “não vive mais em um universo apenas físico, mas em um universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a religião são parte deste universo”.

§ É um dado de fato que “o homem não se encontra mais diretamente diante da realidade; por assim dizer, ele não pode mais vê-la face a face. A realidade física parece retroceder à medida que a atividade simbólica do homem avança”.

§ Homem deixa de ser animal rationale para tornar-se animal symbolicum. Definir o homem como animal rationale equivale a trocar a parte pelo todo. A “razão” é um termo pouco adequado “se quisermos abraçar em toda a sua riqueza e variedade as formas da vida cultural do homem”.

· Historicismo alemão: Pesquisa da autonomia e da validade cognitiva das ciências históricas (de tipo substancialmente kantiano). Que tipo de saber é o histórico? Qual é o seu método?

o Características essenciais:

§ A ideia de que a história é obra dos homens;

§ Exigência de que a pesquisa verse sobre fatos empíricos concretos;

§ Entendem a crítica kantiana (“como é possível a ciência?”) para além das ciências físico-naturais, isto é, para as ciências histórico-sociais;

§ O pesquisador não é o sujeito transcendental com categorias a priori, fixadas para a eternidade, mas é um homem concreto, historicamente condicionado.

· Wilhelm Dilthey (1833 —1911): Contrapõe a “natureza” e o “espírito”. Filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Dilthey lecionou filosofia na Universidade de Berlim. Considerado um empirista, o que contrastava com o idealismo dominante na Alemanha em sua época, mas sua concepção do empirismo e da experiência difere da concepção britânica de empirismo. Seus conceitos se originam da tradição literária e filosófica da Alemanha.

o Ciências do espírito:

§ Os fatos se apresentam à consciência a partir do interior.

§ Fundamento: Psicologia analítica.

o Ciências da natureza:

§ Os fatos se apresentam à consciência, ao contrário, a partir do exterior.

· Max Weber (1864 – 1920): Foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. A esposa de Max Weber, Marianne Weber, biógrafa do marido, foi uma das alunas pioneiras na universidade alemã e integrava grupos feministas de seu tempo. É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua influência também pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Começou sua carreira acadêmica na Universidade Humboldt, em Berlim e, posteriormente, trabalhou na Universidade de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na Universidade de Viena e na Universidade de Munique. Personagem influente na política alemã da época, foi consultor dos negociadores alemães no Tratado de Versalhes (1919) e da Comissão encarregada de redigir a Constituição de Weimar.

o Conceitos importantes:

§ Realidade: Ilimitada, infinita.

§ Sociologia: Descobridora de “conexões e regularidades” nos comportamentos humanos, organizando as leis dos fatos-históricos.

o Critério de cientificidade: Existe uma só ciência. Tanto nas ciências naturais como nas ciências histórico-sociais, temos conhecimento científico quando conseguimos produzir explicações causais.

§ Toda explicação causal é somente uma visão fragmentária e parcial da realidade investigada (por exemplo, as causas econômicas da Primeira Guerra Mundial).

§ Seleção dos fenômenos e hipóteses: se realiza tendo como referência os valores (princípio de escolha).

o Teoria do "tipo ideal": Construção intelectual com objetivos heurísticos (O Pensamento heurístico, vem do grego DESCOBERTA, não é uma verdade verificável, é circunstancial, portanto, não pode ser comprovada matematicamente. Muito útil na hora de resolver problemas de comunicação, a solução para o problema pode ser encontrada através de tentativas e erros). Com a finalidade de uma determinação e maior rigorização dos conceitos utilizados nas pesquisas histórico-sociais.

** → Acentuam-se, por exemplo, alguns traços da "economia citadina", do "padre católico" etc., traços "difusos e discretos, existentes aqui em maior medida e ali em menor, e por vezes também ausentes", e assim fazendo surge um modelo, um tipo-ideal ou modelo ideal-típico da economia citadina, ou do padre católico etc.; e tal tipo ideal serve para ver o quanto a realidade efetiva se afasta ou se aproxima do tipo ideal. O "tipo ideal" é um instrumento heurístico.

o Possibilidade Objetiva: Um fato histórico-social explica-se em geral por meio de uma constelação de causas. Como determinar o peso específico das causas particulares de um evento social? O historiador imagina um possível desenvolvimento do evento, excluindo justamente tal causa, e se pergunta o que teria acontecido se essa causa não tivesse existido, assim, determina o maior ou menor peso de uma causa particular.

** → Por exemplo: os fuzilamentos que na noite de março de 1848, em Berlim, iniciaram a revolução foram determinantes, ou a revolução teria igualmente acontecido? Em poucas palavras: constroem-se possibilidades objetivas, ou seja, juízos sobre como as coisas podiam acontecer, para compreender melhor como aconteceram.

o Ciência social é não-valorativa, ou seja, o homem de ciência, enquanto cientista, não deve emitir juízos de valor.

§ A ciência explica, não avalia;

§ Juízos de fato: Aquilo que é;

§ Juízos de valor: Aquilo que deve ser.

o A ética protestante e o espírito do capitalismo:

§ Desencantamento do mundo:

1. Não há comunicação entre o espírito finito e o espírito infinito de Deus.

2. Não é preciso mais agradar os espíritos para resolver os problemas; bastam razão e meios técnicos.

§ Capitalismo moderno deve sua força propulsora a ética calvinista.

1. Predestinação: Os calvinistas viram no sucesso mundano na própria profissão o sinal da certeza da salvação.

2. Os calvinistas se acharam o novo povo eleito. Em outros termos,o indivíduo é impelido a trabalhar para superar a angústia em que é mantido pela incerteza de sua salvação.

3. Deve-se economizar o tempo e a racionalizar os métodos de trabalho.

4. Conduta ascética: O crente deve desconfiar dos bens desse mundo.

5. Lucro: É incentivado racionalmente e deve ser reinvestido. A essa altura, está claro que trabalhar racionalmente em função do lucro e não gastar o lucro, mas reinvesti-lo continuamente, constitui comportamento inteiramente necessário ao desenvolvimento do capitalismo.








Max Weber (1864 – 1920) - Continuação:

o Weber e Marx: Weber inverte a tese do materialismo histórico de Marx (a estrutura econômica como fator determinante da superestrutura das ideias). Weber procura ampliar e desdogmatizar a posição marxista, mostrando sua unilateralidade intencional e dogmática.

§ Weber aceita que termos econômicos influenciam a história, mas rejeita a metafisicização e a dogmatização de tal perspectiva.

o Fé Religiosa: Sacrifíco do Intelecto.




Pragmatismo: Movimento filosófico que surge nos EUA no final dos século XIX. Do ponto de vista sociológico, o pragmatismo representa a filosofia de uma nação voltada com confiança para o futuro, enquanto do ponto de vista da história das ideias ele se configura como a contribuição mais significativa dos Estados Unidos à filosofia ocidental.

o Forma de empirismo - Experiência como abertura para o futuro, previsão e projeção, norma de ação. Com efeito, enquanto o empirismo tradicional, de Bacon a Locke, de Berkeley a Hume, considerava válido o conhecimento baseado na experiência e a ela redutível - concebendo a experiência como a acumulação e organização progressiva de dados sensíveis passados ou presentes -, para o pragmatismo a experiência é abertura para o futuro, é previsão, é norma de ação.;

o Charles Peirce (1839-1914): Versão lógica do pragmatismo.

§ Conhecimento é pesquisa que se inicia com a dúvida; É a irritação da dúvida que causa a luta para se obter o estado de crença, que é um estado de calma e satisfação. E nós procuramos obter crenças, já que são esses hábitos que determinam as nossas ações.

§ Apenas no estado de crença se tem calma e satisfação;

§ Métodos para fixação de crenças:

1. Da tenacidade - comportamento do avestruz (que se esconde quando confrontado), que só está seguro na aparência;

2. Da autoridade - de quem procura impor suas próprias ideias com a ignorância ou o terror;

3. Do a priori - método de diversas metafísicas que o filósofo reivindica como válido pela razão (O método a priori leva ao insucesso, porque "faz da pesquisa algo semelhante ao desenvolvimento do gosto", visto ser método que "não difere de modo essencial do método da autoridade");

4. O método científico - Único método correto (os três métodos precedentes [da tenacidade, da autoridade e do a priori] não se sustentam. Se quisermos estabelecer validamente as nossas crenças, segundo Peirce, o método correto é o método cientifico).

§ Fundamentos de raciocínio da ciência:

1. Dedução: raciocínio que não pode levar de premissas verdadeiras a conclusões falsas.

2. Indução: raciocínio que, sobre a base de certos membros de uma classe com certas propriedades, conclui que todos os membros daquela classe terão as mesmas propriedades (ex. cisne negro).

3. Abdução: para encontrar a solução de um fato surpreendente, devemos inventar uma hipótese da qual deduzir as consequências, que devem ser controladas empiricamente, isto é, indutivamente. Esse é o modo pelo qual a abdução mostra-se intimamente relacionada com a dedução e a indução. Por outro lado, a abdução mostra que as crenças cientificas são sempre falíveis, já que as provas experimentais sempre poderão desmentir as consequêcias de nossas conjecturas: "Para a mente cientifica, a hipótese está sempre in prova".

§ Regra pragmática: regra adequada para estabelecer o significado de um conceito.

1. "Um conceito se reduz a seus efeitos experimentais concebiveis".

§ "A verdade jaz no futuro"



o William James (1842-1910): Versão moral e religiosa do pragmatismo. "O pragmatismo é apenas um método".

§ Através do pragmatismo se alcança a clareza das ideias que se tem do objeto.

§ Concepção instrumental da verdade: A verdade de uma ideia se reduz à sua capacidade de operar. Desse modo, a veracidade das ideias era identificada com sua capacidade de operar, com sua utilidade, tendo em vista a melhoria ou a tornar menos precária a condição vital do individuo.

1. “Uma ideia é tornada verdadeira pelos acontecimentos”. Ela precisa ser constantemente assimilada, ratificada, confirmada e verificada. E "a posse da verdade, longe de ser fim, é apenas meio para outras satisfações vitais".

§ Contrário à velha psicologia racional (alma como substância separada do corpo e auto-suficiente), mas também contrário associacionismo (redução da vida psíquica à combinação de sensações elementares) e ao materialismo (fenômenos psíquicos da matéria cerebral). Fórmula spenceriana, segundo a qual "a essência da vida mental e a essência da vida corporal são idênticas, ou seja, 'a adaptação das relações internas às externas' ". Essa fórmula pode ser considerada a encarnação da generalidade - comenta James - mas, "como considera o fato de que as mentes vivem em ambientes que agem sobre elas e sobre as quais elas por seu turno reagem, já que, em suma, ela põe a mente no concreto de suas relações, tal formula é imensamente mais fértil do que a velha 'psicologia racional', que considerava a alma como coisa separada e autosuficiente, e pretendia estudar somente sua natureza e prioridade".

1. Mente: Instrumento dinâmico e funcional para a adaptação ao ambiente;

** → Conceber a mente como instrumento de adaptação ao ambiente foi a ideia que levou James a ampliação do objeto de estudo da psicologia: esse objeto não diria mais respeito somente aos fenômenos perceptivos e intelectivos, e sim também aos condicionamentos sociais ou fenômenos como os concernentes ao hipnotismo, a dissociação ou ao subconsciente.

§ Questões morais: Deve-se consultar as "razões do coração". A ciência pode nos dizer o que existe ou não existe. Mas, para as questões mais urgentes, devemos consultar as "razões do coração'.

1. Valores não podem ser definidos recorrendo às experiências sensíveis - "As questões morais, antes de tudo, não são tais que sua solução possa esperar prova sensível. Com efeito, uma questão moral não é uma questão do que existe, mas daquilo que é bom ou seria bom que existisse";

2. Fatos físicos existem ou não existem e, enquanto tais, não são nem bons nem maus. "O ser melhor não é relação física".

3. Bem e mal só existem em referência ao fato de que satisfazem ou não as exigências dos indivíduos.

4. Critério para escolha de valores: Ideais que, se realizados, impliquem a destruição do menor número de outros ideais e o universo mais rico de possibilidades.

§ Experiência religiosa: Coloca o homem em contato com uma ordem invisível (sagrado) e muda sua existência. Aliás, para James, a experiência mística deve ser defendida pela filosofia. Aqui podemos ver como James passa da descrição à avaliação da experiência mística, considerada como acesso privilegiado, inacessível pelos meios comuns, ao Deus que potencializa nossas ações e que é "a alma e a razão interior do universo", de um universo pluralista, onde Deus (que não é o mal nem o responsável pelo mal) é concebido como pessoa espiritual que nos transcende e nos convoca a colaborar com ele.

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Dicas da Matéria



* Aqui você terá acesso às notas de aulas, gabaritos e outras dicas para ajudar no seu estudo.



ANOTAÇÕES DE AULA – HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA – 2º SEMESTRE / 2013





§ Historicidade: O século XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. É particularmente com o filósofo alemão Hegel que se afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos.

§ Otimismo progressita científico: O otimismo positivista toma conta da humanidade no final do século XIV, no Brasil a bandeira republicana chega a ser alterada para conter a ideia de Augusto Comte de “ordem, ‘amor’ e progresso”. Os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram com o passar do tempo, acumulam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro será melhor e superior, se comparado ao presente.

i. Saber para prever e prever para prover: As ciências permitiriam aos seres humanos “saber para prever, prever para prover”, de modo que o desenvolvimento social se faria por aumento do conhecimento científico e do controle científico da sociedade.

§ Guerras e depressão humana - Crítica à historicidade: No século XX, a Filosofia passou a desconfiar do otimismo científico-tecnológico do século anterior em virtude de vários acontecimentos: a crise financeira de 1929, as duas guerras mundiais, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, as guerras da Coréia, do Vietnã, do Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria e da Tchecoslováquia, as ditaduras sangrentas da América Latina, a devastação de mares, florestas e terras, os perigos cancerígenos de alimentos e remédios, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, etc. A mesma afirmação da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade levou à idéia de que a História é descontínua e não progressiva, cada sociedade tendo sua História própria em vez de ser apenas uma etapa numa História universal das civilizações. A idéia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar colonialismos e imperialismos (os mais “adiantados” teriam o direito de dominar os mais “atrasados”). Passa a ser criticada também a idéia de progresso das ciências e das técnicas, mostrando-se que, em cada época histórica e para cada sociedade, os conhecimentos e as práticas possuem sentido e valor próprios, e que tal sentido e tal valor desaparecem numa época seguinte ou são diferentes numa outra sociedade, não havendo, portanto, transformação contínua, acumulativa e progressiva. O passado foi o passado, o presente é o presente e o futuro será o futuro.

§ Utopias revolucionárias: anarquismo, socialismo,comunismo: Criadas graças à ação política consciente dos explorados e oprimidos, uma sociedade nova, justa e feliz. No entanto, no século XX, com o surgimento das chamadas sociedades totalitárias -fascismo, nazismo, stalinismo - e com o aumento do poder das sociedades autoritárias ou ditatoriais, a Filosofia também passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e a indagar se os seres humanos, os explorados e dominados serão capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz. O crescimento das chamadas burocracias - que dominam as organizações estatais, empresariais, político-partidárias, escolares, hospitalares - levou a Filosofia a indagar como os seres humanos poderiam derrubar esse imenso poderio que os governa secretamente, que eles desconhecem e que determina suas vidas cotidianas, desde o nascimento até a morte.

§ Teoria crítica – A Escola de Frankfurt: A Escola de Frankfurt, elaborou uma concepção conhecida como Teoria Crítica, na qual distingue duas formas da razão: a razão instrumental e a razão crítica. A razão instrumental é a razão técnico-científica, que faz das ciências e das técnicas não um meio de liberação dos seres humanos, mas um meio de intimidação, medo, terror e desespero. Ao contrário, a razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental e afirma que as mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente se tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e domínio técnico-científico sobre a Natureza, a sociedade e a cultura.

§ Fim da Filosofia: No século XIX, o otimismo positivista ou cientificista levou a Filosofia a supor que, no futuro, só haveria ciências, e que todos os conhecimentos e todas as explicações seriam dados por elas. Assim, a própria Filosofia poderia desaparecer, não tendo motivo para existir. No entanto, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários, e que, freqüentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir e quando está entrando no campo de investigação de uma outra.

§ Existencialismo (perda de importância ou do sentido da vida em Deus): O século XIX prosseguiu uma tradição filosófica que veio desde a Antigüidade e que foi muito alimentada pelo pensamento cristão. Nessa tradição, o mais importante sempre foi a idéia do infinito, isto é, da Natureza eterna (dos gregos), do Deus eterno (dos cristãos), do desenvolvimento pleno e total da História ou do tempo como totalização de todos os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia a idéia de todo ou de totalidade, da qual os humanos fazem parte e na qual os humanos participam. No entanto, a Filosofia do século XX tendeu a dar maior importância ao finito, isto é, ao que surge e desaparece, ao que tem fronteiras e limites. Esse interesse pelo finito aparece, por exemplo, numa corrente filosófica (entre os anos 30 e 50) chamada existencialismo e que definiu o humano ou o homem como “um ser para a morte”, isto é, um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência. Para a maioria dos existencialistas, dois eram os modos privilegiados de o homem aceitar e enfrentar sua finitude: através das artes e através da ação político-revolucionária. Nessas formas excepcionais da atividade, os humanos seriam capazes de dar sentido à brevidade e finitude de suas vidas.

· Divulgação de texto a ser lido para a próxima aula – Ler capítulos 1 e 2 do Reale – Volume 5 (edição de 1997);










· Contexto histórico pós-iluminista:

o Ambiente intelectual de grande rebeldia;

o Queda de regimes políticos despóticos e ascensão dos sistemas políticos liberais;

o Inconformismo e rompimento com as regras, principalmente no campo artístico;

· Romantismo (Movimento Romântico): Inicia-se no século XIX, principalmente na Alemanha (1790 – 1830), Inglaterra (1790 – 1832) e França (1825 – 1850). Movimento intelectual que se desenvolveu em vários campos, principalmente poesia, filosofia, artes figurativas e na música;

o Romantismo alemão: O mais importante, teve início logo após a Revolução Francesa, com o Sturm Und Drang (tempestade e ímpeto/paixão), com a filosofia de Schelling e Fichte e com escolas místicas, principalmente a de Boheme. As invasões de Napoleão Bonaparte, a fundação da Universidade de Berlim, e a agitação social serviram para criar uma atmosfera propícia para o surgimento do romantismo no país;

o Gênese da palavra romântico: Como primeiro sentido, seria um adjetivo indicando algo fabuloso, extravagante, fantástico e o irreal. Gradualmente, o termo "romântico" passou a indicar o renascer do instinto e da emoção, sufocados pelo racionalismo prevalente no seculo XVII.

o Principais características do movimento romântico:

§ Sehnsucht ("anseio"): Desejo irrealizável porque aquilo que se anseia é o infinito, que é o sentido e a raiz do finito. Sentimentos de preocupação e inquietação que se comprazem de si e se exaurem em si mesmos. Um desejo que jamais pode alcançar sua própria meta, porque não a conhece e não quer ou não pode conhecê-la. Um desejo de desejar, um desejo que é sentido como inextinguível e que justamente por isso encontra em si a própria satisfação.

i. Sobre este ponto tanto a filosofia como a poesia estão absolutamente de acordo: a filosofia deve captar e mostrar a ligação do infinito com o finito, enquanto a arte deve realizá-lo: a obra de arte e o infinito que se manifesta no finito.

§ Crítica ao iluminismo: Contrário ao racionalismo e ao iluminismo;

§ Individualismo: Visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o século XVIII foi marcado pela objetividade, pelo Iluminismo e pela razão, o início do século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo eu.

§ Tendência idealista ou poética carentes de sentido objetivo: O Romantismo é a arte do sonho e fantasia. Valoriza as forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Opõe-se à arte equilibrada dos clássicos e baseia-se na inspiração fugaz dos momentos fortes da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na saudade, no sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.

§ Busca a um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa, principalmente a Alemanha;

§ Subjetivismo: Assuntos tratados de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um individuo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.

§ Natureza como grande organismo: Sai da concepção mecanicista-iluminista e é interpretada como "jogo móvel de forças que gera todos os fenômenos, compreendendo o homem e, portanto, esta força e a própria força do divino". "A natureza, subtraída inteiramente da concepção mecanicista-iluminista, entende-se como vida que cria eternamente, como grande organismo do todo afim ao organismo humano: a natureza é jogo móvel de forças que gera todos os fenômenos, compreendendo o homem e, portanto, esta força e a própria força do divino".

§ Senso de pânico: O senso de pertencer ao uno-todo, o sentir que se é um momento orgânico da totalidade.

§ Revalorização da Religião: Principalmente na relação do homem com o infinito e com o eterno, e é assim posta bem acima do plano ao qual o Iluminismo a reduzira. E a religião por excelência seria a cristã, embora compreendida de vários modos.

§ Revalorização expressiva do informal: Prevalência do conteúdo sobre a forma.

§ Medievalismo e Indianismo: Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel à pátria um ótimo modo de retratar as culturas de seu país. Esses poemas se passam em eras medievais e retratavam grandes guerras e batalhas. No Brasil, como os brasileiros não tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau) (segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade européia).

§ Resumo de L. Mittner: "Entendido como fato psicológico, o sentimento romântico não é sentimento que se afirma acima da razão ou sentimento de imediatidade, intensidade ou violência particulares, como também não é o chamado sentimental, isto é, o sentimento melancólico-contemplativo; é muito mais um dado de sensibilidade, precisamente o fato puro e simples da sensibilidade, quando ela se traduz em estado de excessiva ou até permanente impressionabilidade, irritabilidade e reatividade. Na sensibilidade romântica predomina o amor pela irresolução pelas ambivalências, a inquietude e irritabilidade que se comprazem em si mesmas e se exaurem em si mesmas".

o Romantismo Filosófico: Consiste no destaque que alguns sistemas filosóficos dão a intuição e a fantasia, em contraste com os sistemas que parecem não conhecer outro órgão do verdadeiro além da fria razão. Todo o idealismo é considerado filosofia romântica.

o Romantismo nas artes: Tinha como objetivo principal a subjetivação do mundo exterior. As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram quando Francisco Goya passou a pintar depois de começar a perder a audição. Um quadro de temática neoclássica como Saturno devorando seus filhos, por exemplo, apresenta uma série de emoções para o espectador que o fazem se sentir inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra, linhas de composição diagonais e pinceladas "grosseiras" de forma a acentuar a situação dramática representada. Apesar de Goya ter sido um acadêmico, o Romantismo somente chegaria à Academia mais tarde. O francês Eugène Delacroix é considerado um pintor romântico por excelência. Sua tela A Liberdade guiando o povo reúne o vigor e o ideal românticos em uma obra que estrutura-se em um turbilhão de formas. O tema são os revolucionários de 1830 guiados pelo espírito da Liberdade (retratados aqui por uma mulher carregando a bandeira da França). O artista coloca-se metaforicamente como um revolucionário ao se retratar em um personagem da turba, apesar de olhar com uma certa reserva para os acontecimentos (refletindo a influência burguesa no romantismo). Esta é provavelmente a obra romântica mais conhecida.

o Romantismo na literatura: Tendo o liberalismo como referência ideológica, o Romantismo renega as formas rígidas da literatura, como versos de métrica exata. O romance se torna o gênero narrativo preferencial, em oposição à epopéia. É a superação da retórica, tão valorizada pelos clássicos. Os aspectos fundamentais da temática romântica são o historicismo e o individualismo.O Romantismo surge na literatura quando os escritores trocam o mecenato aristocrático pelo editor, precisando assim cativar um público leitor. Esse público estará entre os pequenos burgueses, que não estavam ligados aos valores literários clássicos e, por isso, apreciariam mais a emoção do que a sutileza das formas do período anterior. A história do Romantismo literário é bastante controversa. Em primeiro lugar, as manifestações em poesia e prosa popular na Inglaterra são os primeiros antecedentes, embora sejam consideradas "pré-românticas" em sentido lato. Os autores ingleses mais conhecidos desse pré-Romantismo "extra-oficial" são William Blake (cujo misticismo latente em The Marriage of Heaven and Hell - O Casamento do Céu e Inferno, 1793 atravessará o Romantismo até o Simbolismo) e Edward Young (cujos Night Thoughts - Pensamentos Noturnos, 1742, re-editados por Blake em 1795, influenciarão o Ultra-Romantismo), ao lado de James Thomson, William Cowper e Robert Burns. O Romantismo "oficial" é reconhecido nas figuras de Coleridge e Wordsworth (Lyrical Ballads - Baladas Líricas, 1798), fundadores; Byron (Childe Harold's Pilgrimage, Peregrinação de Childe Harold, 1818), Shelley (Hymn to Intellectual Beauty - Hino à Beleza Intelectual, 1817) e Keats (Endymion, 1817), após o Romantismo de Jena. Em segundo lugar, os alemães procuraram renovar sua literatura através do retorno à natureza e à essência humana, com assídua recorrência ao "pré-Romantismo extra-oficial" da Inglaterra. Esses escritores alemães formaram o movimento Sturm und Drang (tempestade e ímpeto), donde surge então, mergulhado no sentimentalismo, o pré-Romantismo "oficial", isto é, conforme as convenções historiográficas. Goethe (Die Leiden des Jungen Werther - O Sofrimento do Jovem Werther, 1774), Schiller (An die Freude - Ode à Alegria, 1785) e Herder (Auszug aus einem Briefwechsel über Ossian und die Lieder alter Völker - Extrato da correspondência sobre Ossian e as canções dos povos antigos, 1773) formam a Tríade. Alguns jovens alemães, como Schegel e Novalis, com novos ideais artísticos, afirmam que a literatura, enquanto arte literária, precisa expressar não só o sentimento como também o pensamento, fundidos na ironia e na auto-reflexão. Era o Romantismo de Jena, o único Romantismo autêntico em nível internacional. Em terceiro lugar, a difusão européia do Romantismo tomou como românticas as formas pré-românticas da Inglaterra e da Alemanha, privilegiando, portanto, apenas o sentimentalismo em detrimento da complicada reflexão do Romantismo de Jena. Por isso, mundialmente, o Romantismo é uma extensão do pré-Romantismo. Assim, na França, destacam-se Stendhal, Hugo e Musset; na Itália Leopardi e Manzoni; em Portugal Garrett e Herculano; na Espanha Espronceda e Zorilla.



· Romantismo (continuação):

o Principais filósofos românticos:

§ F. Schlegel(1772-1829): Destaca a concepção do infinito. Tanto a filosofia como a arte tem dificuldade de estabelecer conexões com o infinito através do finito;

i. Conceito importante - "ironia": Indica a atitude espiritual que tende a superar e a dissolver progressivamente a inadequação em relação a infinitude de todo ato ou fato do espírito humano, e nela tem um papel decisivo o elemento "espirituoso" ou "brincalhão" do humor.

ii. Na arte, ao contrário, é apanágio do gênio criador operar uma síntese de finito e infinito: o verdadeiro artista anula-se como finito para poder ser veículo do infinito, e neste sentido a arte assume também um altíssimo significado religioso, porque religião é toda relação do homem com o infinito.

§ Novalis (1772-1801):

i. Idealismo mágico (Tudo é fábula): A verdade reside no substrato mágico do real, ou seja, na fábula, no sonho e na poesia (divisa a verdadeira magia na atividade inconsciente produtora do eu que gera o não-eu). "A poesia é o real, o real verdadeiramente absoluto. Esse é o núcleo da minha filosofia".No

ii. Revalorização radical da Idade Média católica. "A única que sabe explicar o sentido da morte". Aqui ele vê realizada a feliz unidade destruída por Lutero, considerado em certo sentido como precursor do intelectualismo iluminista. Apenas a mensagem cristã sabe explicar o sentido da morte, e assim também a altíssima mensagem grega de serenidade e harmonia acena ao cristianismo.

§ Schleiermacher (1768-1834):

i. Interpretação romântica da religião:

o Religião como a relação do homem com a totalidade.

o Intuição e sentimento do infinito. ("(...) a sua essência (da religião) não está no pensamento nem na ação, mas sim na intuição e no sentimento. Ela aspira a intuir o Universo (...) a religião tende a ver no homem, não menos que em todas as outras coisas particulares e finitas, o infinito: a imagem, a marca, a expressão do Infinito").

o Sentimento de "total dependência" do homem (finito) em relação à Totalidade (infinita).

ii. Tradutor de Platão para a língua alemã. "Que tinha como objetivo desenvolver a função de mediação entre as velhas e as novas concepções da filosofia" - Lembrar da questão da tradução da Bíblia para a língua alemã.

iii. Precursor da "hermenêutica filosófica". (é preciso compreender o todo para compreender a parte, e em geral e preciso que objeto interpretado e sujeito que interpreta pertençam a um mesmo horizonte "circular").

§ Schiller (1759-1805):

i. Poeta e dramaturgo, tinha amor à liberdade em todas as suas formas essenciais (polítia, social e moral)

o Beleza: Mais alta escola da liberdade. "Só se chega à liberdade através da beleza". "Alma bela, isto é, a alma dotada daquela graça que harmoniza instinto e lei moral".


Poesia Ingênua

Poesia Sentimental


ü Antiga;

ü Homem agindo com unidade harmônica e natural;

ü Sentir naturalmente.

ü Moderna;

ü Homem não é a natureza, mas a sente;

ü Reflexão sobre esse "sentir"


"O poeta sentimental, portanto, está sempre diante de duas representações e sentimento em luta, tendo a realidade por limites e a sua ideia por infinito. E o sentimento misto que ele suscita refletirá sempre essa dupla face".

§ Goethe (1749-1832):

i. Considerado o maior poeta alemão. Não dedicou obras específica à filosofia, mas expôs inúmeras ideias filosóficas em suas obras. Diferentemente de Schiller, fez questão de manter certa distância em relação aos filósofos de profissão, foi também crítico do movimento romântico.

ii. Natureza: Organicismo levado às últimas consequências.

o Toda viva, até nos mínimos particulares;

o A totalidade dos fenômenos é produção orgânica da "forma interior";

o As diversas formações naturais derivam de uma polaridade de forças (contração e expansão), seguindo um progressivo crescimento e elevação.

iii. Tinha uma concepção panteísta de Deus.

o Dissolução do Iluminismo e prelúdio do idealismo:

§ Hamann (1730-1788): Considerado o mais áspero e genial critico do Iluminismo, e o mais ardoroso defensor da religiosidade cristã (que o Iluminismo havia minado nas raízes).

i. Linguagem: "Razão que se torna sensível", contra o dualismo kantiano de "sensibilidade" e "razão", assim como o Logos divino e o tornar-se carne de Deus.

ii. Revelação: Ação divina de revelar conceitos universais a criatura através da criatura e "artigos secretos que Deus quis revelar ao homem por meio do homem".

iii. Fé: Elemento central, em que tudo gira a seu redor;

§ Jacobi (1743-1819): Um dos principais críticos ao spinozismo e ao intelectualismo.

i. Crítica ao spinozismo:

o Toda forma de racionalismo, coerentemente desenvolvido, acaba por ser uma forma de spinozismo;

o O spinozismo é uma forma de ateísmo, porque identifica Deus e natureza, e de fatalismo, porque não deixa espaço para a liberdade.

ii. Antiintelectualismo: A fé é sentimento e intuição, força que contrapõe-se ao intelectualismo iluminista, que Jacobi considerava spinoziano. "A ciência puramente intelectualista de tipo spinoziano não pode ser refutada por via especulativa, e sim por outro caminho: contrapondo ao intelecto o caminho da fé, que é sentimento e intuição" Re.

o Fé ("razão" superior): Luz original da razão, confiança sólida naquilo que não se vê, é captação do absoluto meta-intelectual ("captação imediata do absoluto). "O intelecto é pagão, o coração é cristão: pobre de quem aprisionar o segundo no primeiro!".

§ Herder (1744-1803): Antiiluminista que baseia sua crítica em novas concepções de linguagem e história.

i. Linguagem: Exprime a natureza humana, todo progresso humano ocorre com e por meio da língua ("o homem é criatura da língua").

ii. História: Instrumento de atuação de Deus (cristão), que opera e se revela tanto na natureza quanto na história. "O progresso, do qual cada fase (compreendendo a Idade Média) tem atua os fins um significado próprio peculiar, é, portanto, obra de Deus que conduz a plenitude da realização os povos, considerados como unidades vivas, quase como organismos"Re.

§ Humboldt (1767-1835):

i. Ideal de humanidade: "ideia" a qual todo indivíduo tende, embora sem jamais conseguir realizá-la plenamente. O ideal da humanidade se realiza na história. (esse ideal se aproxima pela arte).

· Idealismo:

o Fichte (1762-1814):

§ Breve biografia: De origem humilde, a qual tinha orgulho, tornou-se um dos primeiros filósofos a propagar a filosofia kantiana (Kant ainda era vivo). Foi perseguido por ser considerado ateu, não por suas próprias declarações, mas de seu discípulo Forberg (“sustentando que era possível crer em Deus e, não obstante, ser religioso, porque, para ser religioso, basta crer na virtude (e, portanto, se podia ser religioso até sendo ateu ou agnóstico).

§ O idealismo de Fichte:

i. Difusor do criticismo kantiano (Racionalismo que procura determinar os limites da razão humana);

ii. Tentativa de condução da filosofia a um princípio único (que Kant não teria tematizado);

iii. Reconhecimento da impossibilidade de conhecimento da “coisa em si”;

iv. Tentativa de unificação do “sensível” com o “inteligível”, ou na linguagem de Fichte, tranformar o “Eu penso” kantiano no “Eu puro”.

o Eu puro: Princípio primeiro e absoluto, sendo que dele deduz-se toda a realidade (idealismo) - “Intuição pura, que se autopõe (se autocria) e, autopondo-se, cria toda a realidade, e na relativa identificação da essência desse Eu com a liberdade”.

§ Doutrina da Ciência: Proposta de construção de um sistema filosófico que unificassem as três críticas de Kant;

i. Primeiro princípio (Afirmação): O Eu põe absolutamente a si mesmo, a intuição intelectual, autocriação absoluta, este é o momento da liberdade e da tese (“O Eu, enquanto livre atividade originária e infinita, é autocriação absoluta por meio da própria imaginação produtiva”) - Kant considerava impossível para o homem, porque coincidiria com a intuição de um intelecto criador;

ii. Segundo princípio (Negação): O Eu opõe absolutamente a si mesmo, dentro de si, um não-eu. Este é o momento da necessidade e da antítese;

iii. Terceiro princípio (Limitação): No Eu absoluto, o eu limitado e o não-eu limitado se opõem e se limitam reciprocamente. E este é o momento da síntese.

o Atividade cognoscitiva: O eu é determinado pelo não-eu, uma vez que o não-eu constitui a matéria do conhecer e da atividade - uma vez que o não-eu constitui a matéria do conhecer e da atividade e, portanto, o limite necessário da consciência, como a atividade cognoscitiva prática, que se funda ao contrario sobre o aspecto pelo qual o eu determina o não-eu, uma vez que o eu, para realizar-se como liberdade, devem sempre superar os limites que o não-eu pouco a pouco lhes opõe. Isso atesta a superioridade da razão prática sobre a razão pura;

o Atividade prática: Funda-se, por sua vez, no aspecto pelo qual o Eu determina o não-eu.


Explicações Idealistas


Atividade Cognoscitiva

Atividade Moral (prática)


· O eu é determinado pelo não-eu, ou seja, o objeto que determina o sujeito;

· O não-eu age sobre o Eu como objeto de conhecimento;

· O não-eu é a matéria do conhecer e da atividade e, portanto, o limite necessário da consciência;

· O Eu determina a o não-eu. É o sujeito que determina e modifica o objeto;

· O não-eu age sobre o Eu como uma espécie de "impacto" ou "esforço" (Anstoss), que suscita um "contra-impacto" ou "contra-esforço";

· O objeto se apresenta ao homem como obstáculo a superar;

· O não-eu torna-se o instrumento através do qual o Eu se realiza moralmente;

· Sendo assim, o não-eu torna-se momento necessário para realização da liberdade do Eu.




i. Conceito de liberdade para Fichte: Ser livre significa tornar-se livre. E tornar-se livre significa afastar incessantemente os limites opostos pelo não-eu ao Eu.

o O Eu põe o não-eu para poder se realizar como liberdade;

o Como é evidente, a eliminação completa do não-eu só pode ser um conceito-limite;

o Por isso, a liberdade permanece estruturalmente como função infinita;

o A verdadeira perfeição é um infinito tender à perfeição como superação progressiva da limitação.

§ Importante: E nisso revela-se a própria essência do princípio absoluto.

§ Mundo numênico x Mundo fenomênico:

i. A lei moral é o nosso ser-no-mundo-inteligível;

ii. A ação real constitui o nosso ser-no-mundo-sensível;

iii. A liberdade, enquanto poder absoluto de determinar o sensível segundo o inteligível, é a junção dos dois mundos.

o Pior dos males (vício supremo): Inatividade ou a inércia, da qual derivam os outros vícios piores, como a vilania e a falsidade. A inatividade (a acídia), com efeito, faz o homem permanecer no nível de coisa, de natureza, de não-eu e, portanto, em certo sentido, é a negação da essência e do destino.

§ Verdadeiro princípio: É, portanto, a liberdade do Eu.

o Função moral do homem: Entrar em relação com outros homens; a multiplicidade de homens implica o surgimento de muitos ideais e, portanto, de um conflito entre ideais diferentes; nesse conflito, uma vez que a ordem moral do mundo é o próprio Deus, não pode deixar de prevalecer aquele que é moralmente melhor.

o Função do “douto”: Tem missão particular entre os homens. Ele deve se empenhar não somente em fazer progredir o saber, mas em ser moralmente melhor e, nesse sentido, com sua atividade e seu exemplo, deve promover o progresso da humanidade.

§ Direito Fundamental: O direito à liberdade. O homem deve limitar a própria liberdade com o reconhecimento da liberdade do outro. A vida associada implica o surgimento do "direito", porque em comunidade o homem deve limitar a própria liberdade com o reconhecimento da liberdade do outro; o direito fundamental do homem é, portanto, o direito a liberdade; o segundo é o direito a propriedade.

§ Estado: O Estado nasce de um contrato social e, portanto, de um consenso das vontades dos indivíduos. O Estado deve garantir a quem é incapaz a possibilidade de sobrevivência, a quem é capaz a possibilidade de trabalhar e, por fim, também deve impedir que alguém viva sem trabalhar. Como concebido pelo filósofo, portanto, o Estado garante trabalho para todos e impede que existam pobres e parasitas.

o Povo alemão: Apenas o povo alemão reunificado teria podido atingir os ideais da Revolução Francesa. O Estado deve garantir o trabalho a todos, impedindo que haja pobres; para atingir este objetivo, o Estado pode, se necessário, fechar o comercio exterior e tornar-se Estado comercial fechado. Tais posições socialistas, inspiradas pelos ideais da Revolução Francesa, mudaram sob o evoluir dos acontecimentos históricos, convencendo Fichte que apenas do povo alemão, militarmente derrotado e politicamente oprimido e dividido, podia vir o impulso para o progresso da humanidade. Os Discursos a nação alemã terminam assim: "Conhecemos nós algum povo que se assemelhe a este nosso, que foi o progenitor da civilização moderna e que nos suscite a mesma confiança? Creio que todo aquele que não se entregue às fantasias, mas pense, refletindo e discernindo, deve responder com um 'não' a tal pergunta. Portanto, não há outro caminho: se perecerdes, toda a humanidade perecerá, e nunca mais ressurgirá".

§ Segunda Fase do Pensamento de Fichte:

i. Absoluto: Base de tudo, que se manifesta formalmente em si como razão, como identidade que infinitamente se diferencia de saber e do ser; o absoluto é assim cindido do saber absoluto, o qual, para ser superado, deve ser posto na "evidência" da luz da unidade divina.

ii. Homem religioso: Na vida e nas ações do homem religiosa devoto a Deus não é o homem que age, mas o próprio Deus; a própria ciência torna-se uma espécie de união mística com o absoluto.



· Idealismo (continuação):

o Schelling (1775-1854):

§ Recapitulação do sistema idealista (tese - atítese - síntese)

§ Breve biografia: Filho de pastor protestante, matriculou-se no seminário com 15 anos. Foi assessor de Fichte e, posteriormente, o sucedeu no ensino universitário com apenas 24 anos. A partir de 1797, portanto, Schelling encaminhou-se para a revalorização da natureza e para o preenchimento das lacunas do sistema de Fichte. Mas, ao fazê-lo, punha em crise a Doutrina da ciência e aplainava o caminho para uma diferente formulação e projeção do idealismo. Morreu no ostracismo, na Suíça.

§ Filosofia da Natureza:

i. "O sistema da natureza é, ao mesmo tempo, o sistema de nosso espírito". Isso implica que se deve aplicar à natureza o mesmo modelo de explicação que Fichte aplicara com sucesso a vida do espírito. Em suma, para Schelling, os próprios princípios que explicam o espírito podem e devem explicar também a natureza;

ii. Aquilo que explica a natureza, é a mesma inteligência que explica o Eu. "O mesmo princípio une a natureza inorgânica e a natureza orgânica". A natureza é produzida por uma inteligência inconsciente, que opera em seu interior, que se desenvolve teleologicamente (teoria que explica os seres, pelo fim a que aparentemente são destinados) em graus, ou seja, em níveis sucessivos, que mostram uma finalidade intrínseca e estrutural.

** Obs: Apesar do elevado número de Compostos Orgânicos (elevado número devido à propriedade de os átomos de carbono poderem ligarem-se entre si, formando cadeias), o número de elementos químicos constituintes é muito pequeno, ou seja, os compostos orgânicos, em sua maioria, são formados pelos mesmos elementos, os chamados organógenos: Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O) e Nitrogênio (N). Na constituição de Compostos Inorgânicos há grande variedade de elementos químicos.

iii. Grande princípio: A natureza deve ser o espírito visível, o espírito a natureza invisível. "A natureza nada mais é do que "inteligência enrijecida em um ser", "sensações apagadas em um não-ser", "arte formadora de idéias que transforma em corpos".

iv. Mecanismo Universal (ou Processo Dinâmico): Retomada da expansão da força infinita positiva e o novo encontro com a força negativa e limitadora.

v. Alma do mundo: Hipótese para explicar o organismo universal (inteligência inconsciente que produz e rege a natureza). Aquilo que na natureza aparece como não vivo é apenas "vida que dorme"; A vida é "a respiração do universo", ao passo que "a matéria é espírito enrijecido".

vi. Homem: Fim último da natureza, porque nele precisamente desperta o espírito.

vii. Natureza: História da inteligência inconsciente, que, através de sucessivos graus de objetivação, chega por fim a consciência (no homem).

· Idealismo Transcendental:

o Atividade Real: Originária do Eu, produtora ao infinito.

o Atividade Ideal: Aquela que toma consciência colidindo com o limite;

o A filosofia teórica é por isso idealismo, enquanto a filosofia prática é realismo, e apenas juntas elas formam o sistema completo do idealismo transcendental.

· Filosofia da Identidade:

o Concepção de Absoluto: "Identidade originária" de Eu e não-eu, sujeito e objeto, espírito e natureza; O absoluto é, portanto, esta identidade originária de ideal e real, e a filosofia é saber absoluto do absoluto.: a identidade absoluta é definitivamente o Uno-Todo, fora do qual nenhuma coisa existe por si mesma.

o Identidade absoluta: A identidade absoluta é infinita e não sai nunca fora de si e, portanto, tudo aquilo que existe, existe, de algum modo, nela e é "identidade".

§ Deus: Opostos são unificados no absoluto. Em Deus há um princípio obscuro e cego, que é "vontade" irracional, e um principio positivo e racional, e a vida de Deus se explica justamente como vitória do positivo sobre o negativo. 0 drama humano, que consiste na luta entre o bem e o mal, entre a liberdade e a necessidade e, portanto, o espelhamento de um conflito originário de forças opostas que estão na base da própria existência e da vida de Deus. O mal existe no mundo porque já existe em Deus, e no decorrer da historia ele será vencido pelo caminho do espelhamento daquela vitoria sobre o negativo que se realiza eternamente em Deus.


· Hegel (1770-1831):

o Breve biografia: Filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift (seminário da Igreja Protestante em Württemberg). Hegel influenciou escritores de posições largamente díspares, incluindo seus admiradores (Strauss, Bauer, Feuerbach, Stirner, T. H. Green, Marx, F. H. Bradley, Dewey, Sartre, Küng, Kojève, Fukuyama, Žižek, Brandom, Iqbal) e seus detratores (Schopenhauer, Schelling, Kierkegaard, Nietzsche, Peirce, Popper, Russell, Heidegger). Suas concepções influentes são de lógica especulativa ou "dialética", "idealismo absoluto", "Espírito", negatividade, "Aufheben"/"Aufhebung" ('sublimação', 'levantar', 'abolir', 'transcender', 'preservar'), dialética "Senhor/Escravo", "vida ética" e importância da história. Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx. A primeira e a mais importante das obras maiores de Hegel é sua Fenomenologia do Espírito. Em vida, Hegel ainda viu publicada a Enciclopédia das Ciências Filosóficas, a Ciência da Lógica, e os Princípios (Elementos da) Filosofia do Direito. Várias outras obras sobre filosofia da história, religião, estética e história da filosofia foram compiladas a partir de anotações feitas por seus estudantes, tendo sido publicadas postumamente.

o O Sistema Hegeliano: "O que Schelling havia começado esforçando-se por conciliar o eu e o não-eu na Natureza e no Absoluto, Hegel levou-o a cabo plenamente. Permanecendo, aliás, puro idealista e, neste sentido, subjetivista, constrói um sistema mais objetivo no qual a consciência ou o eu se encontra mais no seu lugar, já não ao centro, mas num momento da evolução universal: Novo ensaio para justificar a solução panteísta do problema filosófico, (...) o sistema demonstra-se desenvolvendo-se. Mas importa primeiro apreender exatamente o sentido do princípio fundamental que é a alma de todas as deduções e lhes constitui a unidade profunda; veremos depois a aplicação em um tríplice domínio: lógico e ontológico; – físico, – moral e religioso".

§ Núcleos conceituais:

i. A realidade enquanto tal é espírito infinito (onde, por "espírito", entende-se algo que, ao mesmo tempo, assume e supera tudo o que os seus antecessores haviam dito a esse respeito, especialmente Fichte e Schelling, como veremos);

ii. A estrutura e a própria vida do espírito e, portanto, também o procedimento com o qual se desenvolve o saber filosófico, é a dialética (poder-se-ia dizer também que a espiritualidade é dialeticidade);

iii. A peculiaridade desta dialética, bem diferente de todas as formas precedentes de dialética, é o elemento "especulativo".

** Obs. sobre dialética: Dialética é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que leva a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as idéias".

§ Realidade: A realidade e o verdadeiro não são “substância” (ou seja, um ser mais ou menos enrijecido, como tradicionalmente era considerado no mais das vezes), e sim "sujeito", ou seja, "pensamento", "espírito".

i. Crítica à Fichte:

o Concordavam que a realidade não é substância, mas sujeito e espírito (automovimento);

o Hegel afirmava que o limite imposto por Fichte entre o Eu e o não-eu nunca seria “superado”, mesmo no infinito, que seria um “mau (falso) infinito”, impedindo a restauração do Eu e não-eu, sujeito e objeto, infinito e finito;

o A antítese nunca seria superada.

ii. Crítica à Schelling:

o A identidade originária proposta por Schelling seria vazia e artificiosa (não justificava seus conteúdos);

§ Realidade do Espírito: “O espírito se autogera, gerando ao mesmo tempo sua própria determinação, e superando-a plenamente”. Igualdade que se reconstitui continuamente, ou seja, unidade-que-se-faz precisamente através do múltiplo.

i. Sempre atua e se realiza;

ii. Contínua colocação e superação do finito → Finito: Existência puramente ideal ou abstrata, não existe por si só, contra o infinito ou fora dele;

O espírito infinito hegeliano é, então, como o círculo, no qual princípio e fim coincidem de modo dinâmico, ou seja, como movimento em espiral no qual o particular é sempre posto e sempre resumido dinamicamente, no universal; o ser é sempre resumido no dever ser e o real é sempre resumido no racional. Essa é a novidade que Hegel conquista, permitindo-lhe superar claramente Fichte. (ESQUEMA DESENHO EM ESPIRAL)

iii. Vale para o real, tanto no seu todo como em suas partes;

iv. Cada momento do real é momento indispensável do Absoluto, porque este se faz e se realiza em cada um e em todos esses momentos, de modo que cada momento torna-se absolutamente necessário (exemplo da flor).

"Do mesmo modo, a determinação das relações que uma obra filosófica julga ter com outras sobre o mesmo objeto introduz um interesse estranho e obscurece o que importa ao conhecimento da verdade. Com a mesma rigidez com que a opinião comum se prende à oposição entre o verdadeiro e o falso, costuma também cobrar, ante um sistema filosófico dado, uma atitude de aprovação ou de rejeição. Acha que qualquer esclarecimento a respeito do sistema só pode ser uma ou outra. Não concebe a diversidade dos sistemas filosóficos como desenvolvimento progressivo da verdade, mas só vê na diversidade a contradição.

O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si. Porém, ao mesmo tempo, sua natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários. E essa igual necessidade que constitui unicamente a vida do todo. Mas a contradição de um sistema filosófico não costuma conceber-se desse modo; além disso, a consciência que apreende essa contradição não sabe geralmente libertá-la - ou mantê-la livre - de sua unilateralidade; nem sabe reconhecer no que aparece sob a forma de luta e contradição contra si mesmo, momentos mutuamente necessários". He

o → Real: Processo que se autocria enquanto percorre os seus momentos sucessivos e no qual o positivo é o próprio movimento, que é auto-enriquecimento progressivo (de planta a botão, de botão a flor, de flor a fruto). "Tudo o que é real é racional e tudo o que é racional é real".He

v. Movimento próprio do Espírito (movimento do refletir-se em si mesmo - circularidade):

o 1º movimento: Ser "em si";

o 2º movimento: "Ser outro" ou "fora de si";

o 3º movimento: "Ser em si e para si".

§ O mesmo ocorre com o Absoluto: a Ideia (que é o Logos, a Racionalidade pura e a Subjetividade em sentido idealista), tem em si o princípio do seu próprio desenvolvimento e, em função dele, primeiro se objetiva e se faz natureza, "alienando-se", e depois, superando essa alienação, retorna a si mesma.

vi. Espírito é a Ideia que se realiza e se contempla através do seu próprio desenvolvimento;

o Qualquer coisa que exista ou aconteça não está fora do Absoluto, mas é um seu momento insuprimível.






§ Dialética: Método capaz de ir além dos limites do "intelecto", a ponto de garantir o conhecimento "científico" do infinito e elevar a filosofia à ciência. Hegel aqui é claramente influenciado pela ideia romântica de que deve-se ir além do infinito, para se captar a realidade e o verdadeiro que se encontram no infinito.

i. O coração da dialética é o movimento (que é própria natureza do espírito), circular ou espiral com ritmo triádico;

o Tese: Momento abstrado ou intelectivo, apresentando conteúdo inadequado, pois permanece no finito. (alguns chamam de revolução);

o Antítese: Momento dialético (em sentido estrito) ou negativamente racional (passo necessário para ir além dos limites do intelecto - “Nós sabemos que todo finito, ao invés de ser termo fixo e ultimo, é mutável e transeunte; isso nada mais é do que a dialética do finito, mediante a qual o finito, enquanto em si, é diferente de si, sendo impelido também para além daquilo que é imediatamente e transformando-se no seu oposto.");

o Síntese: Momento especulativo ou positivamente racional (positivo emergente da resolução dos opostos – síntese dos opostos).

→ A dialética, assim como a realidade em geral e, portanto, o verdadeiro, é esse movimento circular que descrevemos e que jamais tem repouso.

§ Momento “especulativo”: é a reafirmação do positivo que se realiza mediante a negação do negativo próprio das antíteses dialéticas. O conhecimento dos opostos em sua unidade e uma conseqüente elevação do positivo (mantendo e restaurando o negativo) a um pano superior

** → (O especulativo constitui, portanto, o vértice a que chega a razão, a dimensão do absoluto). re

§ Proposições Filosóficas (Juízos): "Proposições especulativas" e não juízos formados por um sujeito ao qual se atribui um predicado, no sentido da lógica tradicional. Sujeito e predicado permutam-se as partes de modo a constituir justamente uma identidade dinâmica.

** → Vejamos um exemplo. Quando dizemos que "o real é racional'' em sentido hegeliano (especulativo), não entendemos (como na velha logica) que o real é o sujeito estável consolidado (substância) e que o racional é o predicado (ou seja, o acidente daquela substância), mas, ao contrário, que "o universal expressa o sentido do real". Portanto, o sujeito passa para o próprio predicado (e vice-versa). A proposição em sentido especulativo diria que o real se resume no racional e, desse modo, o predicado torna-se elemento tão essencial da proposição quanto o sujeito.

o Fenomenologia do Espírito: É o caminho que leva a consciência finita ao absoluto infinito, que coincide com o caminho que o absoluto percorreu e percorre para alcançar a si mesmo (o reentrar em si pelo ser-outro). O homem, no momento em que filosofa, eleva-se bem acima da consciência comum, ou seja, mais precisamente, que sua consciência eleva-se à altura da pura razão e que se coloca em perspectiva absoluta (ou seja, que adquire o ponto-de-vista-do-absoluto). E, "para construir o absoluto na consciência", é preciso negar e superar as finitudes da consciência, elevando desse modo o eu empírico a Eu transcendental, a razão e espírito. Re

§ Fenomenologia: Ciência do espírito. Pode-se até dizer que é o caminho que leva ao absoluto (lembrando que o finito não se separa do infinito). É o aparecer do próprio espírito em diferentes etapas, que, a partir da consciência empírica, pouco a pouco se eleva a níveis sempre mais altos;

§ Dois planos da Fenomenologia do Espírito:

i. Constituído pelo caminho percorrido pelo espírito para chegar a si mesmo ao longo de todos os acontecimentos da história do mundo que, para Hegel, é o caminho ao longo do qual o espírito se realizou e se conheceu;

ii. Próprio do simples indivíduo empírico, que deve percorrer novamente aquele mesmo caminho e apropriar-se dele.

** → A história da consciência do indivíduo, portanto, outra coisa não pode ser senão o percorrer de novo a história do espírito.

§ Objetivo da Fenomenologia: Anulação da cisão entre consciência e objeto (toda consciência é autoconsciência).

§ Itinerário da Fenomenologia: Mediação progressiva da oposição sujeito-objeto, até sua total superação.


§ Itinerário da Fenomenologia (continuação):

i. Etapas:

o Consciência: olha e conhece o mundo como algo diferente e independente de si. Ela se desdobra em três momentos sucessivos: a) da certeza sensível, b) da percepção, c) do intelecto. Cada um destes leva dialeticamente ao outro, tornando-se posteriormente autoconsciência (saber de si);

o Autoconsciência: através dos diversos momentos, aprende a saber o que ela é propriamente. Toda autoconsciência tem necessidade estrutural da outra e a luta não deve ter como resultado a morte de uma das duas, mas a submissão de uma a outra. Mas a autoconsciência só alcança a plena consciência através das etapas sucessivas: a) do “Senhor” e “Servo”, b) do estoicismo, c) do ceticismo, d) da consciência infeliz.

o Razão: A "razão" nasce no momento em que a consciência adquire "a certeza de ser toda realidade". Essa é a posição própria do idealismo. As etapas fenomenológicas da razão (ou do espírito que se manifesta como razão) são as etapas dialéticas progressivas da aquisição dessa certeza de ser toda coisa, ou seja, da aquisição da unidade de pensar e de ser. Agora, como razão, a consciência sabe ser unidade de pensamento e de ser e, nesse nível, as novas etapas consistem precisamente em verificar essa certeza. E assim temos as três etapas: A) da "razão que observa a natureza"; B) da "razão que age" e C) da "razão que adquire a consciência de ser espírito". A autoconsciência descobre que a substância ética nada mais é senão aquilo em que ela já está imersa: é o ethos (síntese dos costumes de um povo) da sociedade e do povo em que vive.

o Espírito: O espírito é o indivíduo que constitui um mundo tal como ele se realiza na vida de um povo livre. O espírito, portanto, é a unidade da autoconsciência "na perfeita liberdade e independência" e, ao mesmo tempo, em sua oposição “mediata”. O espírito é "eu que é nós, nós que é eu". As etapas fenomenológicas do espírito são: a) o espírito em si, b) o espírito que se alheia em si e c) o espírito que readquire certeza de si.

o Religião: Última etapa, através da qual chega-se a meta, ao saber absoluto. A religião é a autoconsciência do absoluto, mas ainda não perfeita, ou seja, na forma da representação e não do conceito. A forma mais elevada de religião para Hegel é o cristianismo, e nos dogmas fundamentais do cristianismo ele vê os conceitos cardeais de sua filosofia: a encarnação, o reino do espírito e a trindade expressam o conceito de espírito que se aliena para se autopossuir e que, no seu ser-outro, mantém a igualdade de si consigo, operando a síntese suprema dos opostos.

** → A superação da forma de conhecimento "representativo" próprio da religião leva, por fim, ao puro conceito e ao saber absoluto, ao seja, ao sistema da ciência, que Hegel exporia na “Lógica”, na “Filosofia da Natureza” e na “Filosofia do Espírito”, como veremos.

o Lógica: É o estudo da estrutura do Todo, no sentido que a própria lógica é a auto-estruturação do quadro do Todo. Se desenvolve inteiramente no plano definitivamente ganho da Fenomenologia, isto é, no plano do saber absoluto, em que desapareceu toda diferença entre "certeza" (subjetividade) e "verdade" (objetividade); ela não é, portanto, um puro "organon", no sentido em que o era a Iódica formal, mas é o estudo da estrutura do Todo, no sentido que a própria Iógica é o auto-estruturar-se do Todo.

i. Coincide com a ontologia (com a metafísica) – reino do pensamento puro; e nesse sentido constitui a síntese especulativa dos conteúdos que se encontram no Organon e na Metafísica de Aristóteles.

ii. É o reino do pensamento puro.

iii. Exposição de Deus: como Ele é em sua eterna essência antes da criação do mundo e de todo espírito finito. Verdade como ela é em si e por si sem véu.

iv. Logos: Elemento puro do pensamento, deve ser concebido também como desenvolvimento e processo dialético: a "ideia lógica" é a totalidade de suas determinações conceituais em seu desdobramento dialético. Para se tornar espírito, deve primeiro alienar-se na natureza e depois superar essa alienação.

§ Três etapas fundamentais da lógica:

i. Do ser: Dialética procede em sentido horizontal, constituído pela tríade “ser, não-ser, tornar-se”;

ii. Da essência: Desenvolvimento em profundidade. Identidade (inclui as diferenças) e não contradição (inclui as contradições que é a raiz de todo movimento e vitalidade);

iii. Do conceito: Dimensão da circularidade, em que cada termo prossegue no outro até identificar-se dialeticamente com ele. Tudo é um autodesdobramento do sujeito, o qual é toda a realidade.

o Filosofia da Natureza: A passagem da ideia para a natureza é a parte mais problemática da filosofia de Hegel; Hegel nos disse que a lógica é "a representação de Deus como Ele é em sua essência eterna, antes da criação da natureza e de um espírito finito". Então, aquilo que ainda falta é precisamente a "criação da natureza" e, depois, de um " espírito finito". Salientando que a linguagem da frase citada só poderia ser metafórica, porque em Hegel tudo é ideia e na ideia e, portanto, a criação da natureza não pode querer dizer o sobrevir de alguma coisa diferente da própria ideia e separada da ideia.

§ Natureza:

i. Momento de auto-ilusão da ideia, em seu estar-fora-de-si, a qual em sua existência não mostra nenhuma liberdade, mas apenas necessidade e acidentalidade. Aparece a grande sugestão da processão dialética do neoplatonismo (de que Hegel era fervoroso admirador), que concebia o desenvolvimento da realidade em sentido triádico como manência (moné) - saída (próodos) - retorno (epistrophé). A idéia lógica hegeliana corresponde à "manência", a natureza corresponde a "saída" (a natureza, como logo veremos, é a ideia que se afasta de si, que sai de si), ao passo que o espírito hegeliano é tematicamente apresentado como "retorno" da ideia em si e para si.

ii. A criação da natureza é propriamente uma "queda da ideia a partir de si". A ideia decide livremente seu próprio tornar-se natureza.

iii. A verdade e o fim da natureza, cujos graus ascendentes são a mecânica, a física e a orgânica, é o espírito.

o Filosofia do Espírito: O espírito é a ideia que retorna a si a partir de sua alteridade, é a mais alta manifestação do absoluto, o auto-realizar-se e o autoconhecer-se de Deus. Divide-se em três momentos:

§ Espírito Subjetivo: Ainda ligado a finitude (suas etapas são: antropologia, fenomenologia e psicologia);

§ Espírito Objetivo: Que se realiza na família, no sociedade, nas leis do Estado (suas etapas são: direito abstrato, moralidade e eticidade);

§ Espírito Absoluto: A ideia conclui seu "retorno a si" no autoconhecer-se absoluto. É Deus que se concilia com sua comunidade e consigo mesmo. (suas etapas são: intuição sensível, a representação da fé [religião] e o conceito puro [a filosofia]→ na qual se unificam a objetividade da arte e a subjetividade da religião: aqui, diz Hegel, a ideia eterna sendo-em-si-e-para-si se ativa, se produz e goza de si mesma eternamente como espírito absoluto.

· Hegelianismo: “Todo o pensamento moderno posterior a Hegel pode ser visto como uma espécie de acerto de contas com o "totalitarismo racionalista" hegeliano. Os irracionalismos e as filosofias antidialéticas posteriores têm todos em comum a reação contra a razão que Hegel tentou impor em todos os níveis de modo absolutista” (Re). Está morta na filosofia de Hegel a pretensão de dar ao homem o totalizante conhecimento absoluto do absoluto; está viva toda uma série de suas extraordinárias análises que se estendem pelos vários campos do saber e que constituem material quase que inexaurível. E é por isso que, logo depois que alguém o declara definitivamente morto, Hegel renasce do modo menos pensado.

o Direita Hegeliana: Radicalizou o sistema. Representada, entre outros, por Karl Friedrich Goschel (1781-1861), Kasimir Conradi (1784-1849) e Georg Andreas Gabler (1786-1853) – Características Principais:

§ a) Exaltação do Estado prussiano como o ponto de chegada da dialética, como a realização máxima da racionalidade do espírito (justificação do Estado existente); com suas instituições e suas realizações econômicas e sociais devia ser visto como o ponto de chegada da dialética, como a realização máxima da racionalidade do espírito;

§ b) Exaltação ao cristianismo, em que a filosofia de Hegel adéqua a religião ao pensamento moderno (Escolástica do hegelianismo). A filosofia de Hegel é seguramente compatível com os dogmas do cristianismo e representa o esforço mais adequado para tornar a fé cristã aceitável ao pensamento moderno e justificá-lo diante da razão.

o Esquerda Hegeliana: Podou e redimensionou amplamente o sistema. Características Principais:

§ a) A dialética histórica deveria negar e superar os atuais estados políticos. Invocava a teoria da dialética para sustentar que não era possível deter-se em configuração política e que a dialética histórica deveria negá-la para superá-la e realizar uma racionalidade mais elevada.

§ b) A religião deveria ser substituída pela filosofia. Sustentava a inconciliabilidade entre filosofia hegeliana e cristianismo, negando ao cristianismo qualquer elemento de transcendência e reduzindo a religião de mensagem divina a fato essencialmente humano, através do qual podemos vir a saber muitas coisas, mas não sobre Deus e sim sobre o próprio homem, suas aspirações profundas e sua historia.

** → Principal diferença política: a direita propunha a filosofia hegeliana como justificação do Estado existente, ao passo que a esquerda, em nome da dialética, pretendia negar o Estado existente.

** → Principal diferença religiosa: Hegel sustentara que tanto a religião como a filosofia têm o mesmo conteúdo, mas também dissera que a religião expressa esse conteúdo na forma de representação, ao passo que a filosofia o expressa na forma de conceito. Consequentemente, para Hegel, o verdadeiro conteúdo da religião devia ser retomado pela filosofia, transformado em conceitos, e portanto desaparecer enquanto verdade religiosa e tornar-se razão filosófica. A direita hegeliana baseava-se no fato de que Hegel reconhecia à religião histórica plena validade no âmbito da sua forma; a esquerda, porém, baseava-se no fato de que, para Hegel, a religião não é razão, e sim representação e, portanto, redutível a mito.

§ Nomes em destaque:

i. David Friedrich Strauss (1808-1874): o Evangelho não é história, mas "mito". E a verdade do mito é que a união do finito e do infinito não ocorre em um homem particular, mas é característica da humanidade. Autor de uma Vida de Jesus (1835), o Evangelho nos apresenta o "Cristo da fé: e uma transfiguração dos fatos, que brotou da espera do Messias por parte do povo, sob o estimulo do fascínio poderoso de Jesus. E a verdade do mito é que a união do finito e do infinito não ocorre em um homem particular, mas é característica da humanidade. Cristo, escreve Strauss, "é aquele no qual a consciência da unidade do divino e do humano surgiu pela primeira vez e com energia, e que neste sentido e único e inigualável na história do mundo".

ii. Bruno Bauer (1809-1882): Ataca o cristianismo do lado ético. E se pergunta: "Quem é o egoísta?". O crente, que deixa de lado o Estado, a história e a humanidade, e sobre as ruínas da razão e da humanidade ocupa-se apenas com sua alma miserável e sem interesse? Ou o homem, que vive e trabalha junto com os homens, e em família, Estado, arte e ciência satisfaz sua paixão pelo progresso da humanidade?

iii. Max Stirner (pseudônimo de Johann Kaspar Schmidt, 1806-1856): Única realidade e único valor é o individuo (egoísmo absoluto). Para ser ateus até o fim, é preciso negar tanto Deus como a humanidade, e isto em nome da única realidade e do único valor que é o individuo. O indivíduo é a única fonte do direito: nem Deus, nem a ciência, nem a revolução (que impõe outras escravidões) são legitimados para impor regras ao indivíduo. A consequência de tudo isso é um egoísmo absoluto: o único entra em uma associação porque isso Ihe é cômodo e considera os outros como objetos. O único será unicamente sua liberdade, sua vontade, seu poder. Esta é a sua propriedade: "Não aquela árvore, e sim minha força de dispor dela conforme me aprouver, constitui a minha propriedade". A propriedade do único é o seu poder.

iv. Arnold Ruge (1802-1880) - cuja influência sobre Marx será não indiferente - combate o pensamento de Hegel em nome da história concreta e no plano da política. E na Filosofia do direito hegeliano e crítica de nosso tempo (1842) ele afirma que "a razão, que quer despachar as fluidas existências da história por determinações eternas, cai em um jogo ridículo de prestigio".

· Ludwig Feuerbach (1804-1872): Filósofo e teólogo humanista alemão, um dos principais nomes da esquerda hegeliana e um dos pensadores que mais influenciou Karl Marx.

o Redução da teologia a antropologia ("homo homini deus est"):

§ Negação ao idealismo: que seria extravio do homem concreto.

** → Para Feuerbach, Hegel "pôs de lado os fundamentos e as causas naturais, as bases da filosofia genético-crítica". Mas uma filosofia que deixa de lado a natureza é vã especulação.

§ O Deus transcendente da tradição é substituindo pelo espírito hegeliano (isto é, digamos, a realidade humana em sua abstração).

§ Negação ao teísmo: Não é Deus que cria o homem e sim o homem que cria Deus.

§ A união entre finito e infinito não se realiza em Deus ou na ideia absoluta e sim no homem.

§ Religião (fato humano, totalmente humano): Relacionar-se do homem com sua própria essência (nisso consiste sua verdade). Mas sua essência não como sua e sim como outra essência, separada e dividida dele, até oposta (nisso consiste sua falsidade)". A religião, pois, é a projeção da essência do homem: "Deus é o espelho do homem", afirma Feuerbach.

§ Deus seria a projeção exterior do desejo de perfeição do homem. "A consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si" (Fe).

§ Todas as qualificações do ser divino são [...] qualificações do ser humano". O ser divino é unicamente "o ser do homem libertado dos limites do individuo, isto é, dos limites da corporeidade e da realidade, mas objetivado, ou seja, contemplado e adorado como outro ser, distinto dele".

o O "humanismo" de Feuerbach: Substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". "Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana." Feuerbach substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". E, assim, pretende substituir a moral que recomenda o amor a Deus pela moral que recomenda o amor ao homem em nome do homem. Essa é a intenção do humanismo de Feuerbach: a de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens, "de homens que crêem em homens que pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em estudiosos do aquém, de cristãos - que, por seu próprio reconhecimento, são metade animais e metade anjos - em homens em sua inteireza".


· Karl Marx (1818 – 1863): Foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia várias áreas acadêmicas. Marx foi o segundo de nove filhos, de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos. Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837). Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde na Universidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por Bruno Bauer. Ali perdeu interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny von Westphalen, a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários. (Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união). Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, Helena Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres. De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou. Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo belga. Junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana. Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai. Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva. Foi enterrado na condição de apátrida, no Cemitério de Highgate, em Londres.

o Principais críticas:

§ Hegel:

· Subordinação da sociedade civil ao Estado: Sua filosofia seria apenas ideologia, para legitimar a ordem existente;

· Inversão do sujeito e o predicado: Sujeitos reais (indivíduos humanos) são transformados em predicados da “substância mítica”. "Como não é a religião que cria o homem, mas o homem que cria a religião, da mesma forma não é a constituição que cria o povo, mas o povo que cria a constituição" (KM).

· Hegel transforma em verdades filosóficas dados que são puros fatos históricos e empíricos; "Hegel não deve ser censurado por descrever o ser do Estado moderno tal como é, mas sim por considerar aquilo que é como a essência do Estado". O problema, portanto, é que em Hegel, depois de ter concebido a essência ou substância da pêra ou da maçã, até as peras reais tornam-se encarnações do fruto absoluto, ou seja, peras e maçãs aparentes.

· Transformação de espiritualismo político em materialismo.

§ Esquerda alemã: Marx e Engels, com A sagrada família, atacam sobretudo Bruno Bauer e, depois, com A ideologia alemã, estendem a polêmica a Stirner e Feuerbach.

· Conservadorismo camuflado: Combatem contra as "frases" e não contra o mundo real do qual tais "frases" são o reflexo. Com efeito, "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência";

· Pensadores ideológicos como Hegel;

· Radicalismo fraco: Mantinham a teoria separada da práxis (Max as une). "Ser radical significa colher as coisas pela raiz. Mas, para o homem, a raiz é o próprio homem". E a "libertação" do homem não avança reduzindo "a filosofia, a teologia, a substância e toda a imundície à 'autoconsciência'", ou libertando o homem do domínio dessas frases. "A libertação é ato histórico e não ato ideal, concretizando-se por condições históricas, pelo estado da indústria, do comércio, da agricultura [...]". Os jovens hegelianos mantém a teoria separada da práxis; Marx as une.

§ Economistas Clássicos: "Adam Smith e David Ricardo [...] lançaram as bases da teoria segundo a qual o valor deriva do trabalho. Marx continuou a obra deles, deu rigorosa base científica e desenvolveu de modo coerente essa teoria. Ele demonstrou que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário ou do tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção". E prossegue: "Mas onde os economistas burgueses viam relações entre objetos (troca de uma mercadoria por outra), Marx descobriu relações entre homens". (Lênin)

· Transformação de fato em lei – em lei eterna (ideologia). Absolutiza e justifica um sistema de relações existentes em determinado estágio da história humana;

· À máxima produção de riqueza corresponde o empobrecimento máximo do operário. "A economia política parte do fato da propriedade privada. Não a explica. Expressa o processo material da propriedade privada, o processo que se dá na realidade, em fórmulas gerais e abstratas, que depois faz valer como leis. Ela não compreende essas leis, isto é, não mostra como elas derivam da essência da propriedade privada". Para a economia política "vale [...] como razão última o interesse do capitalista: isto é, ela supõe aquilo que deve explicar.

· O capital é "a propriedade privada dos produtos do trabalho alheio".

· A propriedade privada é o “resultado e a consequência necessária do trabalho expropriado [...]”. A propriedade privada é fato que deriva da alienação do trabalho" humano. A propriedade privada não é dado absoluto que se deva pressupor em toda argumentação. Ela é muito mais "o produto, o resultado e a consequência necessária do trabalho expropriado [...]”. A propriedade privada é fato que deriva da alienação do trabalho" humano. Como na religião, afirma Marx, "quanto mais o homem põe em Deus, menos conserva em si mesmo. O operário põe sua vida no objeto: e ela deixa de pertencer a ele, passando a pertencer ao objeto". E esse objeto, o seu produto, "existe fora dele, independente, estranho a ele, como que uma potência econômica diante dele; e a vida, por ele dada ao objeto, agora o confronta, estranha e inimiga ".

§ Socialismo utópico: No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels distinguem seu socialismo cientifico dos outros tipos de socialismo, isto é, do socialismo revolucionário, do socialismo burguês e, particularmente, do socialismo e comunismo crítico-utópico.

· Inatividade histórica autônoma do proletariado. Desse modo, resvalam para o utopismo: criticam a sociedade capitalista, condenam-na e maldizem- na, mas não sabem encontrar caminho de saída. De fato, acabam por se identificar com a conservação.

· Incompreensão do movimento da história (materialista dialético - a dinâmica do desenvolvimento histórico se realiza por meio da luta de classes);

· Supressão e não divisão da propriedade privada (através da revolução vitoriosa da classe operária);

§ Religião: Feuerbach sustentara que a teologia e antropologia. Sobre esse ponto, sobre esse humanismo materialista, Marx está de acordo com Feuerbach.

· É o homem que cria a religião: Alienação do homem, projetando-se em um Deus imaginário - os homens alienam seu ser projetando-o em um Deus imaginário somente quando a existência real na sociedade de classes impede o desenvolvimento e a realização de sua humanidade. Disso deriva que, para superar a alienação religiosa, não basta denunciá-la, mas é preciso mudar as condições de vida que permitem à "quimera celeste" surgir e prosperar.

· Ópio do povo: a religião seria consequência de um mundo irracional e injusto, suspiro da criatura oprimida. É o homem que cria a religião. Mas, diz Marx, "o homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, que é consciência invertida do mundo, porque também são um mundo invertido. A religião é a teoria invertida deste mundo [...I". Assim, torna-se evidente que "a luta contra a religião é [...] a luta contra aquele mundo do qual a religião é o aroma espiritual". Existe o mundo fantástico dos deuses porque existe o mundo irracional e injusto dos homens. "A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, o espírito de situações em que o espírito está ausente. Ela é o ópio do povo".

o Alienação do Trabalho: Na “terra firme e redonda”, Marx encontra homens alienados, expropriados de seu valor de homens por obra da expropriação ou alienação de seu trabalho. O trabalho é externo ao operário, ou seja, não pertence a seu ser e, portanto, em seu trabalho ele não se afirma, mas se nega, sente-se n ão satisfeito mas infeliz, não desenvolve livre energia física e espiritual, mas desgasta seu corpo e destrói seu espírito".

§ Trabalho humanizado é social antropógeno: O homem não é alienado; ele vive humanamente, quando pode humanizar a natureza, junto com os outros, conforme uma ideia sua própria. Para ele, tudo isso significa que o homem pode viver humanamente, isto é, fazer-se enquanto homem, precisamente humanizando a natureza segundo suas necessidades e suas ideias, juntamente com os outros homens. O trabalho social é antropógeno. E distingue o homem dos outros animais: com efeito, o homem pode transformar a natureza, objetivar-se nela e humanizá-la, pode fazer dela seu corpo inorgânico.

§ O trabalho deixa de ser humano quando não é mais feito juntamente com outros homens.

§ Na alienação do trabalho, o operário é mercadoria na mão do capital.

§ Todas as outras formas de alienação derivam da alienação do trabalho;

§ A superação da alienação ocorrerá na luta de classes, que eliminará a propriedade privada e o trabalho alienado.

o Materialismo histórico: É a teoria segundo a qual a estrutura econômica (infra-estrutura) determina a superestrutura das ideias.

§ Estrutura econômica (infra-estrutura): É todo aparato de condições que permite haja a produção de bens e serviços.

§ Superestrutura ideológica: A superestrutura compreende a estrutura jurídica (o Direito e o Estado) e a ideologia (moral, política, religião, artes etc.).

§ "Não é a consciência dos homens que determina o ser deles, mas, ao contrário, é o ser social deles que determina a consciência deles". (km)

§ “As ideias dominantes de uma época foram sempre as ideias da classe dominante”. (km)

o Materialismo dialético: A dialética é a lei de desenvolvimento da realidade histórica e exprime a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a comunista (com fim da exploração e da alienação). A alienação não é para Marx figura especulativa, e sim a condição histórica em que o homem se encontra em relação à propriedade privada dos meios de produção, da mesma forma também a dialética - entendida hegelianamente como síntese dos contrários - é assumida por Marx, só que ele a inverte.

§ Através da dialética permite-se compreender o movimento real da história. "Nós conhecemos apenas uma única ciência: a ciência da história”. (km)

§ O confronto entre o estado de coisas existente e sua negação é inevitável - e esse confronto se resolverá com a superação do estado existente de coisas.

o A luta de classes: Opressores e oprimidos - eis, portanto, o que Marx vê no desenrolar da história humana em sua totalidade.

§ Sociedade atual dividida em duas grandes classes: burguesia e proletariado.

· Burguesia: Classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e empregadores de assalariados, fruta da negação e superação do sistema feudal.

· Proletariado: Classe dos assalariados modernos que, não tendo meios de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver. Contradição interna da burguesia, que por negá-la vai superá-la;

o O Capital:

§ Mercadoria: Tem duplo valor, valor de uso e valor de troca.

· Valor de uso: baseia-se na qualidade da mercadoria.

· Valor de troca: algo de idêntico existente em mercadorias diferentes (medidas determinadas de tempo de trabalho).

· O valor das mercadorias é determinado pelo trabalho.

§ Mais-valia: Produto suplementar não pago pelo capitalista ao operário (força de trabalho executada pelo trabalhador que vai além de sua necessidade salarial e que é apropriada pelo capitalista). O produto do trabalho é propriedade não do trabalhador, mas do capitalista. Ora, se o proletário trabalha doze horas e em seis horas produz o tanto para cobrir o quanto o capitalista despende para o salário, o produto das outras seis horas de trabalho e valor do qual o capitalista se apropria. Este valor que passa para as mãos do capitalista e a mais-valia.

§ Acumulação capitalista: O capitalista acumula mais valores oriundos do “mais-valia” e reinveste para não sucumbir a concorrência, concentrando a riqueza sempre em um número menor de capitalistas e aumentando o “exército de trabalho de reserva”, ao eliminar operários por novas máquinas. “O monopólio do capital torna-se vinculo do modo de produção. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho alcançam um ponto em que se tornam incompatíveis com seu envoltório capitalista. E ele se rompe. Soa então a última hora da propriedade privada capitalista. os expropriadores são expropriados".

§ O advento do comunismo: Passagem necessária de uma sociedade classista para uma sociedade sem classes.

· O proletariado é a antítese da burguesia. Ao longo da via-crúcis da dialética, o proletariado leva em seus ombros a cruz da humanidade inteira. A aurora da revolução é um dia inevitável. E esse dia, que marcara o triunfo do proletariado, será o dia da ressurreição de toda a humanidade.

· A produção capitalista gera sua própria negação. E é assim que se passa da sociedade capitalista para o comunismo.

· O comunismo é "o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano".

· Marx não explica como será a nova sociedade. Para dizer a verdade, Marx não adianta muito como será a nova sociedade, que, depois da derrubada da sociedade capitalista, são poderá se realizar por etapas. No inicio, ainda haveria certa desigualdade entre os homens. Mas depois, mais tarde, quando desaparecer a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, e quando o trabalho se houver tornado necessidade e não meio de vida, então, escreve Marx na Critica ao programa de Gotha (1875), a nova sociedade "poderá escrever em sua bandeira: de cada qual segundo sua capacidade, a cada qual segundo suas necessidades".

§ Ditadura do proletariado:

· Etapa necessária para o comunismo. As propriedades serão abolidas, concentrará todos os instrumentos de produção na mão do Estado (que será o proletariado organizado como classe dominante), através dos seguintes procedimentos:

o "Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda fundiária para as despesas do Estado;

o Impostos fortemente progressivos;

o Abolição do direito de sucessão;

o Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes;

o Concentração do crédito nas mãos do Estado, mediante um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo;

o Concentração de todos os meios de transporte nas mãos do Estado;

o Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção, desbravamento e melhoria das terras segundo um plano coletivo;

o Obrigação de trabalho igual para todos, constituição de exércitos industriais, especialmente para a agricultura;

o Unificação do exercício da agricultura e da indústria, medidas adequadas para eliminar gradualmente o antagonismo entre cidade e campo;

o Instrução pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas em sua forma atual. Combinação da instrução com a produção material e assim por diante".(KM)

· Problemas abertos:

o Marxismo: Nova religião para muitos que veneram seus textos como sagrados;

o O materialismo histórico (o aspecto econômico dos eventos histórico-sociais é sempre determinante) é uma teoria dogmática não aceitável.

o Nem sempre o fator econômico é determinante sobre os fatos histórico-sociais; Não é verdade, portanto, que a mudança da estrutura econômica envolve necessariamente também uma mudança no mudo das ideias: uma religião como a cristã atravessou as mais diversas estruturas econômicas; e o mesmo vale para arte.

o Não é raro o caso de que uma ideia científica, um ideal ético ou uma fé religiosa influam de modo decisivo sobre a própria economia;

o A dialética não é teoria científica e sim filosofia da história (tornando-se simples fé).

o A chamada contradição dialética não tem nada a ver com a contradição lógica (p e não-p). A contradição dialética é contraste de interesses, oposição que pode e deve ser descrita e explicada por teorias não contraditórias.

o Falha a crítica da religião: A consciência religiosa não é reacionária em si mesma; ela não afasta por si mesma os olhos dos homens desta terra; ela não é em si mesma o ópio do povo. Também não podemos aceitar a teoria marxista segundo a qual "a religião é o ópio do povo". Essa teoria é discurso de um fiel de outra religião. Com efeito, o marxismo clássico confundiu um tipo de organização eclesiástica histórica com a religião em si e com todas as religiões. Assim, absolutizou um fato histórico. A consciência religiosa não é reacionária em si mesma; ela não afasta por si mesma os olhos dos homens desta terra; ela não é em si mesma o ópio do povo. Foi o próprio Togliatti, entre tantos outros marxistas, como Roger Garaudy, que afirmou e insistiu que "a aspiração a uma sociedade socialista não só pode abrir caminho em homens que têm uma fé religiosa, mas tal aspiração pode também encontrar estímulo na própria consciência religiosa, posta diante dos dramáticos problemas do mundo contemporâneo" . Re

o Falha a crítica a estética: como se explica o fato de que produções artísticas que deveriam representar a superestrutura de estruturas já inexistentes continuem a despertar nosso interesse?

o Previsões erradas: Errou ao prever o aumento da miséria da classe operária; de uma revolução que levaria ao socialismo e isso aconteceria, antes que em qualquer outro lugar, em países industrialmente avançados; que a evolução técnica dos "meios de produção" levaria ao desenvolvimento social, político e ideológico, e não ao contrário. Uma filosofia da práxis, como é o marxismo, não pode deixar de atentar para os resultados práticos das políticas que se consideram marxistas. As cadeias que deviam ser quebradas tornaram-se sempre mais estreitas e densas. A máquina estatal que devia desaparecer agigantou-se sempre mais, e a liberdade do individuo frequentemente foi esmagada. A abolição das classes e do Estado foi adiada para futuro impreciso e indeterminável, mostrando claramente o caráter utópico das ideias de Marx sobre o futuro da sociedade.

o O valor de mercado não é determinado pelo trabalho e sim pela relação oferta/demanda no mercado.



Principais contestadores da filosofia da Hegel:

· Herbart (1776-1841):

o Axioma realista: a realidade existe independentemente do eu. Desta realidade externa ao eu e que existe independentemente do pensamento, falam tanto a ciência como a filosofia.

o Tarefa da ciência: Verificação dos dados de fato;

o Tarefa da filosofia: "Elaboração dos conceitos", isto é, na análise dos conceitos fundamentais que estruturam nossa experiência da realidade. "Existem efetivamente fora de nos uma quantidade de seres cuja natureza própria e simples não conhecemos, mas sobre cujas condições internas e externas nos é possível adquirir uma soma de conhecimentos que podem aumentar ao infinito".

· Arthur Schopenhauer (1788-1860): Filósofo alemão do século XIX. Sua obra principal é "O mundo como vontade e representação" (1819), embora o seu livro "Parerga e Paralipomena" (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo (e a essência da mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de todos os povos em todos os tempos) como uma confirmação dessa visão realista-pessimista. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Eduard von Hartmann e Friedrich Nietzsche. Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tinha a ver com a felicidade. Principal (ou mais apaixonado) crítico de Hegel, chegando a chamar sua filosofia de "palhaçada filosófica".

o "O mundo é uma representação minha" - A existência e a perceptibilidade são termos conversíveis entre si. “Nenhuma verdade é mais certa, mais absoluta e mais flagrante do que essa verdade, válida para todo ser vivo e pensante. "Ainda que só o homem possa alcançá-la por consciência abstrata e reflexa. Quando o homem adquire essa consciência, o espírito filosófico entrou nele. Então, sabe com clara certeza que não conhece o sol nem a terra, mas somente que tem um olho que vê o sol e uma mão que sente o contato de terra; sabe que o mundo circunstante só existe como representação, isto é, sempre e somente em relação com outro ser, com o ser que o percebe, com ele mesmo" (Sh) - é uma "verdade" já bastante conhecida da filosofia moderna, de Descartes a Berkeley.

§ Duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis, que são o objeto e o sujeito.

1. Sujeito: "o que tudo conhece, sem ser conhecido por ninguém"(Sh); "O sujeito, portanto, é o sustentáculo do mundo, a condição universal, sempre subentendida, de todo fenômeno e de todo objeto: com efeito, tudo o que existe só existe em função do sujeito" (Sh); Fora do espaço e do tempo (formas a priori); Inteiro e individual em cada ser (capaz de representação);

2. Objeto: Aquilo que é conhecido.

o É condicionado no espaço e do tempo (por meio das quais se tem a pluralidade), pois toda coisa existe no espaço e no tempo; Plural;

** → O sujeito e o objeto, portanto, são inseparáveis, também para o pensamento; cada uma das duas metades "não tem sentido nem existência senão por meio da outra e em função da outra, ou seja, cada uma existe com a outra e com ela se dissipa".

o Superação do materialismo e do idealismo: o materialismo está errado por negar o sujeito, reduzindo-o a matéria, e o idealismo - o de Fichte, por exemplo - está errado também porque nega o objeto, reduzindo-o ao sujeito. O realismo também está errado, pois a realidade externa não é reflexão daquilo que está em nossa mente. O mundo como nos aparece em sua imediaticidade, e que é considerado como a realidade em si, na verdade é um conjunto de representações condicionadas pelas formas a priori da consciência, que, para Schopenhauer, são o tempo, o espaço e a causalidade.

§ Formas a priori: Tempo, espaço e causalidade. Seguindo Kant, toda a nossa sensação e percepção de objetos é espacializada e temporalizada.

1. Causalidade (Cosmo cognoscitivo): Ação do intelecto de ordenação das sensações e percepções.

** → Schopenhauer reduz as doze categorias kantianas unicamente à categoria da causalidade. É por meio da categoria da causalidade que os objetos determinados espacial e temporalmente, que acontecem aqui ou alhures, neste ou naquele momento, são postos um como determinante (ou causa) e outro como determinado (ou efeito), de modo que "toda a existência de todos os objetos, enquanto objetos, representações e nada mais, em tudo e por tudo encabeça aquela sua necessária e intercambiável relação".

2. A ação causal do objeto sobre os outros objetos é toda a realidade do objeto.

3. Quatro formas de necessidade que estruturam rigidamente todo o mundo da representação: necessidade física, necessidade lógica, necessidade matemática, necessidade moral.

o O mundo como fenômeno é ilusão e aparência; O mundo, portanto, é uma representação minha ordenada pelas categorias do espaço, do tempo e da causalidade. O intelecto ordena e sistematiza, através da categoria da causalidade, os dados das intuições espaciotemporais, captando assim os nexos entre os objetos e as leis do seu comportamento.

§ O sonho tem somente menos continuidade e coerência do que a vigília. Como representação, portanto, o mundo é fenômeno e, por isso, não é possível uma distinção real e clara entre o sonho e a vigília. "a vida e os sonhos são páginas do mesmo livro"(sh).

§ O mundo como representação não é a coisa em si, é fenômeno, "é um objeto para o sujeito". Mas Schopenhauer não fala, como Kant, do fenômeno como de representação que não diz respeito e não pode captar o númeno, isto é, a coisa em si. Para Schopenhauer, o fenômeno, aquilo de que fala a representação é, ilusão e aparência, é aquilo que, na filosofia hindu, chama-se o "véu de Maya", que cobre a face das coisas. Para Kant, em suma, o fenômeno é a única realidade cognoscível, mas, para Schopenhauer, o fenômeno é a ilusão que envolve a realidade das coisas em sua essência primigênia e autêntica.

§ O fenômeno é a ilusão que envolve a realidade das coisas em sua essência primigênia (não sendo filho de ninguém) e autêntica.

o Homem: Representação e fenômeno, sujeito que conhece, "corpo". Corpo conhecido por dois modos:

§ Objeto entre objetos (representação), submetido às suas leis;

§ Vontade tornada visível (corpo volitivo). Todo ato volitivo e a ação do corpo são uma só e mesma coisa, que nos é dada de dois modos essencialmente diversos: por um lado, imediatamente; por outro lado, como intuição pelo intelecto. Todo ato real de sua vontade, infalivelmente, é sempre movimento de seu corpo;

o Vontade: “Essência do nosso ser”. A imersão no profundo de nós mesmos faz com que descubramos que somos vontade. É única, cega, livre, sem objetivo e irracional. É a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo; É aquela que aparece na força natural cega e aquela que se manifesta na conduta racional do homem. A enorme diferença que separa os dois casos não diz respeito senão ao grau da manifestação; a essência do que se manifesta permanece absolutamente intacta.

§ Reflexão que torna possível ultrapassar o fenômeno e chegar a coisa em si.

§ A universalidade dos fenômenos tem uma só e idêntica essência.

§ A "coisa em si é somente a vontade, que, a esse titulo, não é de modo nenhum representação; ao contrário, dela difere toto genere" (sh).

** → Em outras palavras, a consciência e o sentimento de nosso corpo como vontade levam-nos a reconhecer que toda a universalidade dos fenômenos, embora tão diversos em suas manifestações, tem uma só e idêntica essência: aquela que conhecemos mais diretamente, mais intimamente e melhor do que qualquer outra, aquela que, em fulgida manifestação, toma o nome de vontade. E, afirma Schopenhauer, quem compreender isso “verá vontade [...] na força que faz crescer e vegetar a planta; na força que dá forma ao cristal; na força que dirige a agulha magnética para o norte; na comoção que se experimenta no contato entre dois metais heterogêneos; na força que se manifesta nas afinidades eletivas da matéria, em forma de atração e repulsão, de combinação e decomposição; e até na gravidade, que age com total potência em toda matéria e atrai a pedra para a terra assim como a terra para o céu".

§ A vida oscila entre a dor e o tédio: A essência do mundo é vontade insaciável. A vontade é conflito e dilaceração e, portanto, dor. E "a medida que o conhecimento torna-se mais distinto, e que a consciência se eleva, cresce também o tormento, que alcança no homem o grau mais alto, tanto mais elevado quanto mais inteligente é o homem; o homem de gênio é o que sofre mais".

1. A vontade é tensão contínua. "Como todo tender nasce de uma privação, do descontentamento com o próprio estado, é, portanto, enquanto não for satisfeito, um sofrer; mas nenhuma satisfação é durável; aliás, nada mais é do que o ponto de partida de novo tender. O tender se vê sempre impedido, está sempre em luta, e, portanto, é sempre um sofrer. Não há nenhum fim último para o tender; portanto, nenhuma medida e nenhum fim para o sofrer" (sh).

2. A vida é necessidade e dor.

** → O homem é um animal selvagem e feroz. Conhecemos o homem somente naquele estado de mansidão e domesticidade chamado civilização, mas basta um pouco de anarquia para que nele se manifeste a verdadeira natureza humana: "O homem é o único animal que faz os outros sofrerem pelo único objetivo de fazer sofrer".

3. A vida é dor e a história é acaso cego. O progresso e uma ilusão. A história não é, como pretende Hegel, racionalidade e progresso; todo finalismo e qualquer otimismo são injustificáveis. Substancialmente, o que é positivo, ou seja, real, é a dor; ao passo que o que é negativo, ou seja, ilusório, é a felicidade. E a dor e a tragédia não são somente a essência da vida dos indivíduos, mas também a essência da história de toda a humanidade.

o Experiência estética (arte e ascese): Anulação temporária da vontade e, portanto, da dor. Só podemos nos libertar da dor e do tédio e nos subtrair à cadeia infinita das necessidades mediante a arte e a ascese. Com efeito, na experiência estética, o individuo separa-se das cadeias da vontade, afasta-se de seus desejos, anula suas necessidades, deixando de olhar os objetos em função de eles Ihe poderem ser úteis ou nocivos.

§ Rompimento com a servidão à vontade. Na experiência estética não estamos mais conscientes de nós mesmos, mas somente dos objetos intuídos. Deixando de ser o instrumento que procura os meios para satisfazê-la; torna-se puro olho que contempla.

§ A arte provê momentos raros e breves de libertação. A arte objetiva a vontade e quem a contempla está, de certo modo, fora dela. Arte: da arquitetura (que expressa a ideia das forças naturais) a escultura, da pintura a poesia, chega a tragédia, a mais elevada forma de arte.

§ Apenas na ascese se obtém a liberdade da dor da vida e a redenção total do homem, pois suprime-se no homem a vontade de viver. Aquela ascese que faz Schopenhauer sentir-se próximo dos sábios hindus e dos santos ascetas do cristianismo. A ascese é o horror que experimentamos pela essência de um mundo cheio de dor. E "o primeiro passo na ascese, ou na negação da vontade, é a castidade livre e perfeita". A castidade perfeita liberta da realização fundamental da vontade no seu impulso de geração. A pobreza voluntária e intencional, o conformismo e o sacrifício, também tendem para o mesmo objetivo, isto é, a anulação da vontade.

** → A ascese significa que a libertação do homem em relação ao alternar-se fatal da dor e do tédio, só pode se realizar suprimindo em nos mesmos a raiz do mal, isto é, a vontade de viver. E o primeiro passo para tal supressão se verifica pela realização da justiça, ou seja, mediante o reconhecimento dos outros como iguais a nos mesmos. Entretanto, a justiça golpeia o egoísmo, mas leva-me a considerar os outros como distintos de mim, como diferentes de mim. E, por isso, não acaba com o principium individuationis que fundamenta meu egoísmo e me contrapõe aos outros. É preciso, portanto, ultrapassar a justiça e ter a coragem de eliminar toda distinção entre nossa individualidade e a dos outros, abrindo os olhos para o fato de que todos nos estamos envolvidos na mesma desventura. Esse passo ulterior é a bondade, o amor desinteressado para com seres que carregam a mesma cruz e vivem nosso mesmo destino trágico. Bondade, portanto, que é compaixão, sentir a dor do outro por meio da compreensão de nossa própria dor: "Todo amor (ágape, charitas) é compaixão". E é precisamente a compaixão que Schopenhauer insere como fundamento da ética. Em todo caso, porém, também a piedade, isto é, o compadecer, ainda é padecer. E o caminho para erradicar de modo decisivo a vontade de viver e, portanto, a dor, é o caminho da ascese.




· Kierkegaard (1813-1855): Seu pai, comerciante, desposara em segundas núpcias sua própria doméstica. Último dos sete filhos, rejeitou a filosofia hegeliana do seu tempo e aquilo que ele viu como o formalismo vácuo da igreja luterana dinamarquesa. Por causa disto, a obra de Kierkegaard é, algumas vezes, caracterizada como existencialismo cristão, em oposição ao existencialismo de Jean-Paul Sartre ou ao proto-existencialismo de Friedrich Nietzsche, ambos derivados de uma forte base ateísta. Rompeu um noivado com Regine Olsen (1822–1904), pois, na opinão de Kierkegaard, um penitente, alguém que abraçou o ideal cristão da vida, com toda aquela tremenda seriedade que o cristianismo comporta, não pode viver a tranquila existência de homem casado. Não pode aceitar o compromisso mundano e a gratificante inserção na ordem constituída. Eis o seu pensamento de fundo: os homens querem "viver tranquilos e atravessar felizmente o mundo". Esta é a razão pela qual "toda a cristandade é um disfarce, mas o cristianismo de fato não existe". E Kierkegaard se escandaliza diante da realidade, para ele terrível, de que, entre as heresias e os cismas, jamais se encontra a heresia mais sutil e mais cheia de perigos: a heresia que consiste em "brincar de cristianismo".

** → Pensamento essencialmente religioso: é a defesa da existência do indivíduo, existência que só se torna autêntica diante da transcendência de Deus. O indivíduo e Deus, e a relação do indivíduo com Deus, eis os temas de fundo da filosofia de Kierkegaard, que, desse modo, se configura como verdadeira autobiografia teológica. Como observa Kierkegaard em seu Diário, "o cristianismo não existe mais, mas, para que se possa falar em reavê-lo, era preciso despedaçar o coração de um poeta - e esse poeta sou eu". E o poeta cristão, que "não crê em si mesmo, mas somente em Deus", afirma em "O Momento" que morria tranquilo: a luta acabou e ele se declara infinitamente grato à Providência, que lhe concedeu sofrer para propagar a ideia do cristianismo como "verdade sofredora". A verdade cristã, por meio da escola do sofrimento, o tornara livre: "Humilhado através de tremenda escola, também adquiri a franqueza".

o Indivíduo: Baluarte da transcendência, original, irredutível, irrepetível e insubstituível.

§ A existência corresponde à realidade singular, ao indivíduo: "um homem singular não tem certamente uma existência conceitual". A filosofia se interessa pelos conceitos, ela não se preocupa com o existente concreto que somos eu, ele, tu, em nossa irrepetível singularidade;

§ No mundo humano o individuo é superior a espécie (por causa do cristianismo). Diferentemente do mundo animal, em que a espécie é superior ao indivíduo.

§ A lei da existência (instituída por Cristo), relaciona o indivíduo com Deus, sendo o indivíduo a âncora que freia a confusão panteísta e imanentista (que tentavam reduzir, isto é, reabsorver o individual no universal).

** → Critica os principais sistemas filosóficos que, precisamente, se interessam pelos conceitos e não pela existência. "Isso ocorre com a maioria dos filósofos em relação a seus sistemas, como se alguém construísse um enorme castelo e depois, por sua própria conta, fosse morar em um celeiro. Eles não vivem pessoalmente em seus enormes edifícios sistemáticos.Essa é e permanece [...] uma acusação decisiva".

§ "O 'indivíduo' é a categoria através da qual devem passar, do ponto de vista religioso, o tempo, a historia, a humanidade" (k).

o Crítica a Hegel: Figura cômica que teve a pretensão de “explicar tudo” e demonstrar a “necessidade” de todo acontecimento (“fundamento ridículo”).

§ Não consegue “engaiolar” a existência;

** → Com efeito, ele chega a dizer que o hegelianismo, "esse brilhante espírito de podridão", é "a mais repugnante de todas as formas de libertinagem". Kierkegaard fala da "pompa murcha do hegelianismo" e de sua "abominável pompa corruptora". Hegel pretende ver as coisas com os olhos de Deus, de saber tudo, mas cai no ridículo, já que seu sistema se esquece da existência, isto é, do indivíduo. E essa é a razão pela qual a filosofia sistemática não se apóia tanto em um pressuposto equivocado, mas muito mais em um "fundamento ridículo": presume falar do absoluto e não compreende a existência humana.

§ É o indivíduo que constitui a única alternativa válida ao hegelianismo, pois é a contestação e a rejeição do sistema.

O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard contestou a supremacia da razão como único instrumento capaz de estabelecer a verdade, tal como Hegel havia proposto. Como pensador cristão, defendeu o conhecimento que se origina da fé.

Kierkegaard afirmava que a existência humana possui três dimensões:

- a dimensão estética: na qual se procura o prazer;

- a dimensão ética: na qual se vivencia o problema da liberdade e da contradição entre o prazer e o dever;

- a dimensão religiosa: marcada pela fé.

De acordo com o filósofo, cabe ao ser humano escolher em qual dimensão quer viver, já que se trata de dimensões excludentes entre si. Essas dimensões podem ser entendidas, também, como etapas pelas quais o ser humano passa durante sua existência: primeiro viria a estética, depois a ética e, por último, a religiosa, que seria a mais elevada.

Kierkegaard afirma que essas dimensões são atingidas por um salto , pois não há razões racionais para tomar essa medida. Isso acontece porque o mais importante é a verdade de sua própria situação e essa é a verdade subjetiva que somente você é capaz de conhecer. Este filósofo foi extremamente influente por enfatizar a importância do sentido pessoal na vida do indivíduo.



o Fé: Encontro do indivíduo com a singularidade de Deus. A fé ocupa o centro da existência. O "indivíduo" e a "fé" são correlatados.

§ A vida da fé que constitui a forma verdadeiramente autêntica da existência finita;

§ Vai além do próprio ideal ético da vida.

§ A fé é paradoxo e angústia diante de Deus como possibilidade infinita.

** → O símbolo da fé é Abraão, que, em nome da fé em Deus, levanta o punhal sobre o seu próprio filho. Mas como faz Abraão para estar certo de que era realmente Deus que lhe ordenava matar o filho Isaac? Se aceitarmos a fé, como Abraão, então a autêntica vida religiosa aparece em todo o seu paradoxo, já que a fé em Deus, que ordena matar o próprio filho, e o princípio moral, que impede amar o próprio filho, entram em conflito e levam o crente a ser posto diante de uma escolha trágica. A fé é paradoxo e angústia diante de Deus como possibilidade infinita.

§ Fora da fé só existe o desespero.

o Cristianismo: É a verdade por parte de Deus e não por parte do homem. Irrupção do eterno no tempo (fato absoluto, que não precisa ser demonstrado). Os fatos não existem para serem demonstrados, e sim para serem aceitos ou rejeitados, bem como pelo outro motivo de que, quanto ao absoluto, "não podemos dar razões: no máximo, podemos dar razões de que não existem razões".

§ A verdade cristã não é demonstrável. A filosofia e o cristianismo nunca se deixam conciliar.

§ O crente não pode filosofar como se a Revelação não houvesse ocorrido.

§ Não se trata de justificar, mas de crer. E, para crer, não é necessário ser contemporâneo de Jesus. A verdade é que ver um homem não é suficiente para fazer-me crer que aquele homem é Deus. É a fé que me faz ver em um fato histórico algo de eterno: e, no que se refere ao eterno, "qualquer época está igualmente próxima". A fé é sempre salto, tanto para quem é contemporâneo de Cristo como para quem não é.

§ "A verdade é subjetividade": "ninguém pode se pôr em meu lugar diante de Deus. Deus teve tal misericórdia dos homens a ponto de conceder a graça de querer se pôr em contato com cada indivíduo".

o Princípio do cristianismo: Graça concedida por Deus, que dá tudo, (principalmente a possibilidade do homem crer), mesmo que o homem não possa nada.

§ Enfrentamento corajoso de colocar-se como indivíduo em relação com Deus ("primeiro em relação com Deus e não primeiro com os outros"), relação essa constituída por uma infinita diferença abissal entre Deus e o homem.

§ Princípio que torna autêntica a existência, porque quando alguém se põe diante de Deus para ele não há mais nenhum espaço para as ficções, as máscaras, as ilusões.

§ Reduzir o cristianismo a cultura seria uma canalhice de velhacos que julgam mais cômodo adular os contemporâneos.

o Angústia: Puro sentimento do possível, é o sentido daquilo que pode acontecer e que pode ser muito mais terrível do que a realidade.

§ É a possibilidade da liberdade - forma "o discípulo da possibilidade" e prepara o "cavaleiro da fé". Somente a angústia, através da fé, tem a capacidade de formar absolutamente, enquanto destrói todas as finitudes.

§ A existência é possibilidade e, portanto, angústia. A existência, ao invés, é o modo de ser do indivíduo. E a existência é o reino da liberdade: o homem é o que escolhe ser, é aquilo que se torna.

§ O modo de ser da existência não é a realidade ou a necessidade, e sim a possibilidade. Na possibilidade, tudo é igualmente possível.

o Desespero: Sentimento próprio do homem em sua relação consigo mesmo (doença mortal). Se a angústia é típica do homem em seu relacionamento com o mundo, o desespero é próprio do homem em sua relação consigo mesmo.

§ "Um eterno morrer sem no entanto morrer".

§ "Autodestruição impotente", viver a morte do eu.

§ Causa principal: não querer aceitar-se das mãos de Deus. Negar Deus é aniquilar a si mesmo, e separar-se de Deus equivale a arrancar-se das próprias raízes e afastar-se do "único poço no qual se pode tirar água".

o Existência autêntica: Disponível ao amor de Deus, daquele que não crê mais em si mesmo, mas apenas em Deus, que testemunha "a verdade que é da parte de Deus, e que, levado ao mais alto grau de tédio da vida", está pronto a sustentar de modo cristão a prova da vida, maduro para a eternidade.

o Ciência (deste mundo): Não tem muita importância, já que para o cristão, a existência autêntica estabelece-se no plano da fé: como forma de vida, a ciência é existência inautêntica. Dizer que as ciências levam a Deus é uma hipocrisia (combate à apologética científica).

** → De fato, até quando se admite que as ciências naturais têm razão contra varias expressões das Escrituras (sobre a idade do universo, sobre a astronomia, etc.), aquilo que "permanece completamente imutado é a ética cristã".

o Teologia: Não é ciência, mas "sabedoria do espírito". E insensato propor uma "teologia científica", da mesma forma como é insensato fazer uma "teologia sistemática (isto é, hegeliana)". Faz-se isso apenas porque se tem medo e não se tem fé. A pesquisa cientifica não tem fim, não se conclui nunca.

§ O pensador experimenta as penas do inferno enquanto não conseguir experimentar a certeza do espírito (A quem iremos?).




· Recontextualização histórica:

· Ideólogos:

· Espiritualistas:

o François Pierre Maine de Biran (1766-1824): A consciência é "o sentimento idêntico que temos continuamente e sempre de nossa existência particular e de nosso eu". Um eu que permanece idêntico na variação das sensações e dos fenômenos externos e internos; um eu ou consciência que se revela como causa ou força que move o corpo e que se chama vontade. A vida da consciência é atividade e liberdade. E na consciência, na alma, está presente Deus: "a consciência pode ser considerada como uma espécie [...I de revelação de Deus".

o Victor Cousin (1792-1867): Professor na Sorbonne O espiritualismo, com efeito, "é o apoio do direito, rejeita igualmente a demagogia e a tirania; ensina a todos os homens a respeitar-se e a amar-se e leva pouco a pouco as sociedades humanas a verdadeira república, este sonho de todas as almas generosas, que na Europa, em nossos dias, apenas a monarquia constitucional pode realizar".

· Tradicionalistas:



· Positivismo: Movimento compósito (que tem vários elementos heterogêneos) de pensamento, que dominou grande parte da cultura européia de cerca de 1840 a 1914.

o Contextualização histórica: Época de paz substancial na Europa e, ao mesmo tempo, época da expansão colonial européia na África e na Ásia. A revolução industrial mudou radicalmente o modo de vida. E os entusiasmos se cristalizaram em torno da ideia de progresso humano e social irrefreável, já que, de agora em diante, possuíam-se os instrumentos para a solução de todos os problemas. Esses instrumentos eram, sobretudo, a ciência e suas aplicações na indústria, bem como no livre intercâmbio e na educação. A ciência registrou muitos passos adiante em seus setores mais importantes: na matemática, entre outros, temos as contribuições de Cauchy, Weierstrass, Dedekind e Cantor; na geometria, as de Riemann, Bolyai, Lobacewskij e Klein; a física apresenta os resultados das pesquisas de Faraday sobre a eletricidade, e de Maxwell e Hertz sobre o eletromagnetismo; ainda na física, temos os trabalhos fundamentais de Mayer, Helmholtz, Joule, Clausius e Thomson sobre a termodinâmica; o saber químico é desenvolvido por Berzelius, Mendelejev e Von Liebig, entre outros; Koch, Pasteur e seus discípulos desenvolvem a microbiologia, obtendo êxitos estrondosos; Bernard constrói a fisiologia e a medicina experimental. Além disso, é a época da teoria evolucionista de Darwin. E os projetos tecnológicos encontram seu símbolo na Torre Eiffel de Paris e na abertura do canal de Suez. Substancial estabilidade política, o processo de industrialização e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia constituem os pilares do meio sociocultural que o positivismo interpreta, exalta e favorece.

** → É bem verdade que os grandes males da sociedade industrial não tardarão a se fazer sentir (desequilíbrios sociais, lutas pela conquista de mercados, condição de miséria do proletariado, exploração do trabalho do menor etc.). Esses males serão diagnosticados pelo marxismo em direção diferente da interpretação do positivismo que, embora não ignorando de modo nenhum tais males, pensava que eles logo desapareceriam, como fenômenos transitórios elimináveis pelo crescimento do saber, da educação popular e da riqueza.

o Pontos centrais: Os representantes mais significativos do positivismo são Auguste Comte (1798-1857), na França; John Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903), na Inglaterra; Jakob Moleschott (1822-1893) e Ernst Haeckel(1834-1919), na Alemanha; Roberto Ardigò (1 828-1920), na Itália.

§ Reivindica o primado da ciência: somente as ciências provêem conhecimento (único método de conhecimento é o das ciências naturais).

§ O método das ciências naturais (identificação das leis causais e seu domínio sobre os fatos) não vale somente para o estudo da natureza, mas também para o estudo da sociedade.

§ Sociologia é fruto qualificado do programa filosófico positivista.

§ Ciência como único meio de resolver todos os problemas humanos e sociais.

§ Otimismo geral e certeza no progresso irrefreável, rumo a condições de bem-estar generalizado em uma sociedade pacífica e penetrada pela solidariedade humana.

§ Positivismo como pronunciação da "divindade" do fato, existindo uma confiança acrítica na ciência, que seria a garantia absoluta do progresso e único fundamento sólido (ciência infinitizada).

§ Combate às concepções idealistas e espiritualistas da realidade (metafísicas dogmáticas).




· Auguste Comte (1798-1857): Considerado fundador da Sociologia e do Positivismo.

o Leio dos três estágios: Fases necessárias da evolução humana. A forma de compreender a realidade conjuga-se com a estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o desenvolvimento do ser humano e de cada sociedade.

§ Teológico (ou fictício) - Infância: Fenômenos explicados pelo sobrenatural, por entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o absoluto e as causas primeiras e finais ("de onde vim? Para onde vou?"). A fase teológica tem várias subfases: o fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo.

§ Metafísico (ou abstrato) - Juventude: Fenômenos explicados em função de essências. Pesquisa-se diretamente a realidade, mas ainda há a presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstrações personificadas, de caráter ainda absoluto: "a Natureza", "o éter", "o Povo", "o Capital".

§ Positivo (ou científico) - Maturidade: Apogeu dos dois anteriores que prepararam progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstratas, de ordem inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é inacessível) e busca-se o relativo. A par disso, atividade pacífica e industrial torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando entre si.

** → Todo homem é teólogo em sua infância; é metafísico em sua juventude; é físico em sua maturidade. Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstrações, suas observações e sua imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se com os demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma totalizante de compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste em uma forma de filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias. Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo sociológica, filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados - discussão que não é possível resumir no curto espaço deste artigo.

o Doutrina da ciência:

§ Ciência: Tem por objetivo a pesquisa das leis e dos fenômenos. "Só o conhecimento das leis dos fenômenos, cujo resultado constante é o de fazer com que possamos prevê-los, evidentemente, pode nos levar, na vida ativa, a modificá-los em nosso beneficio" (co). A ciência é que deve fornecer ao homem o domínio sobre a natureza (Bacon e Descartes).

§ Sociologia científica (Física Social): Fenômenos sociais são guiados por leis, assim como os fenômenos físicos.

1. Conhecimento é feito de leis provadas, baseados nos fatos.

2. Os caminhos para alcançar o conhecimento sociológico são a observação, o experimento e o método comparativo.

3. Os homens vivem em sociedade porque isso integra sua natureza social. Os homens são sociáveis desde o inicio, não havendo necessidade de nenhum "contrato social" para associá-los, como queria Rousseau.

** → E, diz Comte, é o método histórico que constitui "a única base fundamental sobre a qual pode realmente se basear o sistema da lógica política".

o Religião da Humanidade: O amor a Deus é substituído pelo amor à humanidade (a humanidade é o ser que transcende os indivíduos).

§ Humanidade: Compostos por todos os indivíduos vivos, mortos e ainda não nascidos. Os indivíduos são o produto da humanidade, que deve ser venerada como o eram outrora os deuses pagãos.

§ Os dogmas da nova fé: Filosofia positiva e as leis científicas.

§ Sacerdotes da humanidade seriam os verdadeiros filósofos;

§ A regeneração total da humanidade passa através da religião devotada à humanidade.

· Positivismo utilitarista inglês:

o Thomas Robert Malthus (1766-1834): População cresce em progressão geométrica e os recursos em proporção aritmética.

§ O equilíbrio (em âmbito humano) é restabelecido por obra da miséria e do vício. Malthus pretende substituir a este controle repressivo, exercido sobre a população pela miséria e pelo vício, um controle preventivo por meio da "contenção moral", "com a abstenção do matrimônio por motivos prudenciais e com uma conduta estritamente moral durante o período desta abstinência”.

** → PA, a toda seqüência em que cada número, somado a um número fixo, resulta no próximo número da seqüência. PG, a toda seqüência de números não nulos em que cada um deles, multiplicado por um número fixo, resulta no próximo número da seqüência.

o Adam Smith (1723-1790): Pai da economia moderna.

§ Indivíduos são movidos pelo seu próprio interesse (self-interest);

§ “Mão invisível”: O Estado deve intervir o mínimo na economia. A interação dos indivíduos buscando seu próprio interesse, acontece em uma determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse.

** → "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse".

o David Ricardo (1772-1823): Teórico do livre comércio dentro da nação e entre nação e nação.

§ O valor de um bem e igual ao trabalho utilizado para produzi-lo (mesmo se a equação valor = trabalho não funciona para o trabalhador, o qual nem sempre chega à posse do valor deseu produto).

o Jeremiah Bentham (1748-1832):Fundador do utilitarismo.

§ Princípio fundamental do utilitarismo: a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas.

§ No domínio da moral, os únicos fatos que verdadeiramente contam são o prazer e a dor.

§ Alcançar o prazer e evitar a dor são os únicos motivos de ação.

** → O cidadão, segundo Bentham, deveria obedecer ao Estado na medida em que a obediência contribui mais para a felicidade geral do que a desobediência. A felicidade geral, ou o interesse da comunidade em geral, deve ser entendida como o resultado de um cálculo hedonístico, isto é, a soma do bem comum e das dores dos indivíduos. Assim, Bentham substitui a teoria do direito natural pela teoria da utilidade, afirmando que o principal significado dessa transformação está na passagem de um mundo de ficções para um mundo de fatos. Somente a experiência, afirma Bentham, pode provar se uma ação ou intuição é útil ou não. Conseqüêntemente, o direito de livre discussão e crítica das ações e intuições constitui-se em necessidade da maior importância.





· John Stuart Mill (1806 —1873): Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. Leitor e correspondente de Comte (cujas ideias autoritárias e despóticas refutaria mais tarde). Stuart Mill trabalhou com muita intensidade, dentro da tradição empirista, associacionista e utilitarista, construindo com muita intensidade um conjunto de teorias lógicas e ético-políticas que marcaram a segunda metade do século XIX inglês e que até hoje constituem pontos de referência e etapas obrigatórias, tanto para o estudo da lógica da ciência como para a reflexão no campo ético e político.

o Lógica (Indutiva): Ciência da prova, isto é, do modo correto de inferir proposições de outras proposições. Por isso, ele trata em primeiro lugar dos nomes e das proposições, em que reside toda verdade e todo erro.

§ Silogismos (argumentação válida): Cadeias de proposições, que deveriam levar a conclusões verdadeiras se as premissas forem verdadeiras. Porém é estéril, pois não aumenta nosso conhecimento (como os juízos analíticos – Kant);

§ Apenas a experiência extrai a verdade de uma proposição. Todo conhecimento é de natureza empírica. Até as proposições das ciências dedutivas, como a geometria.

§ Logo, “toda inferência é de particular para particular”. A única justificação do “isso será” é o “isso foi”. Como resolver, então, o problema da indução? Como “generalizar a partir da experiência”?

o Problema da Indução:

§ Quatro métodos da indução: concordância, diferença, variações concomitantes e dos resíduos.

§ Princípio fundamental (ou axioma geral) da indução: A uniformidade da natureza. Garantia para todas as nossas inferências a partir da experiência. E a premissa maior de toda indução; ele foi sugerido a partir das mais obvias generalidades descobertas no inicio (o fogo queima, a água molha etc.) e, uma vez formulado, foi posto como fundamento das generalizações indutivas.

o Lógica das ciências morais:

§ Querer humano é livre, não é fatalidade (constrição misteriosa e impossível de mudar).

§ Entretanto, não há divergência entre liberdade do indivíduo e ciências da natureza humana.

§ Ciências da natureza humana:

1. Psicologia (primeira ciência): "Tem por objeto a uniformidade de sucessão (...) segundo a qual um estado mental sucede a outro".

2. Etologia (ainda por criar): Função de estudar a formação do caráter (ethos), com base nas leis gerais da mente e da influência das circunstâncias sobre o caráter.

3. Ciência social: Estuda "o homem em sociedade, as ações das massas coletivas de homens e dos vários fenômenos que constituem a vida social".

o Utilitarismo:

§ Concordava com o princípio da máxima felicidade de Bentham: " o fim último e a garantia de que todas as outras coisas são desejáveis e uma existência isenta o quanto possível de dores e o mais possível rica de prazeres".

§ Crítica a Bentham: A quantidade não deve ser mais importante que a qualidade do prazer. "É preferível ser um Sócrates doente do que um porco satisfeito".

o Deus: A ordem do mundo comprova uma inteligência ordenadora (base teológica deísta).

§ Não é o Todo Absoluto: Não é autorizada a afirmação de onipotência e onisciência divina, nem que Ele seja criador da matéria.

§ Homem é colaborador de Deus, pois põe ordem no mundo.

** → Para Mill, a fé é esperança que ultrapassa os limites da experiência. Mas, pergunta-se ele, "por que não nos deixarmos guiar pela imaginação a uma esperança, ainda que jamais se possa produzir uma razão provável de sua realização"?

o Defesa de liberdade do indivíduo: Direito do indivíduo a viver como Ihe aprouver. "Cada qual é o guardião único de sua própria saúde, seja corporal, seja mental e seja ainda espiritual".

§ O desenvolvimento social é consequência do desenvolvimento das mais variadas iniciativas individuais.

§ A liberdade de cada um tem como limite a liberdade do outro. Cabe ao indivíduo "não lesar os interesses alheios ou aquele determinado grupo de interesses que, por expressa disposição da lei ou por tácito consenso, devam ser considerados como direitos". Cabe-lhe também "assumir sua parte nas responsabilidades e sacrifícios necessários à defesa da sociedade e de seus membros contra todo prejuízo ou dano".

· · Positivismo evolucionista: Em 1852 - ou seja, sete anos antes que Darwin publicasse a Origem das espécies - Herbert Spencer (1820-1903) propusera urna concepção evolucionista própria em A hipótese do desenvolvimento.

o Herbert Spencer (1820-1903):

§ Fé x Ciência: São conciliáveis, pois ambas reconhecem o absoluto e o incondicionado. São correlatas. Elas são "como que o pólo positivo e o pólo negativo do pensamento: um não pode crescer em intensidade sem aumentar a intensidade do outro".

1. A realidade última é incognoscível e o universo é um mistério (atestado tanto pela religião quanto pela ciência).

2. Tarefa das religiões: Manter viva o sentido do mistério;

3. Tarefa da ciência: Impulsionar sempre mais para frente o conhecimento do relativo, sem jamais presumir capturar o absoluto.

4. Religiões: Ainda que nenhuma seja verdadeira, são todas, porém, pálidas imagens de uma verdade.

5. "quando a ciência estiver convencida de que suas explicações são próximas e relativas e a religião estiver convencida de que o mistério que ela contempla é absoluto, reinará entre ambas uma paz permanente" (spe).

· ** → E se a religião erra ao se apresentar como conhecimento positivo do incognoscível, a ciência erra ao pretender incluir o incognoscível no interior do conhecimento positivo.

§ Filosofia: "o conhecimento do mais alto grau de generalidade", a ciência dos primeiros princípios.

1. Onde se leva ao limite extremo o processo de unificação do conhecimento. "O conhecimento de ínfimo grau é não unficado; a ciência é um conhecimento parcialmente unificado, a filosofia é conhecimento completamente unificado" (spe).

2. Princípios da ciência (que não podem ser ignorados pela filosofia):

o A indestrutibilidade da matéria;

o A continuidade do movimento;

o A persistência da força.

§ Lei da evolução: "A evolução é uma integração de matéria acompanhada por dispersão de movimento, em que a matéria passa de uma homogeneidade indefinida e incoerente para uma heterogeneidade definida e coerente, ao passo que o movimento contido sofre uma transformação paralela".

1. Características essenciais:

o uma passagem de uma forma menos coerente para uma mais coerente (por exemplo, o sistema solar, que saiu de urna nebulosa);

o uma passagem do homogêneo para o heterogêneo (por exemplo, as plantas e os animais se desenvolvem diferenciando órgãos e tecidos diversos);

o uma passagem do indefinido para o definido (como no caso da passagem de urna tribo selvagem a um povo civilizado, onde tarefas e funções estão claramente especificadas).

2. A ciência mostra que:

o Evolucionismo na Biologia: A vida consiste na adaptação de organismos ao ambiente, e a seleção natural favorece a sobrevivência do mais hábil (precursor da seleção natural usada por Darwin);

o Evolucionismo na Psicologia: O que é a priori para o indivíduo é a posteriori para a espécie (determinados comportamentos são hereditários).

o Evolucionismo na Sociologia: A sociedade existe para os indivíduos e não vice-versa. O desenvolvimento da sociedade é determinado pela realização dos indivíduos.

o Evolucionismo na ética: a evolução fornece aos indivíduos a priori morais (a posteriori para a espécie), instrumentos de sempre melhor adaptação do homem às condições de vida.

3. Otimismo do positivismo evolucionista de Spencer: O universo progride e progride para melhor.

· Positivismo na Alemanha:

o Principais características:

§ Materialismo rígido; cujas teses de fundo foram a batalha contra o dualismo de matéria e espírito e a luta contra as metafísicas da transcendia. Os representantes de maior vulto do positivismo materialista alemão são: Karl Vogt, Jacob Moleschott, Ludwig Bikhner e Ernst Haecke. Ação do cérebro seria análoga a de uma máquina a vapor.

§ Crítica ao criacionismo e a imortalidade da alma;

§ Crítica ao espiritualismo; a vida é um processo que, por meio da dissolução, se regenera continuamente. Por isso, provocando escândalo, Moleschott chegou a afirmar que nos cemitérios, onde o terreno e mais fértil, dever-se-ia semear trigo.

· A "origem das espécies" - Charles Darwin (1809-1882): Revolução científica.

o As espécies se originam da seleção, pelo ambiente, das mais aptas entre as variações hereditárias existentes. Portanto, da guerra da natureza, da carestia e da morte nasce a coisa mais elevada que se possa imaginar: a produção dos animais mais elevados.

o Seres são descendentes de poucos outros seres que sobreviveram muito tempo antes. "O homem e todos os outros animais vertebrados foram construídos com base no mesmo modelo geral, ,passam através dos mesmos estágios primitivos de desenvolvimento e conservam certas características em comum. Por conseguinte, devemos admitir francamente sua origem comum. Somente nosso preconceito natural e aquela soberba que fez com que nossos antepassados se declarassem descendentes de semideuses é que nos levam a duvidar dessa conclusão. Mas não está longe o dia em que parecerá estranho que naturalistas, bons conhecedores da estrutura comparada e do desenvolvimento do homem e dos outros mamíferos, tenham acreditado que cada um deles fosse obra de um ato distinto de criação".





· Friedrich Nietzsche (1844-1900): Nascido de família luterana, seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor. Entretanto, Nietzsche rejeita a "fé" (religião/crença religiosa) durante sua adolescência, e os seus estudos de filosofia afastam-no da carreira teológica. Estudou na Universidade de Bonn Filologia clássica e Teologia evangélica. Por diferentes motivos transfere-se depois para Universidade de Leipzig, mas isso se deve, acima de tudo, à transferência do Prof. Friedrich Wilhelm Ritschl (figura paterna para Nietzsche) para essa Universidade. Durante os seus estudos na universidade de Leipzig, a leitura de Schopenhauer (O Mundo como Vontade e Representação, 1820) vai constituir as premissas da sua vocação filosófica. Aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, Nietzsche é nomeado aos 24 anos professor de Filologia na universidade de Basileia. Adota então a nacionalidade suíça. Desenvolve durante dez anos a sua acuidade filosófica no contacto com o pensamento grego antigo - com predileção para os Pré-socráticos, em especial para Heráclito e Empédocles. Durante os seus anos de ensino, torna-se amigo de Jacob Burckhardt e Richard Wagner. Em 1870, compromete-se como voluntário na guerra franco-prussiana. A experiência da violência e o sofrimento chocam-no profundamente. Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar o posto de professor. Sua voz, inaudível, afasta os alunos. Começa então uma vida errante em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento (Veneza, Gênova, Turim, Nice, Sils-Maria…): "Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (… )." Em 1882 ele encontra Paul Rée e Lou Andreas-Salomé, a quem pede em casamento. Ela recusa, após ter-lhe feito esperar sentimentos recíprocos. No mesmo ano, começa a escrever o Assim Falou Zaratustra, quando de uma estada em Nice. Nietzsche não cessa de escrever com um ritmo crescente. Este período termina brutalmente em 3 de Janeiro de 1889 com uma "crise de loucura" que, durando até a sua morte, coloca-o sob a tutela da sua mãe e sua irmã. No início desta loucura, Nietzsche encarna alternativamente as figuras de Dionísio e Cristo, expressa em bizarras cartas, afundando depois em um silêncio quase completo até a sua morte. Uma lenda dizia que contraiu sífilis. Estudos recentes se inclinam antes para um cancro no cérebro, que eventualmente pode ter origem sifilítica. Após sua morte, sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche e Peter Gast, dileto amigo do filósofo, segundo um plano de Nietzsche, datado de 17 de março de 1887, efetuaram uma coletânea de fragmentos póstumos para compor a obra conhecida como Vontade de Poder. Essa obra foi, amiúde, acusada de ser uma deturpação nazista; tal afirmação mostrou-se inverídica, frente as comparações com a edição crítica alemã, como denotaram os tradutores da nova tradução para o português, e especialmente o filósofo Gilvan Fogel, que afirmou que é preciso que se enfatize: os textos são autênticos. Todos são da cunhagem, da lavra de Nietzsche. Não foram, como já se disse e se insinuou, distorcidos ou adulterados pelos organizadores. Durante toda a vida sempre tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando a conclusão de que nascera póstumo, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra Assim Falou Zaratustra e, por conseguinte, tratou de difundi-la, em 1888. Muitos estudiosos da época tentaram localizar os momentos que Nietzsche escrevia sob crises nervosas ou sob efeito de drogas (Nietzsche estudou biologia e tentava descobrir sua própria maneira de minimizar os efeitos da sua doença).

o Conceitos básicos:

§ Vida: é cruel e cega irracionalidade, dor e destruição.

§ Arte: Única possibilidade de enfrentar a dor da vida. Só a arte pode oferecer ao indivíduo a força e a capacidade de enfrentar a dor da vida, dizendo sim à vida.

§ Dionísio: Símbolo de uma humanidade em plena harmonia com a natureza. Imagem da força instintiva e da saúde, é embriaguez criativa e paixão sensual, é o símbolo de uma humanidade em plena harmonia com a natureza. ** Obs: deus grego equivalente ao deus romano Baco, dos ciclos vitais, das festas, do vinho, da insânia, mas, sobretudo, da intoxicação que funde o bebedor com a deidade. Filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus olimpiano filho de uma mortal, o que faz dele uma divindade grega atípica.

§ Apolíneo: Tentativa de expressar o sentido das coisas na medida e na moderação, explicitando-se em figuras equilibradas e límpidas. "O desenvolvimento da arte está ligado a dicotomia do apolíneo e do dionisíaco, do mesmo modo como a geração provém da dualidade dos sentidos, em continuo conflito entre si e em reconciliação meramente periódica".

§ Sócrates e Platão: Verdadeira decadência, "instrumentos da dissolução grega, pseudogregos, os antigregos".

o Saturação da história: Combate a idolatria dos fatos (que sempre são estúpidos e precisam de intérprete), além das ilusões historicistas (que torna o homem incrédulo de si mesmo, hesitante e inseguro).

§ Três atitudes do homem na história:

1. História monumental - a historia de quem procura no passado modelos e mestres em condições de satisfazer suas aspirações.

2. História antiquária - de quem compreende o passado de sua própria cidade (as muralhas, as festas, os decretos municipais etc.) como fundamento da vida presente; a história antiquária procura e conserva os valores constitutivos estáveis nos quais se radica a vida presente.

3. História crítica - que é a história de quem olha para o passado com as intenções do juiz que condena e abate todos os elementos que constituem obstáculos para a realização de seus próprios valores. Esta ultima foi a atitude de Nietzsche diante da história. E essa é a razão pela qual ele combate o excesso ou "saturação da historia": "Os instintos do povo são perturbados por esse excesso e o individuo, não menos que a totalidade, é impedido de amadurecer".

o Camuflagens metafísicas do homem:

§ 1) o idealismo (que cria um "antimundo");

§ 2) o positivismo (cuja pretensão de enjaular solidamente a vasta realidade em suas pobres malhas teóricas é ridícula e absurda);

§ 3) os redentorismos socialistas das massas ou através das massas;

§ 4) e também o evolucionismo (aliás, "mais afirmado do que provado").

o O anúncio da "morte de Deus": Início do ataque ao cristianismo. Cuja vitória sobre o mundo antigo e sobre a concepção grega do homem envenenou a humanidade.

§ Acontecimento que divide a história da humanidade.

§ Anúncio de Zaratustra, que sobre as cinzas de Deus, ergue a ideia de "super-homem", do homem novo, impregnado do ideal dionisíaco.

§ Evento cósmico que liberta o homem das cadeias do sobrenatural que eles próprios haviam criado.

o O Anticristo - Crítica ao cristianismo:

§ Cristianismo:

1. Moral dos escravos, dos fracos e dos vencidos ressentidos contra tudo o que é nobre, belo e aristocrático (superior, nobre).

2. O cristianismo perverte o indivíduo ao obrigá-lo perder seus instintos, escolher e preferir o que lhe é nocivo.

3. Religião da compaixão, que tira força do indivíduo e bloqueia maciçamente a lei do desenvolvimento, que é a lei da seleção.

§ Padres: Prisioneiros e marcados que precisam ser redimidos de seu redentor.

§ Deus cristão: Divindade dos doentes, degenerado por contradizer a vida, divinização do nada e consagração da vontade do nada.

§ Jesus Cristo: Respeitava a figura de cristo - "Homem mais nobre". "O símbolo da cruz é o símbolo mais sublime que jamais existiu".

1. Espírito livre, morreu para mostrar como se deve viver.

§ Evangelho ficou "suspenso na cruz", ou melhor, transformou-se em Igreja, em cristianismo, isto é, em ódio e ressentimento contra tudo o que é nobre e aristocrático.

§ "Paulo foi o maior de todos os apóstolos da vingança".

§ Pôncio Pilatos: Único personagem digno de elogio, pelo seu sarcasmo em relação à "verdade".

§ Lutero: Padre frustrado que interrompeu a transvalorização dos valores cristãos, ao restaurar a Igreja.

** → a Renascença tentou a transvalorização dos valores cristãos, procurou levar à vitória os valores aristocráticos, os nobres instintos terrenos. Feito papa, César Borgia teria sido grande esperança para a humanidade. Mas o que aconteceu? Ocorreu que "um monge alemão, Lutero, veio a Roma. Trazendo dentro do peito todos os instintos de vingança de padre frustrado, esse monge, em Roma, indignou-se contra a Renascença [...] Lutero viu a corrupção do papado, quando se podia tocar com a mão justamente o contrário: na cadeira papal não estava mais a antiga corrupção, o peccatum originale, o cristianismo! Que boa é a vida! Que bom o triunfo da vida! Que bom o grande sim a tudo o que é elevado, belo e temerário! [...] E Lutero restaurou novamente a lgreja [...] Ah, esses alemães, quanto nos custaram!" São dessa natureza, portanto, as razões que levam Nietzsche a condenar o cristianismo: "A Igreja cristã não deixou nada intacto em sua perversão; ela fez de cada valor um desvalor, de cada verdade uma mentira, de toda honestidade uma abjeção da alma"; O além é a negação de toda realidade e a cruz é uma conjuração "contra a saúde, a beleza, a constituição bem-sucedida. a valentia do espírito, a bondade da alma, contra a própria vida" .



Friedrich Nietzsche (1844-1900) - Continuação:

o Genealogia da moral:

§ Grande guerra para a transformação dos valores. É essa revolta contra "o sentimento habitual dos valores" ele a explicita especialmente em dois livros: Além do bem e do mal e Genealogia da moral. Escreve Nietzsche: "Até hoje, não se teve sequer a mínima dúvida ou a menor hesitação em estabelecer o 'bom' como superior, em valor, ao 'mau' [...]. Como? E se a verdade fosse o contrário? Como? E se no bem estivesse inserido também um sistema de retrocesso ou então um perigo, uma sedução, um veneno?"

§ Moral: Máquina construída para dominar os outros;

1. Moral aristocrática: Dos fortes, que nasce da afirmação triunfal de si.

2. Moral dos escravos: Dos fracos e malsucedidos, subvertida e fruto do ressentimento aos fortes. E, como diz o provérbio, os que não podem, dar maus exemplos dão bons conselhos.

o Niilismo: "consequência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia".

§ Quando as ilusões perdem a máscara, então o que resta é nada: o abismo do nada.

§ Não há valores absolutos, aliás, os valores são desvalores.

§ Não há uma ordem, não há um sentido.

§ Há apenas a necessidade da vontade.

§ Doutrina do eterno retorno: Desde a eternidade, o mundo é dominado pela vontade de aceitar a si próprio e de repetir-se.

o Amor fati: Amar o necessário, aceitar este mundo e amá-lo (atitude do super-homem).

§ O mundo que aceita a si próprio e que se repete: é esta a doutrina cosmológica de Nietzsche.

o O super-homem (Übermensch): O homem novo, que abandona as velhas cadeias e cria um novo sentido da terra, reconquistando o espírito de Dioniso.

§ Homem que vai além do homem, renegando as coisas celestes.

§ Homem cujos valores são a saúde, vontade forte, o amor, a embriaguez dionisíaca e um novo orgulho.

§ Homem que anuncia a morte de Deus e a transmutação de todos os valores de que a tradição nos carregou.

§ Principal mensagem de Zaratustra, pregar o super-homem.

** → É o homem, o homem novo, que deve criar um novo sentido da terra. Abandonar as velhas cadeias e cortar os antigos troncos. O homem deve inventar o homem novo, isto é, o super-homem, o homem que vai além do homem e que é o homem que ama a terra e cujos valores são a saúde, a vontade forte, o amor, a embriaguez dionisíaca e um novo orgulho. Diz Zaratustra: "Um novo orgulho ensinou-me o meu Eu, e eu o ensino aos homens: não deveis mais esconder a cabeça na areia das coisas celestes, mas mantê-la livremente: uma cabeça terrena, que cria ela própria o sentido da terra". O super-homem substitui os velhos deveres pela vontade própria. "O homem é uma corda estendida, estendida entre o bruto e o super-homem, uma corda estendida sobre um abismo". Ele deve procurar novos valores: "O mundo gira em torno dos inventores de novos valores". Assim como para Protágoras, também para Nietzsche o homem deve ser a medida de todas as coisas, deve criar novos valores e pô-los em prática. O homem embrutecido tem a espinha curvada diante das ilusões cruéis do sobrenatural. O super-homem "ama a vida" e "cria o sentido da terra", e é fiel a isso. Ai está sua vontade de poder.



o Conclusão: “Nietzsche era ele mesmo, uma negação viva ao que escreveu. Era um homem doente, de saúde instável, mórbido, que celebrou a exuberância de um corpo são; um tímido, que exaltou a coragem e a guerra; um cavalheiro com as damas, que desprezava as mulheres; alguém que fugiu do amor, mas quase se matou por causa dele; um fracote, que louvava a força e a musculatura; um míope, que se encantava com o olhar da águia, um trôpego civil, que admirava a bravura do militar, do soldado; um alemão, que dizia detestar os alemães, mas que durante muito tempo serviu-lhes frases e mais frases para alimentar a arrogância deles; um leitor voraz e um homem da cultura, que pregou as virtudes do instinto e da agressão; enfim, um impotente que celebrava a virilidade.”








· Ernst Cassier (1874-1945): Filósofo alemão, que emigrou para os EUA.

o Substância e o conceito de função: As ciências buscam relações funcionais e não substâncias. As ciências progrediram justamente porque deixaram de buscar substâncias e se dirigiram à pesquisa de leis, de relações funcionais.

o Formas simbólicas: Formas de compreensão do mundo (dão forma e sentido), ou seja, organizam a experiência, constituem modos de ver o mundo, criam mundos de significados.

§ Situação existencial: O homem doravante vive não só em uma realidade mais vasta, mas até em uma “nova dimensão da realidade”.

§ O homem superou os limites da vida orgânica. Os animais têm sinais; o homem produz símbolos. Ele “não vive mais em um universo apenas físico, mas em um universo simbólico. A linguagem, o mito, a arte e a religião são parte deste universo”.

§ É um dado de fato que “o homem não se encontra mais diretamente diante da realidade; por assim dizer, ele não pode mais vê-la face a face. A realidade física parece retroceder à medida que a atividade simbólica do homem avança”.

§ Homem deixa de ser animal rationale para tornar-se animal symbolicum. Definir o homem como animal rationale equivale a trocar a parte pelo todo. A “razão” é um termo pouco adequado “se quisermos abraçar em toda a sua riqueza e variedade as formas da vida cultural do homem”.

· Historicismo alemão: Pesquisa da autonomia e da validade cognitiva das ciências históricas (de tipo substancialmente kantiano). Que tipo de saber é o histórico? Qual é o seu método?

o Características essenciais:

§ A ideia de que a história é obra dos homens;

§ Exigência de que a pesquisa verse sobre fatos empíricos concretos;

§ Entendem a crítica kantiana (“como é possível a ciência?”) para além das ciências físico-naturais, isto é, para as ciências histórico-sociais;

§ O pesquisador não é o sujeito transcendental com categorias a priori, fixadas para a eternidade, mas é um homem concreto, historicamente condicionado.

· Wilhelm Dilthey (1833 —1911): Contrapõe a “natureza” e o “espírito”. Filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Dilthey lecionou filosofia na Universidade de Berlim. Considerado um empirista, o que contrastava com o idealismo dominante na Alemanha em sua época, mas sua concepção do empirismo e da experiência difere da concepção britânica de empirismo. Seus conceitos se originam da tradição literária e filosófica da Alemanha.

o Ciências do espírito:

§ Os fatos se apresentam à consciência a partir do interior.

§ Fundamento: Psicologia analítica.

o Ciências da natureza:

§ Os fatos se apresentam à consciência, ao contrário, a partir do exterior.

· Max Weber (1864 – 1920): Foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. A esposa de Max Weber, Marianne Weber, biógrafa do marido, foi uma das alunas pioneiras na universidade alemã e integrava grupos feministas de seu tempo. É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua influência também pode ser sentida na economia, na filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Começou sua carreira acadêmica na Universidade Humboldt, em Berlim e, posteriormente, trabalhou na Universidade de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na Universidade de Viena e na Universidade de Munique. Personagem influente na política alemã da época, foi consultor dos negociadores alemães no Tratado de Versalhes (1919) e da Comissão encarregada de redigir a Constituição de Weimar.

o Conceitos importantes:

§ Realidade: Ilimitada, infinita.

§ Sociologia: Descobridora de “conexões e regularidades” nos comportamentos humanos, organizando as leis dos fatos-históricos.

o Critério de cientificidade: Existe uma só ciência. Tanto nas ciências naturais como nas ciências histórico-sociais, temos conhecimento científico quando conseguimos produzir explicações causais.

§ Toda explicação causal é somente uma visão fragmentária e parcial da realidade investigada (por exemplo, as causas econômicas da Primeira Guerra Mundial).

§ Seleção dos fenômenos e hipóteses: se realiza tendo como referência os valores (princípio de escolha).

o Teoria do "tipo ideal": Construção intelectual com objetivos heurísticos (O Pensamento heurístico, vem do grego DESCOBERTA, não é uma verdade verificável, é circunstancial, portanto, não pode ser comprovada matematicamente. Muito útil na hora de resolver problemas de comunicação, a solução para o problema pode ser encontrada através de tentativas e erros). Com a finalidade de uma determinação e maior rigorização dos conceitos utilizados nas pesquisas histórico-sociais.

** → Acentuam-se, por exemplo, alguns traços da "economia citadina", do "padre católico" etc., traços "difusos e discretos, existentes aqui em maior medida e ali em menor, e por vezes também ausentes", e assim fazendo surge um modelo, um tipo-ideal ou modelo ideal-típico da economia citadina, ou do padre católico etc.; e tal tipo ideal serve para ver o quanto a realidade efetiva se afasta ou se aproxima do tipo ideal. O "tipo ideal" é um instrumento heurístico.

o Possibilidade Objetiva: Um fato histórico-social explica-se em geral por meio de uma constelação de causas. Como determinar o peso específico das causas particulares de um evento social? O historiador imagina um possível desenvolvimento do evento, excluindo justamente tal causa, e se pergunta o que teria acontecido se essa causa não tivesse existido, assim, determina o maior ou menor peso de uma causa particular.

** → Por exemplo: os fuzilamentos que na noite de março de 1848, em Berlim, iniciaram a revolução foram determinantes, ou a revolução teria igualmente acontecido? Em poucas palavras: constroem-se possibilidades objetivas, ou seja, juízos sobre como as coisas podiam acontecer, para compreender melhor como aconteceram.

o Ciência social é não-valorativa, ou seja, o homem de ciência, enquanto cientista, não deve emitir juízos de valor.

§ A ciência explica, não avalia;

§ Juízos de fato: Aquilo que é;

§ Juízos de valor: Aquilo que deve ser.

o A ética protestante e o espírito do capitalismo:

§ Desencantamento do mundo:

1. Não há comunicação entre o espírito finito e o espírito infinito de Deus.

2. Não é preciso mais agradar os espíritos para resolver os problemas; bastam razão e meios técnicos.

§ Capitalismo moderno deve sua força propulsora a ética calvinista.

1. Predestinação: Os calvinistas viram no sucesso mundano na própria profissão o sinal da certeza da salvação.

2. Os calvinistas se acharam o novo povo eleito. Em outros termos,o indivíduo é impelido a trabalhar para superar a angústia em que é mantido pela incerteza de sua salvação.

3. Deve-se economizar o tempo e a racionalizar os métodos de trabalho.

4. Conduta ascética: O crente deve desconfiar dos bens desse mundo.

5. Lucro: É incentivado racionalmente e deve ser reinvestido. A essa altura, está claro que trabalhar racionalmente em função do lucro e não gastar o lucro, mas reinvesti-lo continuamente, constitui comportamento inteiramente necessário ao desenvolvimento do capitalismo.






Max Weber (1864 – 1920) - Continuação:

o Weber e Marx: Weber inverte a tese do materialismo histórico de Marx (a estrutura econômica como fator determinante da superestrutura das ideias). Weber procura ampliar e desdogmatizar a posição marxista, mostrando sua unilateralidade intencional e dogmática.

§ Weber aceita que termos econômicos influenciam a história, mas rejeita a metafisicização e a dogmatização de tal perspectiva.

o Fé Religiosa: Sacrifíco do Intelecto.



Pragmatismo: Movimento filosófico que surge nos EUA no final dos século XIX. Do ponto de vista sociológico, o pragmatismo representa a filosofia de uma nação voltada com confiança para o futuro, enquanto do ponto de vista da história das ideias ele se configura como a contribuição mais significativa dos Estados Unidos à filosofia ocidental.

o Forma de empirismo - Experiência como abertura para o futuro, previsão e projeção, norma de ação. Com efeito, enquanto o empirismo tradicional, de Bacon a Locke, de Berkeley a Hume, considerava válido o conhecimento baseado na experiência e a ela redutível - concebendo a experiência como a acumulação e organização progressiva de dados sensíveis passados ou presentes -, para o pragmatismo a experiência é abertura para o futuro, é previsão, é norma de ação.;

o Charles Peirce (1839-1914): Versão lógica do pragmatismo.

§ Conhecimento é pesquisa que se inicia com a dúvida; É a irritação da dúvida que causa a luta para se obter o estado de crença, que é um estado de calma e satisfação. E nós procuramos obter crenças, já que são esses hábitos que determinam as nossas ações.

§ Apenas no estado de crença se tem calma e satisfação;

§ Métodos para fixação de crenças:

1. Da tenacidade - comportamento do avestruz (que se esconde quando confrontado), que só está seguro na aparência;

2. Da autoridade - de quem procura impor suas próprias ideias com a ignorância ou o terror;

3. Do a priori - método de diversas metafísicas que o filósofo reivindica como válido pela razão (O método a priori leva ao insucesso, porque "faz da pesquisa algo semelhante ao desenvolvimento do gosto", visto ser método que "não difere de modo essencial do método da autoridade");

4. O método científico - Único método correto (os três métodos precedentes [da tenacidade, da autoridade e do a priori] não se sustentam. Se quisermos estabelecer validamente as nossas crenças, segundo Peirce, o método correto é o método cientifico).

§ Fundamentos de raciocínio da ciência:

1. Dedução: raciocínio que não pode levar de premissas verdadeiras a conclusões falsas.

2. Indução: raciocínio que, sobre a base de certos membros de uma classe com certas propriedades, conclui que todos os membros daquela classe terão as mesmas propriedades (ex. cisne negro).

3. Abdução: para encontrar a solução de um fato surpreendente, devemos inventar uma hipótese da qual deduzir as consequências, que devem ser controladas empiricamente, isto é, indutivamente. Esse é o modo pelo qual a abdução mostra-se intimamente relacionada com a dedução e a indução. Por outro lado, a abdução mostra que as crenças cientificas são sempre falíveis, já que as provas experimentais sempre poderão desmentir as consequêcias de nossas conjecturas: "Para a mente cientifica, a hipótese está sempre in prova".

§ Regra pragmática: regra adequada para estabelecer o significado de um conceito.

1. "Um conceito se reduz a seus efeitos experimentais concebiveis".

§ "A verdade jaz no futuro"



o William James (1842-1910): Versão moral e religiosa do pragmatismo. "O pragmatismo é apenas um método".

§ Através do pragmatismo se alcança a clareza das ideias que se tem do objeto.

§ Concepção instrumental da verdade: A verdade de uma ideia se reduz à sua capacidade de operar. Desse modo, a veracidade das ideias era identificada com sua capacidade de operar, com sua utilidade, tendo em vista a melhoria ou a tornar menos precária a condição vital do individuo.

1. “Uma ideia é tornada verdadeira pelos acontecimentos”. Ela precisa ser constantemente assimilada, ratificada, confirmada e verificada. E "a posse da verdade, longe de ser fim, é apenas meio para outras satisfações vitais".

§ Contrário à velha psicologia racional (alma como substância separada do corpo e auto-suficiente), mas também contrário associacionismo (redução da vida psíquica à combinação de sensações elementares) e ao materialismo (fenômenos psíquicos da matéria cerebral). Fórmula spenceriana, segundo a qual "a essência da vida mental e a essência da vida corporal são idênticas, ou seja, 'a adaptação das relações internas às externas' ". Essa fórmula pode ser considerada a encarnação da generalidade - comenta James - mas, "como considera o fato de que as mentes vivem em ambientes que agem sobre elas e sobre as quais elas por seu turno reagem, já que, em suma, ela põe a mente no concreto de suas relações, tal formula é imensamente mais fértil do que a velha 'psicologia racional', que considerava a alma como coisa separada e autosuficiente, e pretendia estudar somente sua natureza e prioridade".

1. Mente: Instrumento dinâmico e funcional para a adaptação ao ambiente;

** → Conceber a mente como instrumento de adaptação ao ambiente foi a ideia que levou James a ampliação do objeto de estudo da psicologia: esse objeto não diria mais respeito somente aos fenômenos perceptivos e intelectivos, e sim também aos condicionamentos sociais ou fenômenos como os concernentes ao hipnotismo, a dissociação ou ao subconsciente.

§ Questões morais: Deve-se consultar as "razões do coração". A ciência pode nos dizer o que existe ou não existe. Mas, para as questões mais urgentes, devemos consultar as "razões do coração'.

1. Valores não podem ser definidos recorrendo às experiências sensíveis - "As questões morais, antes de tudo, não são tais que sua solução possa esperar prova sensível. Com efeito, uma questão moral não é uma questão do que existe, mas daquilo que é bom ou seria bom que existisse";

2. Fatos físicos existem ou não existem e, enquanto tais, não são nem bons nem maus. "O ser melhor não é relação física".

3. Bem e mal só existem em referência ao fato de que satisfazem ou não as exigências dos indivíduos.

4. Critério para escolha de valores: Ideais que, se realizados, impliquem a destruição do menor número de outros ideais e o universo mais rico de possibilidades.

§ Experiência religiosa: Coloca o homem em contato com uma ordem invisível (sagrado) e muda sua existência. Aliás, para James, a experiência mística deve ser defendida pela filosofia. Aqui podemos ver como James passa da descrição à avaliação da experiência mística, considerada como acesso privilegiado, inacessível pelos meios comuns, ao Deus que potencializa nossas ações e que é "a alma e a razão interior do universo", de um universo pluralista, onde Deus (que não é o mal nem o responsável pelo mal) é concebido como pessoa espiritual que nos transcende e nos convoca a colaborar com ele.


LISTA DE EXERCÍCIOS 1 - GABARITO

Questão Um - Destaque abaixo três características básicas do Romantismo Alemão, fazendo um breve comentário de cada uma delas.

1. Sehnsucht ("anseio"): Desejo irrealizável porque aquilo que se anseia é o infinito, que é o sentido e a raiz do finito. Gera um senso de pânico de pertencer ao uno-todo e sentir que se é um momento orgânico da totalidade. 2. Subjetivismo: Assuntos tratados de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. 3. Natureza como grande organismo: Sai da concepção mecanicista-iluminista e é interpretada como "jogo móvel de forças que gera todos os fenômenos, compreendendo o homem e, portanto, esta força e a própria força do divino". Outras características: Crítica ao iluminismo, tendências idealistas, revalorização da religião, nacionalismo, grecidade, etc.


Questão Dois - Escolha um dos principais filósofos românticos alemães estudados no curso e comente os argumentos que você considera mais interessante. 

Vide cronograma de aula.

Questão Três - Explique os conceitos de "eu-puro" e do "não-eu", que são básicos para o entendimento do idealismo do filósofo alemão Fichte.

O "Eu puro" é o princípio primeiro e absoluto, sendo que dele deduz-se toda a realidade (idealismo) - “Intuição pura, que se autopõe (se autocria) e, autopondo-se, cria toda a realidade, e na relativa identificação da essência desse Eu com a liberdade”. O "não-eu" é a natureza em geral, compreendida como reino dos limites, sendo posto (criado, produzido) inconscientemente pelo "Eu-puro", através da imaginação produtiva (Kant) que nada mais é do que a atividade infinita do Eu que, delimitando-se continuamente, produz aquilo que constitui a matéria do conhecimento humano.

Questão Quatro - Fichte, na sua Doutrina da Ciência, propõe um sistema filosófico que será básico para qualquer filosofia idealista futura, principalmente na do filósofo alemão Hegel. Explique, sumariamente, essa nova proposta.

Fichte propõe um sistema filosófico que unificassem as três críticas de Kant; Primeiro princípio (Afirmação): O Eu põe absolutamente a si mesmo, a intuição intelectual, autocriação absoluta, este é o momento da liberdade e da tese; Segundo princípio (Negação): O Eu opõe absolutamente a si mesmo, dentro de si, um não-eu. Este é o momento da necessidade e da antítese; Terceiro princípio (Limitação): No Eu absoluto, o eu limitado e o não-eu limitado se opõem e se limitam reciprocamente. E este é o momento da síntese. Sistema que continua de forma sucessiva através da liberdade (poder absoluto de determinar) ao Absoluto (Infinito).

Questão Cinco – Explique o conceito de filosofia da natureza, de Schelling.

"O sistema da natureza é, ao mesmo tempo, o sistema de nosso espírito".  Deve-se aplicar à natureza o mesmo modelo de explicação que Fichte aplicara ao espírito (TESE-ANTÍTESE-SÍNTESE). Aquilo que explica a natureza, é a mesma inteligência que explica o Eu. "O mesmo princípio une a natureza inorgânica e a natureza orgânica". A natureza é produzida por uma inteligência inconsciente (alma do mundo), que opera em seu interior e se desenvolve teleologicamente em graus, que mostram uma finalidade intrínseca e estrutural. A natureza é o espírito visível, o espírito a natureza invisível. Homem é fim último da natureza, porque nele precisamente desperta o espírito.

Questão Seis – Qual o entendimento de “substância” para Hegel?

Hegel rejeita o conceito tradicional de “substância”. Para ele a realidade e o verdadeiro não são “substância” (ou seja, um ser mais ou menos enrijecido, como tradicionalmente era considerado no mais das vezes), e sim "sujeito", ou seja, "pensamento", "espírito". Sendo ainda que a existência do finito é puramente ideal ou abstrata, não existe por si só, contra o infinito ou fora dele. O finito é gerado como determinação do espírito. Cada momento do real é momento indispensável do Absoluto.

Questão Sete – No que consiste a idéia de Absoluto em Hegel?

Espírito absoluto, Ideia que se realiza e se contempla através do seu próprio desenvolvimento; e tem em si o princípio do seu próprio desenvolvimento e, em função dele, primeiro se objetiva e se faz natureza, "alienando-se", e depois, superando essa alienação, retorna a si mesmo. Movimento próprio do Espírito (movimento do refletir-se em si mesmo - circularidade): 1º movimento: Ser "em si" (= logos); 2º movimento: "Ser outro" ou "fora de si" (= natureza); 3º movimento: "Ser em si e para si" (= espírito). Qualquer coisa que exista ou aconteça não está fora do Absoluto, mas é um seu momento insuprimível. 

Questão Oito - O que á a Fenomenologia do Espírito proposta por Hegel?

Ciência do espírito. Caminho que leva ao absoluto (lembrando que o finito não se separa do infinito). É o aparecer do próprio espírito em diferentes etapas, que, a partir da consciência empírica, pouco a pouco se eleva a níveis sempre mais altos; É o reentrar em si pelo ser-outro. O objetivo da Fenomenologia é anulação da cisão entre consciência e objeto. A Fenomenologia segue um itinerário que é a mediação progressiva da oposição sujeito-objeto, até sua total superação (Consciência, auto-consciência, razão, espírito, religião, saber absoluto).

Questão Nove – Quais as principais diferenças de entendimento entre os movimentos chamados de “direita” e “esquerda” hegeliana?

A direita hegeliana radicalizou o sistema, exaltando o Estado prussiano como o ponto de chegada da dialética, como a realização máxima da racionalidade do espírito (justificação do Estado existente), também exaltando ao cristianismo, afirmando que a filosofia de Hegel adéqua a religião ao pensamento moderno (Escolástica do hegelianismo). Já a esquerda hegeliana podou e redimensionou amplamente o sistema, afirmando que a dialética histórica deveria negar e superar os atuais estados políticos e a religião deveria ser substituída pela filosofia. 

Questão Dez – No que consiste a proposta humanista de Feuerbach?

Feuerbach substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". E, assim, pretende substituir a moral que recomenda o amor a Deus pela moral que recomenda o amor ao homem em nome do homem. Essa é a intenção do humanismo de Feuerbach: a de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens, "de homens que crêem em homens que pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em estudiosos do aquém, de cristãos - que, por seu próprio reconhecimento, são metade animais e metade anjos - em homens em sua inteireza".

Questão Onze – Destaque três das principais críticas feitas por Karl Marx.

Hegel: Ideologia para legitimar o estado existente, inverte o sujeito/ predicado, transformando o sujeito em substância espiritual, além de transformar o espiritualismo político em materialismo; Esquerda alemã: Conservadorismo camuflado, combatendo apenas contra "frases" e não contra o mundo real, apenas mais ideólogos como Hegel, pregando um radicalismo fraco e mantendo a teoria separada da práxis; Economia clássica: Transformam fato em lei eterna, absolutizando e justificando um sistema exploratório de relações existentes entre burgueses e operários (que sempre perde), pois o capital cria a propriedade privada dos produtos do trabalho alheio.

Questão Doze – No que consiste o materialismo histórico e o materialismo dialético proposto por Marx?

Materialismo histórico é a teoria segundo a qual a estrutura econômica (infra-estrutura) determina a superestrutura das idéias, sendo a infra-estrutura todo aparato de condições que permite haja a produção de bens e serviços e a superestrutura a estrutura jurídica (o Direito e o Estado) e a ideologia (moral, política, religião, artes etc.). Já o materialismo dialético é a lei de desenvolvimento da realidade histórica e exprime a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a comunista (com fim da exploração e da alienação). A alienação é a condição histórica em que o homem se encontra em relação à propriedade privada dos meios de produção.

Questão Treze – Como se anula a dor, na filosofia de Schopenhauer?

Rompendo com a servidão à vontade. A essência do mundo é vontade insaciável que gera conflito e dilaceração e, portanto, dor. A vontade é a essência do ser humano e a vida oscila entre a dor e o tédio. A arte provê momentos raros e breves de libertação da dor, pois objetiva a vontade e quem a contempla está, de certo modo, fora dela. Também na ascese se obtém a liberdade da dor da vida e a redenção total do homem, pois suprime-se no homem a vontade de viver. O primeiro passo na ascese, ou na negação da vontade, é a castidade livre e perfeita. A castidade perfeita liberta da realização fundamental da vontade no seu impulso de geração. 

Questão Quatorze – Qual a importância do conceito de “indivíduo”, dentro da crítica feita por Kierkegaard à Hegel?

É o indivíduo que constitui a única alternativa válida ao hegelianismo, pois é a contestação e a rejeição do sistema (que Kierkegaard considerava cômico). O indivíduo é o baluarte da transcendência, original, irredutível, irrepetível e insubstituível. "O 'indivíduo' é a categoria através da qual devem passar, do ponto de vista religioso, o tempo, a história, a humanidade". Critica os principais sistemas filosóficos que se interessam pelos conceitos e não pela existência. No mundo humano o indivíduo é superior a espécie, diferentemente do mundo animal. E a lei da existência (instituída por Cristo), relaciona o indivíduo com Deus, freando a confusão panteísta e imanentista.

Questão Quinze – Como os conceitos de “angústia” e “desespero” se relacionam no existencialismo kierkegaardiano?


A angústia para Kierkegaard é o puro sentimento do possível, é o sentido daquilo que pode acontecer e que pode ser muito mais terrível do que a realidade, possibilidade da liberdade (que forma "o discípulo da possibilidade" e prepara o "cavaleiro da fé", destruindo finitudes). A existência é possibilidade e, portanto, angústia (o homem é o que escolhe ser, é aquilo que se torna). Já o desespero é o sentimento próprio do homem em sua relação consigo mesmo (doença mortal). Se a angústia é típica do homem em seu relacionamento com o mundo, o desespero é próprio do homem em sua relação consigo mesmo, tendo como causa principal não querer aceitar-se das mãos de Deus. 

LISTA DE EXERCÍCIOS 2 - GABARITO

Questão Um - Destaque abaixo três características básicas do movimento chamado “Positivismo”.

1. Reivindica o primado da ciência: somente as ciências provêem conhecimento. O método das ciências naturais, (que identificação das leis causais e seu domínio sobre os fatos) não vale somente para o estudo da natureza, mas também para o estudo da sociedade. Sociologia é fruto qualificado do programa filosófico positivista. A ciência como único meio de resolver todos os problemas humanos e sociais. Otimismo geral e certeza no progresso irrefreável, rumo a condições de bem-estar generalizado em uma sociedade pacífica e penetrada pela solidariedade humana. Combate às concepções idealistas e espiritualistas da realidade (metafísicas dogmáticas).

Questão Dois – No que consiste a doutrina da ciência, proposta por August Comte?

Na doutrina da ciência, a ciência tem por objetivo apenas a pesquisa das leis e dos fenômenos, sendo apenas ela capaz de fornecer ao homem o domínio sobre a natureza (Bacon e Descartes). Consequentemente, a sociologia científica (Física Social) afirma que os fenômenos sociais são guiados por leis, assim como os fenômenos físicos, sendo o conhecimento feito de leis provadas, baseados nos fatos.  Os caminhos para alcançar o conhecimento sociológico são a observação, o experimento e o método comparativo e os homens vivem em sociedade porque isso integra sua natureza social, não havendo necessidade de nenhum "contrato social", como queria Rousseau.

Questão Três - Explique a seguinte frase de Stuart Mill: “Toda inferência é de particular para particular”.

Para Mill, existe um problema na lógica indutiva. Os silogismos são cadeias de proposições que geram um conhecimento estéril, pois não aumenta nosso conhecimento (como os juízos analíticos – Kant). Apenas a experiência extrai a verdade de uma proposição, pois todo conhecimento é de natureza empírica, até as proposições das ciências dedutivas, como a geometria. Portanto, “toda inferência é de particular para particular” e a única justificação do “isso será” é o “isso foi” (como Hume). Para resolver esse problema (da indução), resta apenas a analogia com a uniformidade da natureza, garantia para todas as nossas inferências a partir da experiência.

Questão Quatro – Qual a diferença entre o pensamento utilitarista de Stuart Mill e o de Jeremiah Bentham?

Ambos concordavam com o princípio fundamental do utilitarismo: a máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas, porém, Mill criticou Bentham em relação ao modo de se sentir prazer. Para Bentham, no domínio da moral, os únicos fatos que verdadeiramente contam são o prazer e a dor e alcançar o prazer e evitar a dor são os únicos motivos de ação. Já para Mill, a quantidade não deve ser mais importante que a qualidade do prazer ("É preferível ser um Sócrates doente do que um porco satisfeito").

Questão Cinco – Qual a resposta proposta por Stuart Mill, para resolver o chamado “problema do mal”?

Mill aceitava a concepção deísta, pois, a ordem do mundo comprovaria uma inteligência ordenadora, porém, não seria um Deus Todo Absoluto. Mesmo que Deus seja o criador da matéria, não é autorizada a afirmação de onipotência e onisciência divina. Deus, portanto, depende do homem para por ordem no mundo e, como não “pode tudo”, não teria como eliminar o mal no mundo.

Questão Seis – No que consiste o positivismo evolucionista?
Proposto por Herbert Spencer, procurava aplicar as leis da evolução a todos os níveis da atividade humana, entendendo por evolução "uma integração de matéria acompanhada por dispersão de movimento, em que a matéria passa de uma homogeneidade indefinida e incoerente para uma heterogeneidade definida e coerente, ao passo que o movimento contido sofre uma transformação paralela". Na biologia, o evolucionismo consistiria na adaptação de organismos ao ambiente, e a seleção natural favorece a sobrevivência do mais hábil; na psicologia, o que é a priori para o indivíduo é a posteriori para a espécie; Na Sociologia a sociedade existe para os indivíduos e não vice-versa.


Questão Sete – Por que Nietzsche é considerado um grande crítico da metafísica?

Para Nietzsche, os metafísicos se escondiam atrás de uma grande camuflagem, sendo a primeira delas o idealismo (que cria um "antimundo"); o positivismo (cuja pretensão de enjaular solidamente a vasta realidade em suas pobres malhas teóricas é ridícula e absurda); os redentorismos socialistas das massas ou através das massas; e também o evolucionismo (aliás, "mais afirmado do que provado").

Questão Oito - Quais as principais críticas feitas por Nietzsche ao cristianismo?

O cristianismo seria a moral dos escravos, dos fracos e dos vencidos ressentidos contra tudo o que é nobre, belo e aristocrático. Também perverteria o indivíduo ao obrigá-lo perder seus instintos, escolher e preferir o que lhe é nocivo. Através da compaixão, que tira força do indivíduo e bloqueia maciçamente a lei do desenvolvimento, que é a lei da seleção.                Os padres são prisioneiros e marcados que precisam ser redimidos de seu redentor. Também afirmou que o Evangelho ficou "suspenso na cruz", ou melhor, transformou-se em Igreja, em cristianismo, principalmente com a ajuda de Paulo, que "foi o maior de todos os apóstolos da vingança".

Questão Nove – Qual a relação entre os conceitos de “moral” e “niilismo” para Nietzsche?

A Moral teria sido criada apenas para dominar os outros, existindo duas: Moral aristocrática (dos fortes, que nasce da afirmação triunfal de si) e a moral dos escravos (dos fracos e malsucedidos, subvertida e fruto do ressentimento aos fortes). Portanto, o niilismo seria uma "consequência necessária do cristianismo, da moral e do conceito de verdade da filosofia", pois seria o “abismo do nada” que sobra após a perda da máscara das ilusões. Ao cair da máscara, descobre-se que não há valores absolutos, aliás, os valores são desvalores, de que não há uma ordem, não há um sentido. O que haveria seria apenas a necessidade da vontade.

Questão Dez – Como se pode definir o super-homem de Nietzsche?

O homem novo, que abandona as velhas cadeias e cria um novo sentido da terra, reconquistando o espírito de Dioniso. Homem que vai além do homem, renegando as coisas celestes. Homem cujos valores são a saúde, vontade forte, o amor, a embriaguez dionisíaca e um novo orgulho. Homem que anuncia a morte de Deus e a transmutação de todos os valores de que a tradição nos carregou. Principal mensagem de Zaratustra, pregar o super-homem.

Um comentário:

  1. Porque aquele que duvida e não investiga se torna, então, não só infeliz, mas também injusto.(PASCAL)

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